Nos últimos anos, parece que cada vez mais jogadores jovens passam a frequentar o elenco profissional dos seus respectivos clubes. Rapidamente eles alcançam destaque e deixam de ser coadjuvantes para brilhar como protagonistas – muitas vezes de grandes clubes mundiais.
Exemplos não faltam. Com 27 anos, Messi já é recordista absoluto da história do campeonato espanhol. Muito antes, com 20, ele já frequentava a lista dos maiores jogadores do mundo. Neymar é outro exemplo de sucesso. Com apenas 19 anos, já acumulava um bicampeonato paulista, uma Copa Libertadores e muitos gols com a camisa da seleção brasileira.
Esta tendência parece reviver a que tínhamos nos anos 50, 60 e 70. Em nosso solo, o rei Pelé e Edu, um de seus maiores companheiros, já brilhavam aos 17 anos. Coutinho foi outro que banalizou a palavra recorde. Isso sem citar craques estrangeiros e de outras épocas que não se dissociavam das palavras “precoce” e “recorde”.
Retornando ao nosso mundo atual, geralmente quando se escuta a palavra precoce, logo vem à mente o nome do norueguês Martin Odegaard. Com somente 16 primaveras, a jovem joia, agora do Real Madrid, já estreou pela sua seleção nacional e é sinônimo de futuro do futebol mundial.
Um país (des)conhecido
Porém, é muito longe dos holofotes europeus e das canteras sul-americanas que se encontra um jogador, ou melhor, um adolescente, que assombrou o mundo nos últimos três anos. Mais precoce que Odegaard e Neymar juntos, Bimal Gharti Magar, ou simplesmente Bimal Magar, já é considerado a maior promessa de um pequeno país asiático.
Nascido em 26 de janeiro de 1998, Bimal é nativo da cidade de Nawalparas, uma das melhores províncias do pouco conhecido e exótico Nepal. Com uma população de pouco mais de 26 milhões de habitantes, o país não é conhecido exatamente pela prática do futebol. Em uma nação ainda com muitos problemas estruturais e uma economia incipiente, o grande “cartão postal” do país é o monte Everest, pico mais alto do mundo.
Essencialmente agrícola, a nação mantém ainda tradições muito antigas e vários dos costumes se assemelham em parte aos dos indianos. Isso, claro, em algumas partes do país. A pátria, em sua maioria hinduísta, tem como principais esportes o críquete e o futebol.
Mesmo diante de uma paixão futebolística inexplicável, o país não tem quase nenhuma tradição no esporte-bretão. Apenas na longínqua 180°posição do ranking da FIFA, alguma evolução é notada no futebol do país. E é nesse contexto que surge uma das principais promessas do futebol asiático.
A grande promessa nepalesa
Bimal Magar é tratado como prodígio desde sempre. Filho de um famoso jogador local (Hom Bahadur), ele já destacava em competições interescolares país afora. Em 2012, aos 14 anos, disputou a AFC U-14 Football Festival e foi um sucesso absoluto. Oito gols, elogios do treinador e admiração de todo o país. O cenário estava sendo montado para o surgimento de um popstar local.
A sina de gols do artilheiro canhoto continuava. Podendo atuar mais centralizado ou livre pelo lado esquerdo, Magar continuava a marcar mais e mais gols pelo torneio de base que participava- tanto em âmbito clubístico quanto na seleção nacional.
Mesmo em uma ótima fase e já tornando-se conhecido no país, Bimal ratificou a sua fama e quebrou recordes ao entrar em campo com a seleção principal para a disputa de uma partida contra Bangladesh, ainda em 2012. A história estava começando a ser escrita. Já era o debutante mais jovem da história do país.
O produto da Central ANFA Academy foi mesmo estourar no ano seguinte. Em meio a muita badalação e a vida de um adolescente que contava com a pecha de pospstar local, Bimal marcou o seu primeiro gol com a seleção principal do Nepal aos 15 anos. Isso mesmo! Em plena SAFF Championship, Magar fazia história contra os rivais paquistaneses. Um gol que emocionou uma nação. Encheu de esperanças um sofrido país.
O tento foi histórico. Ele é o mais jovem a marcar com a camisa nepalesa e o sexto jogador mais jovem da história a marcar por seleções nacionais.
Interesse europeu aumenta
Claro que, após os acontecimentos, o assédio europeu aumentou. O canhoto passou a receber convites para períodos de testes no velho continente. No Twente, clube médio holandês, encantou. Marcou quatro gols e deu uma assistência na sua primeira partida. A permanência só não foi possível graças a problemas burocráticos.
No ano seguinte, já em 2014, foi para o Anderlecht, uma das principais equipes de base da Europa. Na Bélgica, também teve ótimo desempenho. Foi titular da equipe durante a disputa da famosa Aegon Cup.
Porém, graças novamente a dificuldades burocráticas, Bimal não permaneceu na equipe. Em meio à idas e vindas, ele treinava em alguns clubes do território natal, inclusive no tradicional Lakeside FC.
Em janeiro deste ano, já aos 16 anos e ostentando definitivamente o rótulo de popstar e ídolo nacional, Bimal foi para um período de dois meses no belga K.R.C. Genk. Chance novamente de brilhar nos gramados europeus.
Estabilizado na seleção nacional, Bimal Magar parece um veterano mesmo com tão pouca idade. Aos 16 anos, já foram vários capítulos escritos como profissional. O mais importante de tudo é que o talento do jovem segue inabalável e a esperança de um povo nos seus pés continua crescendo.
No entanto, o talento de Bimal não foi suficiente para garantir a virada nepalesa sobre a Índia pelas Eliminatórias para a Copa 2018. Titular nos dois jogos, ele não evitou o revés por 2 a 0 na partida de ida, e na volta não conseguiu reverter a desvantagem, em um empate por 0x0 que eliminou o Nepal.
Mas fica a esperança para o pequeno país asiático. Quem sabe um oásis não surja? Um raro talento em meio ao deserto.
Números e recordes de Bimal Magar
– Partidas e gols pela seleção principal: 8 jogos/1 gol
– Partidas e gols pela seleção sub-17: 11 jogos/13 gols
– Jogador mais jovem a entrar em campo por Nepal
– Jogador mais jovem a marcar pela seleção nepalesa
– 6° jogador mais jovem a marcar por uma seleção nacional
– 1° jogador nepalês a atuar em um clube de grande relevância europeia
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