A herança do trabalho de Bielsa no Newell’s Old Boys

A herança do trabalho de Bielsa no Newell’s Old Boys

A maioria dos jogadores que o "Loco" treinou no clube argentino viraram técnicos ou assistentes; Confira

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Marcelo Alberto sempre foi diferente, inclusive dentro da família Bielsa. Filho do meio da docente Lidia Caldera com o advogado Rafael Pedro, ele inclinou-se desde cedo para o futebol, embora seu avô paterno, Rafael, tenha sido um renomado jurista com importantes colaborações para o surgimento do ramo administrativo na Argentina.

Mesmo sem ser um fanático pelo esporte bretão, seu pai lhe deu sua primeira bola na vida, e Bielsa passou a chutá-la nos campos do Estrella Azul, clube informal do bairro onde morava em Rosario, até ingressar no Newell’s Old Boys com 13 anos. Aos 18, foi convocado para defender a seleção no Sul-Americano Sub-20 de 1974, no Chile, obtendo o 4º lugar.

Marcelo Bielsa deixou a França e assumirá o comando da Lazio (Foto: Divulgação/OM)
Aos 60 anos, Bielsa deve assumir a Lazio (Foto: Divulgação/OM)

Duas temporadas mais tarde, estreou na primeira divisão argentina contra o River Plate, que venceu a disputa fora de casa por 2 a 1. Mas sua carreira como futebolista não durou muito.

Prejudicado por uma lesão, ele acabou sendo transferido ao Instituto de Córdoba em 1978. Lá, jogou 16 vezes até perder a titularidade e rescindir contrato.

No ano seguinte, o defensor foi para o Argentino de Rosario, pelo qual anotou seu único gol como profissional. Em 1980, resolveu pendurar as chuteiras. Entendia que não seria um jogador de alto nível. Assim, decidiu virar um treinador de alto nível. Estudioso, até cursou Educação Física para entender melhor os limites do corpo humano.

Hoje, Bielsa deixa fãs por onde passa. Essa fama, aliás, é antiga. Segundo pesquisa da revista argentina Un Caño, ilustrada pelo Paladar Negro, site especializado em desenho gráfico, dos 37 jogadores que ele treinou em sua vitoriosa passagem pelo Newell’s (1990/92), pelo menos 26 fazem ou fizeram parte de alguma comissão técnica.

Martino, ídolo leproso e aluno de Bielsa (Foto: Reprodução/La Nación)
Martino, ídolo leproso e aluno de Bielsa (Foto: Reprodução/La Nación)

Na atualidade, o maior expoente da referida escola é Gerardo Martino, atleta que mais vestiu a camisa “leprosa” (505 aparições) e hoje treinador da seleção argentina.

Seu assistente na equipe nacional, Jorge Pautasso, também atuou sob o comando de Bielsa. Os antigos alunos do “Loco” na Europa são Mauricio Pochettino e seu auxiliar Miguel D’Agostino, do Tottenham.

Há exemplos conhecidos e outros nem tanto. No Velho Continente, Eduardo Berizzo dirige o espanhol Celta de Vigo, enquanto na América Latina houve seis deles: Norberto Scoponni (Puebla-MEX), Sergio Stachiotti e Ricardo Lunari (Millonarios-COL), Fernando Gamboa (Rangers-CHI), Juan Manuel Llop (Manta-EQU) e Julio Zamora (Binacional Desaguadero-PER).

Na Argentina, seja na elite ou em ligas regionais, oito nomes que já desempenharam alguma função técnica: Marcelo Escudero (River Plate), Pablo Lenci (Arsenal), Dario Franco (Defensa y Justicia), Juan José Rossi (Renato Cesarini), Adrián Taffarel (Jorge Newbery), Cristian Domizzi (San Martín de Mendoza), Juan Roldán (Sportivo Tintina) e Cristian Ruffini (Williams Kemmis).

Finalizando a lista, sete ex-jogadores de Bielsa trabalharam no Newell’s Old Boys, nas categorias juvenis ou no comando da equipe principal, como Gustavo Raggio e seus assistentes Julio Saldaña e Fabián Garfagnoli, além de Lorenzo Saez, Miguel Fullana, Ariel Cozzoni e Alfredo Berti.

Idolatriarubro-negra: estádio do Newell's leva o nome do treinador (Foto: Reprodução/O Tempo)
Idolatria rubro-negra: estádio do Newell’s leva o nome do treinador (Foto: Reprodução/O Tempo)

É válido ressaltar que nem todos herdaram o estilo do “Loco”. A maioria ainda está empregada, ao passo que outros buscam novos desafios, no futebol ou não.

Em comum, apenas o passado compartilhado na fase mais gloriosa da história leprosa e o aprendizado obtido por meio de um grande treinador, que estava no começo de sua carreira à beira do gramado.

Ainda que lhe faltem títulos expressivos no currículo (soma três taças nacionais, três vices continentais e um nacional), Bielsa faz sua colaboração para o esporte como um todo ao transmitir sua filosofia e seus valores. Obcecado por trabalho, excêntrico, temperamental e metódico, ele tem seus defeitos, mas é inquestionável o legado que sua influência deixa.

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