É comum encontrar entre torcedores e analistas de futebol a ideia que o dia 5 de julho de 1982 representa um ponto de virada na história do esporte mais popular do Brasil.
Essa visão pode ser considerada exagerada, apaixonada ou nostálgica, mas tem pontos válidos. Afinal de contas, a data marca uma das derrotas mais traumáticas do futebol brasileiro: o 3×2 sofrido contra a Itália, que tirou de uma geração fantástica a chance do Tetra na Copa do Mundo da Espanha.
Para muita gente, a essência do “jogo bonito” morreu ali, trazendo uma era de times pragmáticos e discussões infinitas sobre o que seria melhor: perder encantando o mundo ou ser campeão arrancando vitórias na base da organização.
De fato, ninguém duvida da beleza das trocas de passes daquele time, da genialidade de um meio de campo com Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates, das patadas certeiras de Éder ou das investidas ao ataque de Leandro e Júnior.
Mas por trás de toda a mitologia, existe um mundo real, com direito a turbulências no percurso. E é aí que o livro “Telê e a Seleção de 82: da Arte à Tragédia” se apresenta como uma obra essencial para quem quiser entender os bastidores da montagem daquela equipe histórica.
O autor Marcelo Mora apresenta, de maneira objetiva, uma cronologia do processo que trouxe ao amante do futebol a oportunidade de observar aquela seleção. Uma jornada longa, que começou em clima de desconfiança em 1979, quando Cláudio Coutinho ainda era o treinador.
É interessante observar o aumento da expectativa dos torcedores enquanto a história corre, trazendo uma série de grandes atuações do Brasil na preparação para a Copa.
Mais curioso ainda é notar certas passagens que acabam sendo não muito comentadas hoje em dia, como a estranheza que a convocação de Falcão provocou no restante do elenco, pelo fato de estar jogando fora do país. Ou ainda as reclamações públicas de Zico sobre seu posicionamento dentro de campo.
Não faltam elogios ao desempenho do time montado por Telê Santana e nem depoimentos emocionados sobre a derrota para a Itália no Estádio Sarriá. Mas também há espaço para uma contextualização com o clima no país durante aquela época, ajudando a explicar a identificação do torcedor com a equipe.
A obra serve para complementar memórias, informar casos que ficaram obscuros por muito tempo, e relembrar um esquadrão que inegavelmente ficou marcado para sempre, capaz de provocar saudades até em quem não teve a chance de vê-lo jogar. Chance de relembrar um tempo em que eliminações traziam apenas tristeza, e não vergonha.