Futebol e política caminham lado a lado, isso não é novidade. O Alambrado já tratou dessa relação íntima (aqui e aqui) e voltará a fazê-lo por ocasião da posse do presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, de 56 anos, nesta quinta-feira (10), em Buenos Aires.
O candidato da coalizão oposicionista “Cambiemos” venceu a disputa contra o governista Daniel Scioli, da aliança “Frente para la Victoria”, no último mês de novembro, em segundo turno inédito no país. Mas sua história na política começa no mundo da bola.
Antes de ter sido eleito como deputado da nação (2005) e prefeito de Buenos Aires (2007 e 2011), Macri ganhou bastante notoriedade como cartola. Há exatas duas décadas, ele tornou-se o 30º presidente do Boca Juniors e liderou uma série de reformas no clube.
Entre suas principais medidas, estão importantes acordos relacionados às categorias de base, remodelação de La Bombonera, diminuindo setores populares e aumentando a capacidade total, e um fundo de investimento para a compra de jogadores.
Curiosamente, naquele 3 de dezembro de 1995 que marcou o dia da votação xeneize, ocorreu a histórica derrota para o Racing por 6 a 4, em casa, que foi determinante para a perda do título nacional. A data, portanto, marcaria um período repleto de mudanças.
Após ver a taça do ano em questão ir para a galeria do Vélez Sarsfield, Macri contratou Carlos Bilardo e uma grande quantidade de atletas. O insucesso, porém, resultou na troca do técnico campeão mundial em 1986 por Carlos Veira, que teve à sua disposição Maradona, Caniggia, Diego Latorre, Guillermo Schelotto e Martín Palermo.
Diante de outra frustração, o Boca Juniors assinou com Carlos Bianchi em 1998 na esperança de viver dias melhores (e que estes pudessem, ocasionalmente, servir como fôlego para as eleições internas). A estratégia deu resultado e culminou com um período extremamente dourado para o clube, que obteve 17 títulos durante a gestão de Macri.
O número de taças faz dele até hoje o presidente mais vitorioso da agremiação portenha, à frente inclusive do histórico Alberto J. Armando, que caiu para a vice-liderança (12). Além de algumas reformas no estatuto, Macri aproveitou para homenagear o ex-dirigente rebatizando a Bombonera com o nome dele, em dezembro de 2000.
Surpreende também a quantidade de jogadores provenientes das canteras boquenses no referido período. No título da Copa Libertadores de 2000, por exemplo, 11 dos 25 integrantes do elenco campeão eram pratas da casa. O exitoso ciclo teve início com o Torneo Apertura de 1998 e terminou com a Copa Libertadores de 2007.
Como uma empresa, Macri melhorou a marca Boca Juniors graças aos brilho das conquistas internacionais. Houve aumento de venda de camisas, maior presença em mercados emergentes, amistosos internacionais com potências do futebol e o estádio tornou-se um atrativo turístico. Obviamente, os pontos negativos existiram.
Entre eles, pode-se enumerar a elitização em La Bombonera, o corte de gastos das atividades esportivas, com exceção do futebol e do basquete, diminuição de salários de funcionários, limitação da quantidade de entradas das torcidas visitantes, levando outros clubes a adotarem a mesma medida, e o fechamento da inscrição de novos sócios.
Ademais, o ex-presidente teve atritos com dois ídolos máximos do clube, Carlos Bianchi e Juan Román Riquelme. Ao questionar o treinador durante uma coletiva de imprensa sobre sua decisão de não permanecer na equipe, Bianchi levantou-se e foi embora, deixando o carola sozinho, de microfone na mão, em frente aos jornalistas.
Já a polêmica com o meio-campista ocorreu devido a termos econômicos. Irritado com problemas contratuais, Riquelme celebrou um gol no Superclássico levando as mão às orelhas e olhando para o palco presidencial.
Ao ser indagado sobre sua atitude, o camisa 10 disse ter imitado o rato Topo Gigio, personagem de um programa infantil famoso na Itália e do qual sua filha gostava. Um drible tão memorável quanto sua antológica caneta para cima de Mario Yepes.
PROMESSAS EM RELAÇÃO AO FÚTBOL PARA TODOS
Por meio do destacado programa Fútbol Para Todos (2009), o governo nacional exibe de forma gratuita, ao vivo e através dos sistemas de televisão aberta, os diferentes torneios organizados pela Associação do Futebol Argentino (AFA). Além disso, os referidos certames também são transmitidos via web desde 2013 para toda a América.
Durante sua campanha presidencial, Macri garantiu a continuidade do programa, mas com mudanças. Ele afirmou ter como principal objetivo a redução do déficit atual e que para isso é necessário conseguir recursos da publicidade privada, além de eliminar a propaganda política das transmissões. O atual contrato com a AFA é válido até 2019.