Osvaldo Ardiles é um dos grandes nomes do futebol argentino do final da década de 70 e início dos anos 80. Vanguardista no modelo de “volantes modernos”, tão fundamentais nos dias de hoje, o meio-campista era titular na Argentina campeã do mundo em 1978.
Seu cartão de visitas para o mundo acabou convencendo o Tottenham a fazer algo arriscado para a época. Em tempos áureos do futebol inglês, a equipe londrina, que havia acabado de reconquistar o acesso para a Premier League, decidiu apostar em talentos estrangeiros.
Trouxe, daquele espetacular time argentino, Ardiles e Ricardo Villa. Meio-campistas talentosos, que nada tinham a ver com os volantes brucutus ingleses da época. A chegada da dupla revolucionou o futebol local. Os Spurs eram um dos poucos times que tocavam a bola em vez de arriscar cruzamentos para a área.
O auge da excelente parceria anglo-argentina aconteceu em 1981. O Tottenham enterrou de vez a má fase de anos anteriores ao conquistar a FA Cup sobre o Manchester City. Tudo parecia ótimo, até que futebol e política se misturaram, como em tantas outras vezes na história.
É esse o plot de “White, Blue and White” (2014), documentário de Camilo Antolini para a série ESPN 30 for 30: Soccer Stories. O filme aborda a relação entre a Guerra das Malvinas, entre Argentina e Inglaterra, na experiência de Ossie Ardiles em território inglês.
Quando o conflito eclodiu, o meio-campista era o melhor jogador em atividade na liga inglesa. Idolatrado pela torcida dos Spurs, reverenciado até pelos torcedores rivais. A animosidade política instaurada pela guerra, no entanto, mudou completamente a trajetória de Ardiles.
O argentino passou a ser vaiado por todos os adversários dos Spurs. Só era poupado por sua própria torcida. Ao mesmo tempo, em seu país, jornais locais o colocavam como um traidor da pátria. Como focar apenas em seu futebol?
A produção busca evidenciar o conflito de emoções vivido por Ardiles naquele período. E não é preciso de muita coisa. Em seu olhar, em seus gestos, em seus discursos, o meio-campista deixa claro o enorme peso que foi – e é, até hoje – carregar nas costas a pressão de dois países em guerra.
Mais do que focar nos resultados em campo, “White, Blue and White” traz os fantasmas de Ardiles para serem exorcizados. Como a história de seu primo, de quem era próximo, que morreu em combate nas Malvinas. Um duríssimo golpe na já abalada concentração do jogador.
Ironicamente, fatos acontecidos em 2014, durante a própria gravação do filme, acabaram por criar uma conclusão natural para a história. A equipe de filmagem, juntamente com Villa e Ardiles, sofreu um acidente de carro exatamente nas Ilhas Malvinas, enquanto Osvaldo voltava de uma visita a um memorial de seu primo e de outros veteranos falecidos no local.
Até onde chegaria Ardiles não fosse o conflito nas Malvinas? Ou a seleção argentina, completamente abalada no Mundial de 1982? A resposta não importa, segundo o próprio meio-campista. A paz é o suficiente.