Em um tempo em que transmissões pela TV, internet e até jogos de videogame colocam um número absurdo de atletas em evidência, parece difícil que um jogador passe a carreira sem ter a atenção que merece. Porém a situação era diferente há 30 anos.
Poucos olhos devem ter se voltado, por exemplo, para o campeonato belga na segunda metade da década de 1980. Esse olhar desatento perdeu o surgimento de um grande talento, que hoje acaba sendo mais reconhecido por seus ex-colegas de profissão do que pelos próprios espectadores.
Trata-se de Luc Nilis, atacante extremamente técnico que começou a carreira no Winterslag (atual Genk), time da segunda divisão de seu país.
A classe nas finalizações e a frieza dentro da área chamaram a atenção do gigante local, o Anderlecht. Pelo time roxo e branco, foram 127 gols em 224 jogos, quatro taças do Campeonato Belga e mais três da Copa da Bélgica.
Nesse tempo, a expressão “Ótima Geração Belga” ainda não era popular, mas de fato o país formava grande jogadores, como Preud’homme, Scifo e Celeumans.
A concorrência com os ídolos fez Nilis aceitar uma proposta do PSV Eindhoven em 1994, buscando no país vizinho o reconhecimento que ainda lhe faltava em sua própria casa.
E foi na Holanda que o atacante viveu o auge e conquistou um dos maiores títulos de sua carreira. Não foi uma taça, mas sim o rótulo de melhor parceiro de um dos maiores gênios da história do futebol: Ronaldo.
Na época, o centroavante tinha acabado de ser contratado pelo clube holandês como uma promessa vinda do Cruzeiro, tendo assistido do banco ao tetra brasileiro em 1994.
A sintonia entre o dois dentro de campo foi imediata. O estilo solidário e inteligente de Nilis casava perfeitamente com o jogo explosivo e em velocidade do Fenômeno.
Enquanto o brasileiro se destacava pelos gols enfileirando zagueiros ou completando passes precisos, o belga se afastava um pouco, abrindo espaço e mandando chutaços de fora da área.
Nilis parecia não importar com os gols fáceis, especializando-se cada vez mais com uma batida primorosa na bola. Isso lhe rendeu uma galeria repleta de golaços, de dar inveja a muitas lendas do esporte.
A dupla infernal marcou ao todo 75 gols durante as duas temporadas em que atuou. Em 1996, Ronaldo seguiu para o Barcelona. Contudo, não deixaria de lembrar do companheiro futuramente, destacando a qualidade dele até os dias atuais.
Nilis prosseguiu no PSV, encontrando em Ruud Van Nistelrooy outro parceiro para atormentar as defesas adversárias. Juntos, marcaram mais de 100 gols entre os anos de 1998 e 2000, feito que impressionou os ingleses.
Depois de seis temporadas na Holanda, com 116 gols em 164 partidas e vários prêmios individuais, Nilis aceitou o desafio de atuar pelo Aston Villa na Premier League.
Já com 33 anos, “Lucky Luc” teria finalmente a chance de se destacar em um grande centro. No entanto, o sonho virou pesadelo rapidamente.
Logo na terceira partida pelo clube, Nilis levou a pior em uma trombada com o goleiro Richard Wright, do Ipswich Town. Em uma das lesões mais chocantes do futebol, o belga sofreu fraturas em dois pontos da perna.
Era o final de uma trajetória que ainda incluiria duas participações em Copas do Mundo pela Bélgica, em 1994 e 1998. Um talento que acabou não sendo visto com a atenção que merecia, mas que recebeu a gratidão de gigantes.
