O mundo do futebol é especialista em criar heróis e vilões, muitas vezes definidos em um curtíssimo espaço de tempo, ou mesmo em um lance que é capaz de mudar a reputação da carreira inteira de um atleta.
No Olimpo da bola, um dos deuses que mais se aproximou das falhas humanas e conviveu com essa dualidade foi Diego Armando Maradona. Genial e genioso, o “Dios” argentino é um dos melhores exemplos da paixão extrema que torna o futebol tão envolvente.
Neste 30 de outubro, Diego completa 55 anos, vividos no limite de sua divindade tão mortal, ou de sua mortalidade divina. O Alambrado não podia ficar de fora desta festa, e por isso pede permissão para que um mestre descreva o o outro:
“(…) Quando Maradona foi, finalmente, expulso do Mundial de 94, os campos de futebol perderam seu rebelde mais clamoroso. E perderam também um jogador fantástico. Maradona é incontrolável quando fala, mas muito mais quando joga: não há quem possa prever as diabruras deste criador de surpresas, que jamais se repete e goza desconcertando os computadores.
Não é um jogador veloz, tourinho de pernas curtas, mas leva a bola costurada no pé e tem olhos em todo o corpo. Seus malabarismos inflamam o campo. Ele pode resolver uma partida disparando um tiro fulminante de costas para o gol ou servindo um passe impossível, de longe, quando está cercado por milhares de pernas inimigas, e não há quem o pare quando se lança a driblar adversários.
No frígido futebol do fim do século, que exige ganhar e proíbe divertir-se, este homem é um dos poucos que demonstra que a fantasia também pode ser eficaz.”*
* Por Eduardo Galeano, no livro Futebol ao Sol e à Sombra (Porto Alegre: L&PM, 2012).