Certas coisas são previsíveis a cada ano novo que se inicia. Algum estado brasileiro passará por seca, outro sofrerá com enchentes, e o Goiás irá humilhar algum clube paulista. Em determinadas temporadas, mais de um. Santos e São Paulo que o digam.
Recentemente, o time da Vila não foi educadamente recebido em Goiânia, levando um barulhento 4 a 1. Já o Tricolor foi vitimado em casa pelo “pernalegrístico” menino Erik: 3 a 0. O Palmeiras não chegou a ser humilhado, mas perdeu no Allianz Parque por 1 a 0 para os esmeraldinos, que não tomaram conhecimento da empolgada torcida paulista.
Somente em 2015, foram três vitórias e dois empates (contra Ponte e Corinthians) em cinco jogos contra paulistas no Brasileirão. Aproveitamento de 73%, mesmo com o Goiás brigando para não ser rebaixado. O retrospecto só não é perfeito neste ano porque o Esmeraldino acabou eliminado pelo Ituano na Copa do Brasil.
A fiel freguesia paulista, contudo, não é nova. Já são anos de provocações goianas. Resultados memoráveis, como a goleada sobre o Palmeiras no ano passado e o tabu contra são-paulinos, que desde 2008 não conseguem sair vitoriosos do Serra Dourada em partidas do Brasileirão. Definitivamente, a combinação vermelha, preta e branca está fora de moda em Goiânia.
Gênesis
Tudo começou em 2007. Antes disso, a equipe goiana ganhava aqui e ali, perdia outros tantos, mas parecia não ter problemas com equipes de São Paulo. O aproveitamento total naquele ano foi de 33%. A equipe não ganhava de ninguém e era virtual rebaixada para a Série B.
As coisas mudaram quando o Esmeraldino recebeu o Corinthians no Serra Dourada, pela 36ª rodada. Com gol do icônico Paulo Baier, as equipes empataram em 1 a 1. O ponto conquistado faria toda diferença na rodada final, quando o Timão empatou com o Grêmio e o Goiás venceu o Inter, no famoso jogo da vingança colorada pós-2005. Resultado? Com um ponto a menos, o alvinegro foi rebaixado.
Santos para Cristo
Empolgado com o livramento, o Goiás aparentemente escolheu outro paulista para fazer seu futebullying no ano seguinte: o Santos. Em época de vagas magras para os praianos, os alviverdes deitaram e rolaram.
Primeiro na Vila Belmiro: 4 a 0, pela sétima rodada do Brasileirão de 2008. No returno, outra cacauzada. 4 a 1, mesmo placar da mais recente goleada alviverde. Oito gols em dois jogos. Iarley foi o destaque, tendo anotado três deles.
Sobrou humilhação para a Portuguesa, que também levou de quatro no Serra Dourada. Acabou rebaixada. E o aproveitamento do Goiás subiu para 54% diante dos times do Estado de São Paulo. Por pouco ainda não eliminou o Corinthians da Copa do Brasil. Fez 3 a 1 em casa, mas perdeu por 4 a 0 fora.
O número 4
Em 2009, o aproveitamento subiu ainda mais: 58%. E o fascínio dos esmeraldinos pelo número quatro continuou. Desta vez, as vítimas foram São Paulo e Corinthians, 4 a 2 e 4 a 1, no Serra Dourada e no Pacaembu, respectivamente. Contra o Santos, ainda freguês, um empate e uma vitória. Nada mal.
Naquele ano, iniciava-se o tabu contra o São Paulo no Brasileirão. Desde então, os tricolores jamais fizeram três pontos no Serra Dourada pela competição.
A exceção foi o Palmeiras, que goleou o Goiás por… 4 a 0. Pobre alviverde paulista. Mal sabia que os esmeraldinos nunca esquecem…
Qual é o maior Verdão?
2010 foi um ano intenso para os torcedores do Goiás. A equipe acabou rebaixada para a Série B. Teve um dos piores desempenhos contra paulistas, aproveitando apenas 30% dos pontos nos confrontos diretos. Não goleou ninguém. Foi goleado.
Santos e Corinthians se vingaram das humilhações recentes aplicando 4 a 1 e 5 a 1, respectivamente. E o Barueri, que nada tinha com isso, também fez 4 a 1. Já o Palmeiras venceu em casa e empatou fora.
O castigo veio na Sul-Americana. Os dois Verdões se enfrentaram na semifinal. O Palmeiras venceu fora o primeiro jogo e administrava um empate no segundo quando Ernando, aos 83 minutos, fez 2 a 1 e colocou o Goiás na final, para surpresa geral. O time por pouco não levou o título, ao perder a decisão nos pênaltis. Afinal, o Independiente-ARG não é paulista.
Mas os rivais corintianos não puderam tirar sarro. Brigando pelo título na última rodada, o alvinegro precisava vencer o Goiás e torcer por um tropeço do Fluminense. Sequer cumpriu sua obrigação. Não conseguiu mais que um empate diante do Esmeraldino, que já estava rebaixado e ainda por cima poupava titulares para o segundo jogo da final da Sul-Americana, que aconteceria três dias depois.
A Série B
Engana-se quem imagina que os paulistas se livrariam de seu carrasco em comum com a queda do Goiás para a segundona. Lá, em 2011, o Esmeraldino encontrou nada menos que sete times de São Paulo: Barueri, Portuguesa, Ponte, Guaratinguetá, São Caetano, Bragantino e Guarani.
Não conseguiu grandes vitórias e até levou o troco da Portuguesa, que sofreu quatro em 2008 e devolveu a gentileza. Mas isso pode ser perdoado. À época, era simplesmente a Barcelusa, com o ataque formado por Lionedno Messi e Ananiesta, além do volante Mascherdinando e do técnico Pep Jorgiola.
Na Copa do Brasil, o Goiás eliminou a Ponte Preta, mas caiu para o São Paulo. Mesmo assim, o saldo não foi ruim. Saiu com 50% de aproveitamento diante dos paulistas naquela Série B.
O ano seguinte, novamente na segunda divisão, foi muito melhor. Eliminou o Paulista e perdeu novamente para o São Paulo na Copa do Brasil, é verdade, mas conseguiu 63% dos pontos diante dos times paulistas na Série B e garantiu o retorno para a Série A. Com direito a 5 a 0 sobre o Guarani no Serra Dourada.
O auge
Contando com Walter no ataque, o Goiás teve em 2013 o melhor desempenho diante de seus fregueses neste século: 73%. Não chegou a golear ninguém, mas terminou o ano sem perder para Corinthians, São Paulo e Portuguesa.
Curiosamente, a exceção foi justamente o Santos, seu cliente preferencial de outrora. Contra o alvinegro praiano, perdeu por 3 a 0 em casa e 1 a 0 fora.
6 a 0
Em 2014, enfim um aproveitamento negativo contra paulistas. Garantiu apenas 38% dos pontos diante dos quatro grandes de São Paulo, os únicos representantes do estado naquele Brasileirão.
Chegou a perder por 5 a 2 para o Corinthians na Arena, mas isso ficou relegado a segundo plano. O destaque foi a maior goleada dentre todas as citadas neste texto: um aleatório 6 a 0 sobre o Palmeiras. Os times voltaram a se enfrentar naquele ano pela primeira vez depois do fatídico embate sul-americano, devido a desencontros entre Série B e Série A.
Jogando no Serra Dourada, pela 23ª rodada, o Esmeraldino encerrou o primeiro tempo fazendo 4 a 0. E voltou marcando o quinto, logo aos três minutos do segundo. O sexto foi o último lance da partida. O resultado afundou de vez o Palmeiras na lanterna e fez até o mais otimista dos palestrinos acreditar em um novo rebaixamento. Milagres acontecem, sim.
É óbvio que o aproveitamento do Goiás diante dos paulistas, à exceção deste ano, subiu ou desceu de acordo com o nível do próprio time e dos rivais – é apenas estatística. Que os jogadores da Barcelusa, quando atropelavam os adversários a torto e a direito na Série B de 2011, sequer sabiam que o Goiás havia goleado sua equipe anos antes. E que as inúmeras goleadas são consequência dos estilos de jogo impostos por cada treinador, e não por uma filosofia do time.
Mas vale o folclore.