Os jogadores de futebol costumam partilhar objetivos na carreira. Geralmente, defender seu clube de infância, representar a seleção nacional, ir para a Europa, ganhar títulos importantes, ajudar a família e ter independência financeira. Algumas dessas metas são reflexos do tempo em que eles vivem; outras, comuns a todas as épocas.
Talvez esse prólogo já esteja suficientemente claro para muitos (as), mas eu o julguei necessário para introduzir a história do icônico atacante Raúl Echeverría, que defendeu o Estudiantes de La Plata e a seleção da Argentina na primeira metade dos anos 1920.
Em oito aparições com a camisa de seu país, ele marcou quatro gols, dois deles no Campeonato Sul-Americano de 1920 (a atual Copa América), sendo o artilheiro da equipe nacional na ocasião, e um na edição seguinte do torneio, em 1921, (na vitória por 3 a 0 sobre o Paraguai), quando a albiceleste faturou a taça inédita e encerrou o domínio continental do Uruguai, que havia vencido três dos últimos quatro certames.
No clube “pincharrata”, por outro lado, Echeverría não teve a mesma sorte. Durante o período em que atuou, ainda na era amadora, sobressaíram-se Boca Juniors, River Plate, Racing, Huracán, San Lorenzo e Independiente. O único triunfo do Estudiantes na elite do futebol local havia ocorrido em 1913 (com dois vices em 1914 e 1919).
Nessa época, vale ressaltar, surgiria a grande rivalidade com o Gimnasia y Esgrima no futebol. Inconformados com a falta de espaço reservada ao esporte bretão nos planos do clube, associados dissidentes do “Lobo” fundaram o Estudiantes em 1905. O primeiro embate entre os times da cidade de La Plata só aconteceria em 27 de agosto de 1916, com vitória por 1 a 0 do Gimnasia, graças a um gol contra de Ludovico Pastor.
Depois do referido encontro, mediram forças mais sete vezes até o fatídico 22 de agosto de 1926, com duas vitórias para o Gimnasia e apenas uma para o Estudiantes, além de cinco empates. Sem superar o Lobo desde 1917, os Pincharratas contaram com a inspirada atuação de Raúl Echeverría para reencontrar o caminho dos triunfos.
Naquele dia, o atacante marcou todos os gols da vitória por 3 a 0, repetindo o último placar favorável antes do jejum de quase uma década. O mais notável, porém, foi a decisão dele após o término da partida. Considerando ter realizado plenamente suas aspirações futebolísticas, Echeverría anunciou sua aposentadoria porque não podia jogar melhor. Tinha somente 26 anos de idade.
Embora não tenha sido convocado para o Campeonato Sul-Americano de 1925, quando a Argentina sagrou-se bicampeã, Echeverría poderia ter integrado o elenco que ganhou os títulos continentais em 1927, no Peru, e em 1929, em seu país natal. Também poderia ter auxiliado o Estudiantes em 1930, quando o clube perdeu o campeonato nacional para o Boca Juniors. Mas decidiu se retirar em seu momento de glória.
Um caso que certamente não veremos ocorrer tão cedo.