A carruagem costarriquenha virou abóbora? (Parte I)

A carruagem costarriquenha virou abóbora? (Parte I)

Meses após brilhar na Copa, Keylor Navas ainda luta para conquistar espaço no Real

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29 de junho de 2014, Arena Pernambuco, São Lourenço da Mata. Oitavas de final da Copa do Mundo sendo decidida nos pênaltis. Lá se foram sete cobranças, todas para o fundo do gol. O grego Gekas vai para a bola e solta a bomba no canto direito. Mas o goleiro Keylor Navas foi mais rápido. Grande defesa. Sobra então para Michael Umaña a chance única de eternizar seu nome. E uma finalização certeira no ângulo levou a modesta Costa Rica a fazer história no Mundial de 2014.

Naquele dia, a equipe eliminou a Grécia e avançou pela primeira vez às quartas de final da competição mais importante do futebol. Antes disso, conseguiu a façanha de terminar como líder de um grupo formado por Itália, Inglaterra e Uruguai. Na fase seguinte, bateu de frente com os holandeses – diferentemente dos brasileiros e espanhóis, diga-se – e só se despediu de Salvador e do Brasil após uma cobrança de pênaltis.

Era o suficiente, porém, para elevar a Costa Rica ao status de sensação daquela Copa. Alguns atletas tornaram-se superstars da noite para o dia. Viraram celebridades mundiais surgidas de um país de fora dos holofotes. A idolatria, claro, não poderia ser maior senão no próprio Caribe. Os futebolistas foram recebidos com festas e homenagens. Um estádio chegou a ser batizado com o nome de Keylor Navas, para muitos, um dos melhores arqueiros da competição.

Keylor Navas não se esforçou para sorrir durante sua apresentação no Real (Foto: Ángel Martínez/Real Madrid)
Keylor Navas não se esforçou para sorrir durante sua apresentação no Real (Foto: Ángel Martínez/Real Madrid)

Tamanha badalação refletiu no mercado de transferências do verão do hemisfério norte.  Dos 23 consagrados na honrosa campanha costarriquenha, 11 trocaram de clube após o Mundial. Retornos de empréstimos, contratações a alto custo, empréstimos, todos queriam aproveitar a onda formada pelo técnico Jorge Luis Pinto.

O caso mais emblemático foi de Navas, que deixou o irregular Levante para assinar com o então campeão da Liga dos Campeões da Europa, Real Madrid. O goleiro não apenas deu um grande salto na carreira, como também ampliou ainda mais a alegria dos torcedores costarriquenhos, desacostumados que eram a ver seus compatriotas atuando em gigantes do futebol europeu.

Passados os festejos e os “pura vidas” comemorativos de Navas, era chegada a hora de colocar sua capacidade à prova. Seu concorrente? Ninguém menos que Iker Casillas, consagrado goleiro campeão do mundo em 2010 pela Espanha e ídolo merengue de mais de uma década. A fase do capitão não era boa, mas o currículo, inigualável.

Carlo Ancelotti, técnico dos Blancos, não surpreendeu e optou por deixar Keylor como reserva, ao menos no início. Coube ao arqueiro sentar oito jogos consecutivos no banco de suplentes. Até que, no final de setembro de 2014, a chance veio. Em casa, diante do Elche, pelo Campeonato Espanhol, Navas estreou no lugar do poupado Casillas. Placar final: 5 a 1 para o Real, tendo o costarriquenho quase defendido um pênalti, que acabou como gol de honra dos visitantes.

Estreia perfeita? Talvez. Para a imprensa espanhola em geral, o jogador foi pouco testado pelo ataque do Elche, o que evitou uma análise mais aprofundada, apesar das boas vibrações passadas. No jogo seguinte, lá estava Keylor entre os suplentes. A situação permaneceu assim durante seis jogos. Navas voltou diante do Cornella, pela Copa do Rei. Seu time venceu por 4 a 1.

Novamente, o atleta fez uma partida segura e foi pouco acionado. Com isso, Ancelotti decidiu escalar o caribenho diante do Rayo Vallecano, dois jogos depois. 5 a 1 Real. Mas foi aí que a lua de mel costarriquenha ganhou um asterisco. Navas demonstrou nervosismo acima do normal, cedendo rebotes desnecessários em chutes fáceis. Em determinado momento, saiu de forma tenebrosa do gol, com total ausência de timing (assista abaixo). Apesar disso, diga-se, fez defesas importantes e não teve culpa no gol.

Do banco, Iker Casillas apenas observava. Mesmo assim, a crítica foi positiva a Navas, que voltou à reserva, mas foi titular dois jogos depois. O atleta teve oportunidade de estrear na Liga dos Campeões em um jogo duro, vencido pelos espanhóis por 1 a 0. Foi pouco acionado, mas fez a defesa do jogo (e, quiçá, da fase de grupos da Champions).

Ao passo que crescia o prestígio de Navas em Madri, decaía o de Casillas. O arqueiro espanhol, que há anos não mostra a mesma segurança da década passada, falhava a rodo, protagonizando lances risíveis, principalmente na seleção espanhola, mas também no Real. A pérola abaixo aconteceu justamente na partida seguinte à de Keylor diante do Basel. Indescritível.

Navas encerrou 2014 atuando contra o Ludogorets, pela última rodada da fase de grupos da Liga, compondo um time recheado de reservas. Novamente, não foi vazado. Em janeiro de 2015, veio seu teste de fogo:  oitavas de final da Copa do Rei, ida e volta, diante do rival Atlético de Madri.

Primeiro jogo no Vicente Calderón, casa cheia, pressão da torcida adversária. Navas se sai bem no início, mas um pênalti compromete a partida do Real. Raúl Garcia cobrou, o goleiro quase pegou, mas a bola entrou. 1 a 0. Depois, em escanteio, Gimenez subiu e cabeceou para a rede. Finalização defensável para um goleiro melhor posicionado e com maior tempo de reação. Mas culpa muito maior dos defensores.

Foi aí que veio o segundo jogo. Navas seguia intacto, sem nenhuma falha propriamente dita. Eis que veio também El Niño, ídolo colchonero de volta a Madri após quase oito anos. Pra lá de contestado nas últimas cinco temporadas, Fernando Torres chegou sob certa desconfiança. Mas sua atuação foi surpreendente:  dois gols e a classificação do Atlético, em pleno Bernabéu, em sua terceira partida após o regresso.

No primeiro, Navas se isentou. Mas o segundo, que eliminou de vez o Real, veio de uma falha. O costarriquenho saiu bem, fechou o ângulo e tocou na bola, que, mesmo assim, conseguiu passar e foi parar embaixo da rede. O goleiro não foi com força suficiente na mão para desviar. No Brasil, em certas regiões, seria chamado de “mão de alface”.

No Brasil, em todas as regiões, falhar em um clássico, ver seu time ser eliminado e acabar responsabilizado pelo fracasso resultaria em banco de reservas. Na Espanha também. Desde o fatídico 15 de janeiro, há mais de um mês, Navas não voltou a entrar em campo. E motivos não faltaram. Semanas depois, o mesmo Real, diante do mesmo Atlético, desta vez pelo Espanhol, foi goleado por 4 a 0, com Casillas no gol protagonizando lambanças.

O resultado de tudo isso? Especulações aos montes na imprensa europeia sobre o Real Madrid estar à procura de um goleiro caríssimo para a próxima temporada. O principal deles, Thibaut Courtois, do Chelsea. Não se dá para levar a sério a maioria das notícias sobre transferências de lá, mas também não se duvida do nível de insanidade de Florentino Pérez, presidente do clube. O que indica que Navas terá de se contentar em ser segundo ou terceiro goleiro caso prossiga na capital espanhola. Ou que passe a brilhar nas próximas oportunidades, se é que elas chegarão…

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