Nove minutos do primeiro tempo. O estádio entra em erupção de celebração, e as centenas de pessoas que estão do lado de fora aguardando para entrar ficam em dúvida se já saiu gol da equipe da casa, incluindo o integrante do Alambrado que escreve este texto.
A cena aconteceu pelas oitavas de final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, no Jayme Cintra, no último sábado (14). Mais de dez mil pessoas compareceram ao duelo que sacramentou a classificação do Paulista, após vitória sobre o São Carlos por 2 a 1.
Os números não são precisos pois não houve contagem por parte da Federação, já que a entrada é franca. Mas quem esteve no local presenciou: a fila para entrar literalmente deu a volta ao estádio, e com mais de 20 minutos de bola rolando, diversas pessoas aguardavam a revista da Polícia Militar para se acomodar na arquibancada.
O público muito acima do normal contrasta com os modestos números da Série A2 do ano passado, quando o número de ingressos vendidos pelo Paulista mal beirava mil por jogo. Por que, afinal, a população de Jundiaí abraçou um time sub-20 desde o início do campeonato? E a cena não é só em Jundiaí. É em todas as sedes.
“O ingresso é muito caro, né”, respondeu um senhor ao meu lado na arquibancada a um torcedor que perguntou se o Jayme Cintra ia encher daquele jeito quando começar a A3 do estadual. “Ninguém vai pagar 50 reais para ver um jogo daqueles”, complementou.
A resposta curta e sincera justifica dois pontos principais que a Copinha tem tentado nos ensinar, ano após ano: preço dos ingressos e formato de competição são os dois maiores obstáculos para que os estádios voltem a atrair as pessoas.
No ano passado, para quem paga inteira, o valor mínimo do ingresso da Série A2 do Paulistão custava R$ 40,00. Exatamente o mesmo que o piso estabelecido pela Federação para a elite estadual. Na A3, o piso é menor: 20 reais.
O fator meia-entrada pode colaborar para a elevação do preço, mas o que prevalece é a extrema falta de bom senso da entidade. Estádios cheios podem render não apenas um lucro maior, como também fazer muito bem para a imagem da competição.
O segundo ponto é um tabu. A principal receita de sucesso para a Copa São Paulo é justamente o formato de Copa do Mundo, com uma curta fase de grupos e uma extensa fase de mata-mata de jogos únicos.
Com isso, todos os jogos trazem a sensação de tudo ou nada. É de fato o que mais atrai o público brasileiro aos estádios, historicamente, algo que ainda será mais explorado pelo Alambrado no futuro.
E os jogos?
Se o Paulistão aproveitasse o formato da Copinha, por exemplo, os clubes alegariam o risco enorme de fazer poucos jogos na temporada, especialmente aqueles que não disputam o Brasileirão. Isso, segundo os dirigentes, fecharia os clubes.
Mas e se houvesse uma “Série E” do Brasileirão, que nada mais fosse que um campeonato estadual que desse vaga à Série D ao campeão? Aos melhores colocados, acesso à “Copa Estadual” – o tradicional estadual, disputado em formato de Copa do Mundo, com 32 clubes.
Por que insistir em tantas maçantes divisões inferiores, tão menos interessantes? E que sequer dão oportunidade para quem está na Segunda Divisão, por exemplo, sonhar em disputar um torneio nacional um dia?
A falácia dos jogos contra os grandes
Outro argumento muito comum é de que os jogos contra os grandes mantêm os pequenos. Mas basta pegar os números do ano passado para ver que não é bem assim.
O melhor público de um grande contra um pequeno foi no duelo entre Botafogo-SP e Palmeiras, com 18.635 pagantes. Longe de lotar, já que estádio conta com capacidade liberada de 29 mil lugares.
O detalhe, porém, é que se tratava da estreia dos times na competição. Um jogo que naturalmente atrai interesse, já que há curiosidade em saber como os times iniciam a temporada, após férias e reformulações. No caso do Palmeiras, era a chance de ver os campeões da Copa do Brasil.
Mas esse interesse foi caindo vertiginosamente, a ponto de Água Santa x Palmeiras, disputado em Presidente Prudente, contar com apenas 2.821 testemunhas, Ponte Preta x São Paulo ter 4.998, Rio Claro x Santos 1.926, e Audax x Corinthians somar 6.399 pagantes.
Mas e para a detentora dos direitos? Não vale apenas quem liga a TV? Vale, mas a presença de público no estádio é um ótimo medidor estatístico para a audiência televisiva. Quanto mais cheio o estádio, mais relevante é o jogo, e maior é a audiência.
Mesmo os clássicos tão exigidos pela TV, responsável pelo atual ridículo formato do Paulistão, são um fracasso na maioria das vezes. Santos e São Paulo na Vila, por exemplo, atraiu apenas 6.239 torcedores. Na fase seguinte, em partida de tudo ou nada, a Vila recebeu quase o dobro para Santos x São Bento: 12.051.
É tudo uma questão de debater o tema, trazer ideias, discutir formatos. Potencial, existe. A Copinha está aí para mostrar.