Andrés Merlos: oficial da Força Aérea, mecânico de aviões e… árbitro

Andrés Merlos: oficial da Força Aérea, mecânico de aviões e… árbitro

O argentino Andrés Merlo conciliava sua vida profissional nas forças armadas e no futebol

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Quem o observa em campo apitando os jogos da máxima categoria do futebol argentino nem sequer imagina a particular e curiosa história por trás de Andrés Merlos. Pode-se deduzir, por motivos lógicos a todos nós, que a arbitragem não foi a primeira escolha profissional dele. Afinal, é bem restrito o número de jovens que opta pelo referido caminho, talvez o único no futebol sujeito ao maltrato verbal de ambas as torcidas.

De fato, Merlos, hoje com 36 anos, sonhava com outro futuro em sua juventude. Nascido na cidade de San Rafael, em Mendoza, mudou-se aos 15 anos para a província de Córdoba com o objetivo de iniciar os estudos na escola militar local. Dali, seria enviado posteriormente a Tandil, onde começou a buscar uma atividade laboral complementar e assim deu um jeito de conciliar dois interesses distintos: os aviões e a bola.

Ó árbitro Andres Merlos (Foto: Reprodução/marpla.com.ar
Ó árbitro Andres Merlos (Foto: Reprodução/marpla.com.ar

“Quando comecei a estudar para ingressar na Força Aérea Argentina, tive de abandonar minha curta carreira como jogador. Como não queria desprender dela totalmente, decidi estudar arbitragem e hoje vivo minha paixão pelo futebol em outro lugar. Entrei na escola de suboficiais em 1997 e dois anos depois já trabalhava em Tandil, onde acabei virando árbitro da liga local em 2001”, disse em entrevista à AFA.

Em 2013, o juiz provou a maior ascensão da carreira e chegou à elite nacional no dia 18 de maio. “Eu nunca teria imaginado isso porque via a arbitragem como um segundo emprego e nunca estabeleci como meta chegar à primeira divisão. Mas com o passar do tempo isso mudou e hoje a arbitragem é minha prioridade, minha atividade principal, à qual dedico todo o tempo sempre buscando melhorar e crescer”, acrescentou.

Sua estreia ocorreu na vitória do Estudiantes por 2 a 0 em visita ao Atlético Rafaela, no Estádio Nuevo Monumental, pela 14ª rodada do antigo Torneo Final. Ao mesmo tempo, Merlos também trabalhava como mecânico de aviões e foi tripulante do sistema Air Mirage da Força Aérea Argentina até 2015, quando recebeu baixa. Desde então, ele desempenha funções administrativas na sede da corporação, em Buenos Aires.

“É divertido como às vezes meus trabalhos se chocam. Tenho companheiros de todo o país e torcedores de vários clubes, e todos têm uma opinião para me dar, gosto muito disso. Ademais, tenho a sorte de ser valorizado tanto por meus colegas quanto por meus chefes. Eles sabem que eu os represento quando entro no gramado e sempre me dão a oportunidade de apitar quando há conflitos entre ambas as profissões”, explica.

No entanto, como foi dito no parágrafo inicial, há situações nem tão divertidas assim, e maus exemplos abundam. É só lembrar daquela vez em que o árbitro tomou uma decisão questionável e as críticas extrapolaram o campo da civilidade, resultando em ameaças de morte e agressões físicas. Merlos sabe bem disso. Ele já sofreu na pele com o tipo de problema mencionado e foi até suspenso pela AFA por tempo indeterminado.

Em 7 de novembro de 2014, quando o Arsenal de Sarandí vencia o Lanús fora de casa, por 2 a 1, o juiz teve má atuação ao assinalar 10 minutos de acréscimo em um encontro que não havia sofrido grandes interrupções. Foi o tempo necessário para o conjunto Granate virar o placar, o que gerou muita indignação por parte do Arsenal e resultou no seu afastamento do quadro de árbitros da entidade. Merlos ficou 148 dias longe do apito.

Em 2016, no empate por 1 a 1 entre Estudiantes de San Luis e Villa Dálmin, pela segunda segunda divisão nacional, houve um acontecimento lamentável. Um torcedor invadiu o vestiário e o ameaçou de morte, atrasando o reinício do jogo. O árbitro então denunciou seu agressor, que foi detido por algumas horas antes de ser liberado. Hoje o juiz apita normalmente e faz algumas comparações entre as duas atividades que desempenha.

“Essa sensação eu sinto quando estou em um avião voando a 2.200 quilômetros por hora o quando entrou em um estádio e há 60 mil pessoas gritando e empurrando seu time. São esses momentos que arrepiam a pele”, conclui. Uma trajetória de altos e baixos repleta de emoções, sejam positivas ou negativas. Mas para quem está acostumado a viver nos céus com tanta adrenalina, toda essa oscilação já faz parte da rotina.

 

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Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, é apreciador do futebol latino, do teor político-social do esporte bretão e também de seu lado histórico.