Apesar do futebol ser um esporte com alcance global, os holofotes normalmente estão direcionados para alguns centros específicos. Com isso, é comum que alguns jogadores idolatrados em áreas periféricas não sejam muito reconhecidos para o restante do público que acompanha o desporto.
Quantos, por exemplo, conhecem o guatemalteca Carlos Ruiz? Talvez o nome do centroavante de 36 anos seja lembrado fora da Guatemala somente pelos fãs mais assíduos do esporte. Mas não se engane: Ruiz é uma lenda local, e nesta terça-feira (06) pode quebrar um recorde que dura mais de 10 anos.
Ao entrar no campo do estádio Mateo Flores, o veterano tentará se tornar o maior artilheiro das Eliminatórias para a Copa do Mundo na história. Com 34 gols marcados, “El Pescado” Ruiz precisa chegar às redes duas vezes para superar o iraniano Ali Daei, detentor da melhor marca desde 2005.
A possível chegada no número histórico ainda conta com alguns contornos dramáticos. A Guatemala de Ruiz tenta um milagre para avançar de fase, já que para chegar ao hexagonal final da Concacaf precisa vencer São Vicente e Grenadinas, torcer por uma derrota dos EUA para Trinidad e Tobago e ainda tirar uma diferença de 12 gols no saldo.
Apesar de enfrentar um adversário inexpressivo, as chances da Guatemala são minúsculas. Com isso, não é exagero dizer que essa pode ser a última partida de Ruiz em Eliminatórias, e consequentemente a última chance de bater o recorde de gols, por conta da idade avançada.
Vale dizer, porém, que aposentadoria não é lá um assunto muito lógico na carreira de Carlos Ruiz. O matador já havia decidido abandonar a seleção em 2012, mas acabou voltando atrás pelo sonho de encerrar sua carreira com pelo menos uma participação em Copas.
Se depender da forma atual do atacante, ao menos a marca histórica de gols deve acontecer hoje. Foi graças a dois tentos marcados por ele no empate por 2×2 contra Trinidad e Tobago que a Guatemala conseguiu chegar viva à última rodada, ainda disputando a vaga.
No entanto, um caso curioso no início do ano poderia ter atrapalhado muito os planos de Ruiz. Em março, o atacante foi réu em um processo da justiça guatemalteca por não ter pago o aluguel de seu imóvel. A acusação fez com que ele fosse temporariamente impedido de sair do país.
Assim, o ídolo não poderia jogar justamente um dos duelos decisivos do torneio, contra os EUA, em Ohio. A Federação de Futebol do país teve de mexer seus pauzinhos para conseguir a liberação do atleta, poucas horas antes do início do jogo. Com a ajuda de um grupo de empresários que bancou a viagem de jatinho, Ruiz conseguiu entrar em campo, mas não impediu a derrota por 4×0.
O esforço para contar com o atacante condiz com seu status de estrela no futebol do país. Ao retornar para a Guatemala em 2014 para defender o Municipal, Ruiz assinou o maior contrato da história do esporte na América Central.
A sonhada classificação para uma Copa do Mundo não deve vir, mas o recorde em Eliminatórias está perto. E mesmo que este também não venha, Ruiz já pode se orgulhar por ser o maior goleador de uma seleção nacional na atualidade, com 63 gols marcados, dois a mais que Cristiano Ronaldo em Portugal. Um nome simples, mas que já está na história.