Do sucesso à quase falência: os clubes paulistas em queda livre

Do sucesso à quase falência: os clubes paulistas em queda livre

Paulista, Barueri e Guaratinguetá tiveram sucesso relativamente recente no futebol, e terminaram rebaixados no estadual de 2016.

COMPARTILHAR

Manter-se no topo não é tarefa fácil para clubes regionais brasileiros. Os gastos são elevados, e praticamente não há retorno financeiro. Na estrutura atual, o futebol basicamente não se paga sozinho. É preciso investimento externo, e sem esperança de lucro.

Com isso, o carrossel futebolístico não para. Um dia, o clube está no topo; em outro, está para fechar as portas. Sem perspectiva de retomar os tempos áureos, que, curiosamente, não estão tão distantes assim.

Nesta temporada, essa dura realidade chegou com força para Paulista, Barueri e Guaratinguetá. O Galo jundiaiense foi rebaixado à Série A3 do estadual; Já os dois últimos chegaram à Segunda Divisão – a última de São Paulo.

Paulista não resistiu e acabou rebaixado para a Série A3 (Foto: Gustavo Amorim/Paulista FC)
Paulista não resistiu e acabou rebaixado para a Série A3 (Foto: Gustavo Amorim/Paulista FC)

Há exatos dez anos, o Paulista disputava a Copa Libertadores pela primeira vez em sua história. Integrou o grupo 8, ao lado de River Plate, Libertad e El Nacional-EQU. Terminou em último, mas esteve longe de passar vergonha. Conseguiu seis pontos, igualando os equatorianos e ficando a três dos argentinos. A vaga veio pela histórica conquista da Copa do Brasil, em 2005.

O ponto mais emblemático, porém, aconteceu no Jayme Cintra, em Jundiaí. Recebendo o tradicionalíssimo River Plate, o time da casa não era nem um pouco favorito. No jogo de ida, em Buenos Aires, havia perdido por 4 a 1.

Mas o início foi arrasador. Empurrado pela torcida, o Galo abriu 2 a 0 com 17 minutos de jogo, com gols de Amaral e Jaílson. Um minuto depois, o River diminuiu com Patiño. Mas a defesa funcionou e o Paulista segurou o épico 2 a 1 até o fim.

Na Série B de 2006, a boa fase se manteve. O Paulista esteve a cinco minutos de subir pela primeira vez à Série A, tendo vencido o Brasiliense com um valente 4 a 3. Mas o América-RN arrancou um empate no fim com o Atlético-MG, empatou em número de pontos com os tricolores e subiu pelo número de vitórias.

A partir disso, a boa fase acabou. O clube sofreu para administrar a rápida ascensão, perdeu jogadores e investidores, e foi rebaixado no ano seguinte para a Série C. Em seguida, caiu para a Série D. Não conseguiu reconquistar o acesso em 2009, ano do centenário, e desde então jamais voltou a disputar o Brasileirão.

O Paulista ainda foi campeão da Copa Paulista em 2010 e 2011, mas fez campanhas de pouco destaque na Série A1 paulista durante esse período. Em 2014, porém, as coisas desandaram de vez. A equipe fez uma das piores campanhas da história do estadual, e retornou à A2.

A diretoria mudou, veio o Novo Paulista. O discurso é de sustentabilidade financeira, reestruturação do clube a longo prazo. Mas a ausência de investidores, impulsionada pela crise econômica, não ajudou. Fez uma campanha mediana em 2015.

Em 2016, o clube quase ficou de fora do estadual por não conseguir pagar a inscrição. Em desespero, aceitou uma parceria estranha com investidores de fora.  Eles impuseram a presença do desconhecido português Paulo Fernandes como técnico. Os pagamentos não foram feitos corretamente, a parceria foi desfeita e o comandante deixou o clube tendo disputado apenas a primeira rodada.

Muito irregular em campo, o clube não resistiu. Com seis rebaixados nesta edição, terminou em 15º e agora disputará a Série A3. O futuro do clube é nebuloso. Há grandes chances de a equipe abrir mão de disputar a Copa Paulista no segundo semestre. E até mesmo a presença na A3 de 2017 é incerta. Falta dinheiro.

Se no Paulista as coisas vão mal, a situação do Barueri é muito mais grave. Bem menos tradicional, tendo sido fundada em 1989, a equipe teve ascensão meteórica, alcançando o acesso à Série A do Brasileirão em 2008. No ano seguinte, fez campanha razoável, tendo se classificado para a Sul-Americana.

Só caiu em 2010, como Grêmio Prudente. Mudou de cidade por divergências com a prefeitura de Barueri. A troca não fez bem. O time perdeu investidores, torcedores, e terminou na lanterna do Brasileirão. No Paulista, contudo, conseguiu sua melhor campanha: 3º lugar.

Em 2011, o clube foi vendido e voltou a Barueri. Mas já era tarde. Já tinha sido rebaixado para a Série A2 do Paulista, e, em 2012, foi para a Série C. Da C para a D em 2014. Sem divisão em 2015. Disputou somente a Série A3. Ascensão meteórica, queda meteórica.

Neste ano, a coisa desandou de vez. Em dezenove rodadas, o clube não conseguiu um ponto sequer. Marcou oito gols e sofreu 78. Era constantemente goleado, incluindo o vexatório 10 a 0 sofrido para o Nacional. Ainda passou pelo constrangimento de dar WO na primeira rodada, por não ter conseguido se inscrever. O Barueri tem grandes chances de fechar as portas definitivamente nos próximos meses.

O Guaratinguetá não obteve o mesmo sucesso de Paulista e Barueri, mas chegou a ser quarto colocado no Paulistão em 2008. Além disso, disputou a Série B nacional por quatro anos consecutivos, entre 2010 e 2013. Algo louvável para um clube fundado em 1998.

Passou pela mesma situação do Barueri, mudando de cidade. Trocou Guaratinguetá por Americana em 2011. A mudança durou somente um ano, e o clube voltou ao Vale do Paraíba no ano seguinte.

Caiu para a A2 em 2009, mas retornou em 2010. A queda definitiva aconteceu em 2012. Em 2013, veio o descenso para a Série C do Brasileiro. Está lá até hoje, embora tenha chegado muito perto do rebaixamento no ano passado.

Mas as perspectivas não são boas. O clube fez péssima campanha na A3 desse ano, terminou em 17º e caiu para a B. Será um dos raros clubes da segunda divisão a disputar o Campeonato Brasileiro. Desde já, entretanto, pode ser considerado favorito para o rebaixamento na Série C.

Essas crises são, em grande parte, resultado de administrações ruins, de falta de investidores, de insucesso esportivo. Mas também podem ser colocadas na conta da política predatória da Federação Paulista de Futebol. Não há parceria com os clubes. Não há preocupação com a melhora do espetáculo, a fim de atrair mais público. Pensa-se somente em arrecadação – que está cada vez mais escassa.

Deixe seu comentário!

comentários