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De Xavi para Messi: Uma carta que vale tanto quanto uma Bola de Ouro

Craque espanhol se derreteu em elogios ao genial argentino em carta publicada no jornal El País

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Messi e Xavi: sintonia de craques (Foto: Reprodução/Twitter)
Messi e Xavi: sintonia de craques (Foto: Reprodução/Twitter)

Muita gente coloca a excelência profissional como um objetivo a ser conquistado na vida. No entanto, muitas vezes é difícil mensurar o nível de competência alcançado. O que será que importa mais: o dinheiro conquistado? Estabilidade no trabalho? Conseguir fazer o que mais gosta?

Provavelmente tudo isso, e mais um item importante: o respeito e a admiração de seus colegas de profissão. Lionel Messi, além de um gênio com a bola nos pés, pode se considerar um privilegiado por poder marcar todos os quesitos acima com um sinal de positivo.

Não chegou a ser surpresa para ninguém quando o brasileiro Kaká chamou o nome do argentino ao anunciar a Bola de Ouro na cerimônia de ontem, realizada na Suíça. Torcedores, jornalistas e jogadores já cansaram de aplaudir o desempenho absurdo de Messi nos campos.

Antigo companheiro de Messi no Barcelona, o também genial Xavi teria motivos até mesmo para invejar o argentino. Afinal, mesmo no auge de sua carreira repleta de títulos, acabou ofuscado pelo brilho do colega no clube catalão. Mas Xavi sempre pensou com sabedoria, e sabe que estar ao lado de Messi é muito melhor que enfrentá-lo.

Hoje, o jornal espanhol El País publicou uma carta em que o espanhol se derrete em elogios para o camisa 10. Uma forma bonita de mostrar que um talento como o de Messi não pode simplesmente ser ignorado, principalmente por quem ama futebol. Confira na íntegra:

Obrigado, Leo

Conheci Leo quando chegou ao vestiário do time principal, com 16 anos, mas já sabia dele desde antes. Sergi Alegre, um grande amigo que trabalhou muitos anos no futebol de base do Barcelona, me avisou um dia enquanto estávamos comendo: “Xavi, está subindo gente muito boa”, me disse, falando sobre a geração de Piqué, Cesc e companhia. “Mas tem um argentino que você nem imagina. Espetacular. Você vai ver”, me disse.

Foi assim que, por boatos, sabia quem era quando o vi aparecer no vestiário. Já era visto de um jeito diferente, claro, porque tem coisas que se notam de primeira. E Leo, além de tudo, tinha algo que é o mais difícil: entendia o jogo, sabia passar e driblava quem estivesse em sua frente; o melhor defensor que tínhamos na equipe ficaria no chão.

Pouco depois de sua chegada, no seu primeiro ano, compartilhamos uma viagem e descobri um menino educado, respeitoso, humilde, nada arrogante. E nisso ele é exemplar, porque mesmo sendo o que é agora, o maior de todos, não perdeu esses valores, nem um pingo de humildade e respeito aos companheiros. Creio que Leo nunca quis ser diferente dos demais.

Ele era diferente, mas só tinha 16 anos, então mesmo pensando que ele seria bom, sabia que o futebol é muito complicado, que muitas coisas intervém, e nunca imaginei que ele se converteria no melhor jogador da história. Desde que o conheci, não deixou de evoluir em nenhum sentido. Melhorou o que já tinha, e se tornou, além disso, um goleador.

Antes não fazia tantos gols, e agora coloca todas pra dentro, bate faltas… E como disse Pep, domina todas as facetas do jogo. Não voltaremos a ver nada parecido. Não apenas pelo que é capaz de fazer, mas também pelo tempo que vem fazendo. Outros duraram dois anos, três. Ele não parece ter fim.

A sorte que nós, culés, tivemos foi que veio para Barcelona. Sem ele, o Barça não seria o mesmo, é a pedra fundamental de todos os êxitos do clube nos últimos dez anos. E isso é uma coisa que não posso deixar de falar de Leo, porque é digno de elogio: Pode ter um ano bom, ou dois, mas continuar assim por tanto tempo mostra um caráter vencedor próprio de alguém tão perfeccionista, que nunca pensa que é suficiente, que se faz dois, quer três. E isso todo mundo vê nas partidas, porque durante a semana é igual. Faz com que todos que o rodeiam sejam melhores, porque exige que estejam à altura.

Esse caráter o faz dar sermões monumentais por perder uma partida. Ou a se entristecer muito, porque sempre quer ganhar. Nada o machuca mais que uma derrota. Me lembro dele desolado no dia que perdeu um pênalti contra o Chelsea e nos eliminaram da Champions. Mas também quando errou contra o City, mesmo com nossa vitória por 3×1. Você diz que não tem nada de mais e ele responde “Tem sim. Falhei.”

Está certo, houve dias em que o vi bravo consigo mesmo, com tudo o que tinha ao redor e com o mundo em geral, mas quem nunca? Além disso, não deve ser fácil ser o número um, e em 99,9% das vezes ele lida com isso maravilhosamente. Assim, está mais que desculpado, porque compensa com a felicidade que contagia a qualquer um que gosta de futebol.

Pessoalmente, me considero seu amigo. Como pessoa, é introvertido. Custa a se abrir, mas quando conquista a confiança é muito divertido e brincalhão. Tem um senso de ironia muito bom. E um coração enorme, é um cara muito legal. Sempre tem um momento para ajudar quem precisa. “Ei Leo, um amigo me pediu umas chuteiras para uma fundação infantil…”. Ele as tira, as junta e te dá de presente. Sempre.

Mas o que mais valorizo é que é um cara legal. Não te engana nunca. Tem um caráter forte e quando não gosta de algo, não gosta. E não tente convencê-lo. Mas ele te diz isso cara a cara. Com ele, sempre tenho a sensação de que nunca serei traído. Se tem que me dizer algo, me diz, e sei que não vai me apunhalar. Messi só engana defensores e goleiros. E isso eu valorizo muito. Nesse sentido, somos muito parecidos. Obrigado por isso, Leo.

E obrigado por jogar como joga, pelos seus arranques, seus gols, seus passes e seus dribles, pelo que tem dado ao Barça e ao futebol. E por ser como é.

E parabéns por outra Bola de Ouro. Você mereceu.

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Jornalista, 23 anos. Amante do futebol bonito e praticante do futebol feio