A carreira de Ricardo Gareca é repleta de mudanças. Embora tenha sido um notável atacante com passagens por Boca Juniors, River Plate e América de Cali-COL, ele começou a jogar como goleiro ainda criança, tendo passado depois pelo meio de campo até se estabelecer no setor ofensivo. Na função de treinador, arquitetou um vitorioso Vélez Sarsfield, clube do qual é torcedor e pelo qual conquistou quatro títulos em cinco anos.
Após a experiência bem-sucedida em Liniers, “El Tigre” foi contratado pelo Palmeiras em maio da última temporada. Contudo, o momento sofrível do time paulista acabou por abreviar a trajetória dele no futebol brasileiro. Para superar o trauma de oito jogos sem vitórias, sequência que lhe custou o emprego, Gareca encarou em março passado o desafio de assumir o comando de uma seleção pela primeira vez.
Mesmo há pouco tempo no cargo, o argentino já demonstra bons resultados. Disputando a Copa América com o Peru, o técnico foi eleito pela organização do torneio como o melhor da fase de grupos e desbancou, por exemplo, seu compatriota Jorge Sampaoli, que dirige o anfitrião Chile. Os “Incas” ficaram na vice-liderança, depois de derrota para o Brasil (2 a 1), triunfo sobre a Venezuela (1 a 0) e empate diante da Colômbia (0 a 0).
Em busca do tricampeonato continental, a equipe alvirrubra deu um importante passo nesta quinta-feira (25). Com três gols de Paolo Guerrero, venceu a Bolívia por 3 a 1, no Estádio Germán Becker, em Temuco, e avançou às semifinais do certame pela segunda vez consecutiva. Na última edição do evento, em 2011, o selecionado bicolor havia caído para o campeão Uruguai e batido a Venezuela na disputa pelo terceiro lugar.
Herói da classificação, Guerrero elogia Gareca e destaca superação peruana
Agora, “El Tigre” também tem a oportunidade de superar seu próprio retrospecto na Copa América, já que obteve a quarta posição como melhor resultado, em 1983, quando ainda era jogador. Pouco tempo depois, o então atacante fez o gol que levou a Argentina direto para a Copa do Mundo de 1986 – curiosamente contra o Peru. Entretanto, não foi convocado para o grupo que viajou ao México e sagrou-se bicampeão. Coisas do futebol.
Hoje, no meio de outra reviravolta em sua vida, Gareca está se reerguendo ao comandar uma equipe que evoluiu ao longo da competição e está a um passo da grande final. Entendo que seu verdadeiro trabalho será visto nas Eliminatórias para a Copa do Mundo da Rússia, mas, neste momento, o técnico convida o torcedor peruano a sonhar.
As ambições dos Incas são tão grandes quanto o desafio de encarar o Chile, no Estádio Nacional de Santiago, nesta segunda-feira (29). O selecionado local está sedento para conquistar seu primeiro título e, além de apresentar um bom futebol, é apoiado por uma torcida apaixonada que fica mais barulhenta a cada confronto na capital do país.
Apesar do favoritismo chileno, estrelas peruanas, como Guerrero, avisam que podem jogar de igual para igual. A partida contra a Bolívia mostrou que o Peru corrigiu determinadas falhas e conseguiu controlar o adversário, mostrando superioridade do início ao fim. Esse desempenho, porém, não será o bastante. Para avançar, Gareca e seus comandados precisam de uma atuação quase (senão) perfeita.
A missão é difícil, mas o improvável caminha ao lado do futebol desde que a bola é redonda. E um salto deste tamanho representaria uma nova e empolgante etapa na carreira do Tigre Gareca, que um dia foi o responsável por frustrar as esperanças mundialistas do Peru.