As Copas que o mundo não viu (Parte II)

As Copas que o mundo não viu (Parte II)

Segunda parte do Especial analisa os favoritos entre os times europeus

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Depois de analisar na primeira parte do nosso Especial o possível desempenho das potências do futebol sul-americano caso as Copas do Mundo de 1942 e 1946 tivessem acontecido, chega a vez de dar atenção para o continente mais afetado pela Segunda Guerra Mundial.

Poucos países da Europa passaram sem traumas pela década de 40, e isso se estendeu ao futebol. Algumas seleções foram desativadas, campeonatos perderam força, jogadores passaram a se recusar a jogar em protesto contra medidas autoritárias de seus governantes.

Para apontar quais seriam os favoritos europeus nas Copas de 42 e 46, é importante ressaltar que algumas seleções importantes ficariam de fora do torneio mesmo em um mundo sem a Segunda Guerra.

É o caso da Inglaterra, que havia se desfiliado da FIFA em 1923 e retornado apenas em 46, fazendo sua estreia em Copas apenas no torneio de 1950. A Espanha também não participaria, por conta da Guerra Civil no país que interrompeu as atividades da seleção até pouco antes da Copa no Brasil.

Considerando-se todos esses fatores e tomando novamente a liberdade de imaginar um mundo em que o esporte não foi afetado pela grande guerra, três equipes do Velho Continente seriam as favoritas nas Copas que o planeta não pôde ver.

 

Alemanha

O forte time do Schalke dominava a Alemanha na época (Foto: Schalke 04/Divulgação)
O forte time do Schalke dominava a Alemanha na época (Foto: Schalke 04/Divulgação)

A história conta que a seleção alemã disputou pouquíssimos jogos durante o período da guerra. O país foi banido de competições esportivas internacionais até 1950 por conta do conflito, sendo que dentro do país a bola parou de rolar somente em 1944, pouco antes da rendição alemã.

Apesar do cenário aterrorizante, a Alemanha conseguiu ter grandes jogadores no período, que poderiam ter um brilho ainda maior caso a guerra não tivesse acontecido.

Fritz Szepan (à direita) cabeceia para mais um gol (Foto: DFB/Divulgação)
Fritz Szepan (à direita) cabeceia para mais um gol (Foto: DFB/Divulgação)

O time alemão para a Copa de 1942, por exemplo, provavelmente contaria com a força da base do Schalke 04, clube mais vitorioso da época no país. O time azul real possuía um ataque arrasador, formado pelos cunhados Fritz Szepan e Ernst Kuzorra, que juntos marcaram quase 500 gols pelo time.

Os alemães também contariam com alguns reforços, obtidos de maneira extremamente infeliz. Por conta da anexação da Áustria por parte de Hitler em 1938, muitos austríacos passaram a defender a Alemanha, caso do meia Smistik, um dos pilares do “Wunderteam” austríaco, que encantou durante a Copa de 1934.

Além dele, jogadores do forte time do Rapid Viena que foi vice-campeão alemão em 1941, como o goleiro Rudolf Ratl e o atacante Franz Binder, que segundo dados não-oficiais encerrou a carreira com mais de 1000 gols.

Já em 1946, a Alemanha contaria com alguns dos atletas que acabariam conquistando o título oito anos depois, na Suíça. Entre eles, o lendário capitão Fritz Walter, que com 25 anos vivia o auge de sua forma física.

Capitão em 54, Fritz Walter poderia ser um dos destaques em 46 (Foto: FIFA/Divulgação)
Capitão em 1954, Fritz Walter poderia ser um dos destaques já em 1946 (Foto: FIFA/Divulgação)

Ele já poderia contar com a companhia do irmão, o atacante Ottmar Walter, além do goleiro Turek e do zagueiro Liebrich, todos destaques no “Milagre de Berna” contra a Hungria na final da Copa de 1954.

Apesar das circunstâncias deprimentes, a Alemanha fazia jus à sua tradição competitiva, com grandes jogadores capazes de incomodar em uma Copa. Por conta da forte concorrência, dificilmente seria campeã de algum dos torneios nos anos 40, mas provavelmente faria um bom papel, honrando a tradição esportiva do país.

 

Itália

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O “Grande Torino” seria a base da seleção italiana na década (Foto: Reprodução)

Se na América do Sul quem dava o tom era a seleção da Argentina, na Europa com certeza o comando era da Itália. Com a hegemonia adquirida após o bicampeonato conquistado em 1934 e 1938, os italianos entrariam na década seguinte com um time capaz de fazer ainda mais história.

Giuseppe Meazza, o ídolo  de uma era na Itália (Foto: Fundação Giuseppe Meazza/Divulgação)
Giuseppe Meazza, o ídolo de uma era na Itália (Foto: Fundação Giuseppe Meazza/Divulgação)

Para começar, muitos dos craques que conquistaram os dois títulos ainda estavam na ativa e em boa forma nos anos 40. Gente como o goleiro Olivieri, o zagueiro Rava, capitão da Juventus, o volante Andreolo e, principalmente, o ataque com Piola, Colaussi e o lendário Giuseppe Meazza, um dos maiores jogadores da história da Itália.

Somariam-se a eles alguns jovens talentos que formariam uma das equipes mais temidas daquela época, o Torino, que conquistou cinco títulos italianos consecutivos durante a década de 40.

Esta sequência foi interrompida bruscamente em 1949, com o desastre de Superga, em que todos os jogadores e membros da comissão técnica faleceram após a queda do avião que os transportava para Lisboa, onde disputariam um amistoso contra o Benfica.

Valentino Mazzola em ação. Um craque que a Copa não pôde ter (Foto: Reprodução)
Valentino Mazzola em ação. Um craque que a Copa não pôde ter (Foto: Reprodução)

Entre eles, ídolos que colocaram seus nomes no rol dos melhores mesmo com a carreira abreviada pelo desastre. Grandes atletas, como o goleiro Bacigalupo, o zagueiro Maroso, e o meia Grezar. As maiores estrelas, no entanto, eram os atacantes Guglielmo Gabetto e Valentino Mazzola.

Todos atletas de extrema capacidade técnica, com a possibilidade de ainda serem auxiliados por outros bons valores que, mesmo em segundo plano, mostravam bom futebol na liga italiana, como os meias Cappellini e Coscia, da Roma.

Para exemplificar a supremacia da Azzurra durante o período, os italianos costumam citar a conquista da Copa das Nações de 1942, torneio realizado na Suíça que reuniu seleções europeias e buscava ser uma alternativa à Copa do Mundo.

No entanto, a competição não é reconhecida oficialmente, além de sua validade ser discutível considerando-se que não há dados sobre os jogos ou mesmo sobre os participantes.

Com esse título ou não, o fato é que a Itália vivia uma era extremamente prolífica na revelação de talentos, e com a mescla de craques experientes com jovens habilidosos teria tudo para ampliar seu domínio, vencendo pelo menos mais um Mundial.

 

Suécia

A Suécia campeã olímpica em 1948 (Foto: COI/Divulgação)
A Suécia campeã olímpica em 1948 (Foto: COI/Divulgação)

Para os dias de hoje, pode parecer estranho apontar a Suécia como favorita a algum grande título no futebol. Mas há cerca de 70 anos atrás, o panorama era bem diferente.

Muitos dizem que o sucesso da seleção sueca no período tenha sido resultado da neutralidade adotada pelo país durante a Segunda Guerra. Isso é um fator que não pode ser ignorado, mas a qualidade do time nórdico também não deve ser subestimada.

Foi por conta dela que a Suécia alcançou sua maior glória no futebol, a medalha de ouro nas Olimpíadas de Londres, em 1948. Além do título olímpico, os suecos ainda chegariam a um honroso terceiro lugar na Copa de 1950.

O famoso trio Gre-No-Li (Foto: Reprodução)
O famoso trio Gre-No-Li (Foto: Reprodução)

A espinha dorsal do time que poderia ter brilhado nos mundiais de 42 e 46 seria uma mescla dessas duas equipes. As estrelas maiores seriam os membros do avassalador trio Gre-No-Li, formado por Gunnar Gren, Gunnar Nordahl e Nils Liedholm, destaques tanto na seleção quanto no clube que atuavam, o Milan.

Nordahl, por exemplo, é simplesmente o maior goleador da história do clube milanês, com 210 gols marcados na liga italiana, além de 5 artilharias conquistadas. Muitos dos feitos contando com a munição de Liedholm, chamado de “O Barão” na Itália, um meia cerebral que liderou a Suécia até a final em 1958.

O goleirão Lindberg era um dos líderes da Suécia (Foto: Reprodução)
O goleirão Lindberg era um dos líderes da Suécia (Foto: Reprodução)

Além deles, o time sueco contaria ainda com o jovem meia Sune Andersson, um dos destaques da Copa disputada no Brasil, e o experiente goleiro Torsten Lindberg, famoso por trazer novas técnicas para a posição e referência para ninguém menos que a lenda soviética Lev Yashin.

Mais um grande time que mesclava duas gerações diferentes de bons jogadores, com capacidade suficiente para incomodar bastante entre os melhores de uma Copa do Mundo.

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