A Taça Independência, também denominada Minicopa, foi uma competição internacional organizada pela antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), entre 11 de junho e 9 de julho de 1972, em homenagem ao 150ª aniversário da emancipação brasileira.
Então presidente da entidade reguladora do esporte no país, João Havelange explicou, em depoimento publicado pela Revista Placar, o planejamento para realizar um grande evento de seleções, em que pesem as ausências de Itália, Alemanha e Inglaterra.
“Em primeiro lugar, queremos que o futebol dê sua contribuição às comemorações dos 150 anos de nossa independência política. Em segundo lugar, queremos mostrar que o Brasil está em condições de promover um torneio de envergadura mundial”, afirmou à época.
Disputado em 13 estádios de 12 cidades, o certame somou 44 jogos entre 20 seleções, incluindo dois combinados, um da África e outro da CONCACAF, e alguns escretes comandados por dois treinadores, caso do Equador, além das duas equipes já citadas.
No grupo A foram sorteadas Argentina, França, África, Colômbia e CONCACAF. No B, ficaram Portugal, Chile, Irlanda, Equador e Irã. Já o C foi composto pela extinta Iugoslávia, Paraguai, Peru, Bolívia e Venezuela. Entraram diretamente na segunda fase Escócia, Tchecoslováquia, Uruguai e União Soviética, além do próprio Brasil.
Os palcos dos duelos foram os então gigantes Maracanã, Mineirão, Morumbi, Beira-Rio, Arruda e Fonte Nova, ademais de Couto Pereira, Independência, Batistão-SE, em Aracaju, Machadão-RN, em Natal, Rei Pelé-AL, em Maceió, e Vivaldão-AM, em Manaus.
Para os anfitriões, que recentemente haviam conquistado o inédito tricampeonato mundial nas mãos do Mário Jorge Lobo Zagallo, o principal desafio era substituir ninguém menos do que Pelé, aposentado do selecionado nacional desde julho do ano anterior.
Para compensar a ausência do Rei, o treinador contava com o talento de Tostão, Paulo César e Rivelino. A boa fase de Leivinha, juntamente com a habilidade de Dirceu Lopes, colocava-os na disputava pela titularidade.
Havia também a possibilidade da entrada de Dario e o recuo de Tostão, mas o Velho Lobo não desejava promover demasiadas mudanças.
O próprio Pelé, em depoimento à Placar, analisou que a melhor aposta era colocar Tostão para desempenhar funções similares às deles e um centroavante no lugar do vascaíno, já que grandes modificações exigiriam muitos treinos em um curto período de tempo.
Apesar da dificuldade inicial, no empate sem gols contra a Tchecoslováquia, o Brasil desencantou diante da boa Iugoslávia, com dois tentos de Leivinha e um de Jairzinho. Contra a Escócia, vitória magra graças ao faro de gol do Furacão da Copa.
Com os resultados, obtidos em parte graças à solidez do setor defensivo – carente de Carlos Alberto, é bom ressaltar -, e também aos contra-ataques eficientes, os donos da casa se classificaram para a grande final. Ironicamente, contra seus antigos colonizadores.
Na primeira fase, Portugal fez uma campanha irrepreensível, com 4 vitórias e 12 gols feitos (3-0 no Equador, 3-0 no Irã, 4-1 no Chile e 2-1 na Irlanda). Depois, passou por Argentina (3-1) e União Soviética (1-0), além de ter empatado com o o Uruguai (1-1).
Na final, em 9 de julho, o Brasil criou várias oportunidades, mas não conseguia convertê-las em gols. Em jogo nervoso, o herói Jairzinho usou a cabeça no penúltimo minuto para superar o goleiro adversário e completar a festa dos mais de 100 mil torcedores no Maracanã.
Embora no balanço final o torneio tenha sido considerado de caráter festivo, algumas lições foram importantes antes do começo efetivo da preparação com vistas para o Mundial de 1974, na Alemanha. A defesa sinalizou melhoras, mas ainda era necessário desenvolver a velocidade de agressão do meio de campo.
Com seu estilo de jogo, Gérson, fora do auge, impunha um ritmo mais lento, enquanto Carlos Alberto também fez falta como elemento de apoio. Leão se fortalecia na meta, Clodoaldo mostrou boa forma e Tostão se destacou. Alguns jovens teriam mais oportunidades, e os mais experientes corriam risco de perder a nova Copa.
No geral, não houve uma seleção que apresentasse futebol espetacular. Nem Portugal de Eusébio, Humberto Coelho, Rui Jordão e Jaime Graça, nem a Iugoslávia de Dragan Džajić e do artilheiro Dusan Bajevic, máximo goleador com 13 tentos. Os europeus, aliás, dominaram a Argentina na disputa pelo terceiro lugar: 4 a 2.
Enfim, a Minicopa é um torneio pouco recordado, mas vale o resgate desse momento de transição do futebol brasileiro que marcou a era pós-Pelé. Em 1974, os resultados não foram tão catastróficos, mas ainda assim decepcionantes. Quarto lugar após derrotas para Holanda (2-0) e Polônia (1-0). Começava nosso longo jejum em Copas…
