Quando Pelé disse que o continente africano estava próximo de conquistar uma Copa do Mundo, talvez estivesse um pouco empolgado e tenha apressado um processo que se mostra lento e que começa a apresentar resultados aos poucos.
Em 1990, por exemplo, Camarões chocou o mundo ao alcançar as quartas de final daquele Mundial. Depois disso, o “hype” criado com a geração de ouro nigeriana dava conta de dimensionar tamanha evolução. Crescimento que pode ter diminuído, porém que continua a botar os jogadores africanos cada vez mais em evidência.
Além dos inúmeros talentos que atuam em grandes clubes europeus, alguns resultados demonstram que o continente está à frente de outros. Nas últimas quatro Copas do Mundo, Senegal (2002) e Gana (2010) colocaram os africanos nas quartas de final.
No Mundial de Clubes, o desempenho é ainda melhor. Somente o referido continente foi “intruso” na final quase sempre disputada entre Europa e América do Sul. Em 2010 e 2013, os africanos estiveram na decisão com Mazembe-CGO e Raja Casablanca-MAR, respectivamente.
Porém, o cenário é diferente nas categorias de base. Potência nos torneio sub-17, sub-20 e sub-23, a África sempre mostra ao mundo grandes seleções. Nesta Copa do Mundo Sub-20, realizada na Nova Zelândia, o continente mais uma vez foi bem.
Confira o guia especial do Alambrado sobre o Mundial Sub-20 aqui, aqui e aqui.
Os quatro participantes avançaram para a segunda fase. A Nigéria – uma das principais favoritas – caiu nas oitavas de final, mas o embate foi contra a ótima Alemanha. Eliminada pelo Brasil, Senegal conseguiu avançar às semifinais graças a uma surpreendente vitória nos pênaltis sobre a Ucrânia e um triunfo simples diante do Uzbequistão.
A esperança parte de Mali
O outro representante africano que caiu nas semifinais do Mundial foi Mali. E que representante. No duelo continental contra Gana, válido pelas oitavas de final do torneio, um jogo perfeito. Umas das melhores partidas da competição.
Contra o rival gabaritado e favorito, Mali não se intimidou. O jogo anunciava o confronto entre duas estrelas individuais: Yeboah, de Gana, e Adama Traoré, jogador de Mali. O primeiro, estrela do Manchester City-ING, teve pouco espaços para mostrar todo o seu futebol. Já o segundo, mesmo sem tanto glamour, demonstrou uma classe gigantesca.
E não foi só Traoré. O primeiro tempo do jogo foi um vareio malinês. A seleção treinada por Fatiery Diarra entrou em campo tranquila e ciente do que fazer. Com um 4-3-3 bem definido e muita movimentação, a equipe chegava fácil ao gol rival.
Do outro lado, Gana estava nervosa e sem organização no meio de campo. Sem jogadas trabalhadas, viveu de lampejos de Yeboah e chutões para Boateng. Difícil para quem enfrenta Maiga, zagueiro malinês de 1,97 m que é praticamente imbatível pelo alto.
A jogada do primeiro gol de Mali, marcado no primeiro tempo por Samassekou, foi uma obra-prima. Uma tabela precisa, de ataque ao espaço, entre o autor do tento e Traoré, com direito até a passe de letra. Extravagância tipicamente africana. Mas com toque de objetividade.
Na segunda etapa, o domínio continuou. O placar foi ampliado por Dieudonne, atacante do Lille-FRA e companheiro de Traoré. Em uma jogada individual, fez mais um golaço na noite e que demonstrou a força do talento.
Para fechar, mais uma tabela e busca pelo espaço. Doumbia procurou Traoré e recebeu na frente. Com muita categoria, encobriu o goleiro adversário e fez o 3 a 0. Placar que simbolizou bem a grande vantagem de Mali na partida.
Foram 17 chutes contra sete de Gana. A posse de bola também teve domínio malinês. Todos os quesitos foram controlados por uma seleção que dá mais esperança ao continente africano. Uma geração muito boa e que pode, sim, bater Alemanha, Gana e, quem sabe, tantos outros rivais poderosos.
Na noite desta sexta-feira (19), Mali disputa o terceiro lugar do Mundial com Senegal. Com tanto talento, é certo que a seleção principal espera os jogadores desta ótima geração.
Eles acreditam.