Quatro novos Maradonas do Boca Juniors

Quatro novos Maradonas do Boca Juniors

Conheça quatro nomes que desiludiram os torcedores do Boca

COMPARTILHAR

Já faz 17 anos que os amantes do futebol não se deleitam com as atuações de Diego Armando Maradona. Se é doloroso para qualquer pessoa que gosta do esporte, imagina para os argentinos. Mais do que gênio, Maradona é antes de tudo uma instituição sagrada para os Hermanos. Um ídolo quase intocável.

É comum, após a aposentadoria de um craque deste porte, surgirem promessas de jogadores com o mesmo estilo de jogo e que possam ocupar o lugar deixado pelo ídolo. Neste caso, esta alcunha de “Novo Maradona” surgiu antes mesmo da aposentadoria de “El Pibe”. A procura por um atleta que ocupasse os corações argentinos virou quase uma loucura. E estigmatizou alguns atletas.

A equipe do Alambrado resolveu mostrar quatro casos de jovens jogadores que receberam essa responsabilidade e não conseguiram corresponder aos votos de confiança dos torcedores. Os quatro atletas têm em comum o time de formação: Boca Juniors, o amado time de Maradona.

Diego Latorre- O primeiro “Novo Maradona”

Era fim da década de 80 e início dos anos 90. Era dourada do futebol argentino. Diego Armando Maradona já tinha conseguido lugar no Hall dos maiores da história. Brilhava no Napoli e na seleção argentina – pela qual campeão mundial na Copa de 86. Em Buenos Aires, outro Diego dava o ar da graça.

No Boca Juniors, o baixinho e elegante Diego Latorre dava seus primeiros passos como profissional em 1987. Logo de início, conquistou os fãs do Boca Juniors com muito talento e habilidade. Mais um Diego envergava a camisa 10 Xeneize.

A ousadia e velocidade de Latorre eram características a jogadores de grande nível. Já em 1990, fez um ótimo Campeonato Argentino, inclusive marcando gols de extrema beleza. Aos 20 anos, tinha conquistado o país e era um dos atletas que contava com maior clamor popular para estar na Copa do Mundo daquele ano. Porém, não foi.

O habilidoso Diego Latorre (Foto: Reprodução/labombonera.com.ar)
O habilidoso Diego Latorre (Foto: Reprodução/labombonera.com.ar)

Ao lado de Batistuta, incomodava os zagueiros do campeonato local. Além da habilidade e jogo vistoso, também marcava muitos gols. Foram 33 em 119 partidas, além da artilharia do Apertura 1992. Notabilizou-se também por ser campeão do polêmico Clausura 1991.

No mesmo ano, usou a camisa 11 albiceleste na Copa América. Apesar de ser reserva na maior parte do torneio, marcou um gol em um dos últimos títulos da seleção. O sucesso era gigantesco. Foi nesta época que surgiu a alcunha de “novo Maradona”.

O “hype” era muito grande em cima do atacante. Já aos 23 anos, era uma das grandes promessas do futebol mundial. Em 1992, o Boca Juniors recebeu uma proposta da Fiorentina por Latorre. Na Itália, ele reencontrou o parceiro Batistuta. No entanto, o sucesso da dupla não foi repetido. Enquanto o badalado Latorre fez apenas duas partidas pela Viola, Batistuta se tornou em um dos maiores jogadores da história do clube.

Depois de fracassar na Fiorentina, foi para a Espanha. E foi lá que ele voltou a apresentar grande futebol. No Tenerife, tornou-se um dos jogadores mais queridos da torcidas. Ajudou o clube a surpreender e eliminar o poderoso Real Madrid em uma Copa do Rei, em pleno estádio Santiago Bernabeú.

Quando parecia que a sua carreira ia alçar voos maiores, Diego Latorre acertou com o modesto Salamanca. Inconstante, fracassou no clube. Aos 27 anos, o antes prodígio precisava de um rumo. E ele veio, na volta para a terra natal.

Novamente na Argentina,, voltou a atuar pelo clube em que era muito querido. Foi mais uma vez muito bem pelo Boca Juniors. Na segunda passagem, novamente o habilidoso jogador alcançou sucesso. Foram 23 gols em 67 jogos. Porém, o ciclo chegou ao fim após a polêmica declaração de que o Boca parecia um cabaré. Fim de uma bonita história pelos Xeneizes.

Ao aceitar proposta do rival Racing, Latorre colocava fim a qualquer tipo de idolatria que possuía no Boca Juniors. A carreira do jogador que prometia ser o “novo Maradona” só decaiu a partir disso. O atleta passou até pelo futebol guatemalteco – onde foi campeão com o Comunicaciones.

Em 2006, após uma carreira cheia de ilusões, Diego Latorre se aposentou dos gramados. A frustração de não ter sido o que prometia provavelmente ainda afeta alguns torcedores argentinos. E por que não o próprio Diego Latorre? Ele, aquele que foi o primeiro “novo Maradona”.

César La Paglia- Outro talento de “La Paternal”

As semelhanças às vezes são mera coincidência. As trajetórias no início de carreira do hoje desconhecido César La Paglia e Maradona foram muito parecidas.

Talento da prolífica cantera do Argentinos Juniors, La Paglia foi pinçado pelo Boca de Carlos Bilardo. Em um pacotão vindo de La Paternal, ele foi para os Xeneizes juntamente com Fabricio Coloccini, Pablo Islas, Carlos Marinelli e um tal de Juan Roman Riquelme.

O ano era 1996 e La Paglia, então com 17 anos, juntar-se-ia a um elenco que tinha como camisa 10 Diego Armando Maradona.
Um ano antes, participou das campanhas da Argentina no Sul-Americano Sub-17 e no Mundial da categoria.

Em ambas as ocasiões, foi o camisa 10, o enganche. Em um time que tinha Pablo Aimar no elenco, La Paglia brilhava como o grande meia da equipe. Clássico armador à moda antiga, ele tinha a elegância como principal virtude em campo. Além das assistências, marcou dois gols no mundial e, juntamente com os companheiros, conseguiu o terceiro lugar da competição. Ainda foi eleito o segundo melhor jogador no torneio.

O início cabeludo de La Paglia (Foto: Reproduçãoo/labombonera.com.ar)
O início cabeludo de La Paglia (Foto: Reproduçãoo/labombonera.com.ar)

A palavra prodígio era encontrada em larga escala no dicionário de La Paglia. Em 1997, teve seu debute dos sonhos. Em amistoso contra o ótimo Ajax de Van Gaal, fez um golaço na segunda etapa que deu a vitória para a equipe de Buenos Aires. Tento que causou admiração e botou esperança nos torcedores que viram Maradona se aposentar.

Aos 18 anos, já aparecia no elenco principal do Boca Juniors e cavava espaço entre os titulares. Porém, as lesões não o ajudaram a ocupar um espaço de destaque na equipe. Em seis anos, foram 38 jogos e apenas três gols.

Depois da carreira em La Bombonera, La Paglia seguiu para o Talleres. Em Córdoba, voltou a apresentar o futebol de outrora. Como meia clássico, conseguiu anotar 11 gols em 47 partidas.

No futebol europeu, foi muito bem no Tenerife. Porém, após certa estabilidade e alguns brilharecos, foi perdendo fôlego e não aguentando as lesões seguidas. Passou por outros clubes importantes na França, Colômbia e, por fim, jogou pelo San Martin de Tucuman, time no qual encerrou a carreira com somente 30 anos.

Já sem cabelo no decorrer da carreira 9Foto: Reprodução/labombonera.com.ar)
Já sem cabelo no decorrer da carreira (Foto: Reprodução/labombonera.com.ar)

O jovem promissor do Mundial sub-17 de 1995 não era mais o mesmo. O cabelo também já havia se esvaído. Difícil explicar tamanho talento que não vingou.

Carlos Marinelli- A antítese do gol

Também proveniente do Argentino Juniors, Caros Marinelli teve uma carreira meteórica. A fama repentina bateu à porta logo no início como profissional. Aliás, uma fama repentina inexplicável.
Aos 14 anos, desembarcou no clube de La Bombonera. Nas categorias de base, Carlos Marinelli era uma espécie de astro. O esguio meio-campista estreou pela equipe principal Xeneize aos 17 anos. Pouco tempo depois e quase sem fazer nenhum jogo de destaque, os ingleses – e fortes à época – do Middlesbrough compraram o jogador por 1.5 milhão de libras. Valor muito alto por uma promessa.

A habilidade em carregar a bola era notória. Com seus dribles, Marinelli abria muitos espaços pelas defesas adversárias. Era uma espécie de Juninho Paulista – seu companheiro no time inglês – argentino.

O franzino Carlos Marinelli no Boro (Foto: Reprodução/xtratime.com)
O franzino Carlos Marinelli no Boro (Foto: Reprodução/xtratime.com)

Parecia que o meio-campista não estava pronto para um campeonato tão competitivo. E não estava. Além da inexperiência, a fragilidade física e falta de precisão nos arremates minaram as chances na equipe da Inglaterra.

Em 2003, foi emprestado para o Torino. As esperanças de dias melhores para o jovem não foram bem sucedidas na Itália. Foram sete jogos e nenhum gol na primeira passagem. Em 2004, o Middlesbrough liberou o jogador para o Boca Juniors. Em uma aventura desastrosa na terra da rainha, Carlos Marinelli alcançou números vergonhosos: 42 jogos e três gols. Decepção total para os ingleses e desilusão dos argentinos.

A alcunha de “novo Maradona”, dada na Inglaterra, foi posta à prova novamente na Argentina. Mais duas passagens frustrantes: a primeira pelo Boca Juniors e a segunda pelo Racing. Em 2005, ainda com 23 anos, não vingou novamente no Torino.

Após mais uma tentativa fracassada, parecia mesmo estar anunciada a carreira de andarilho da bola e promessa que nunca se cumpriu. Passou por Portugal, Estados Unidos e até pelo futebol húngaro.
Em 2011, chegou ao San Martin do Peru. No que parecia ser mais um clube de uma carreira sem brilho, Marinelli conseguiu uma sequência de jogo. Foram quase 100 jogos em quatro anos e o feito de ter marcado oito gols. Em abril, com 33 anos, anunciou a sua aposentadoria.

Em 16 anos como profissional, pouco mais de 15 gols marcados e rótulo de eterna promessa do futebol argentino. Uma promessa que o Boca Juniors e os fãs de futebol não conseguiram ver brilhar.

Franco Cángele – Talento campeão

Um dos últimos nomeados a receber a nomeação de salvador. A condição imposta a Cángele como sucessor de Maradona foi muito dura. Apesar dos atributos técnicos que destoavam demais dos outros jogadores de sua idade, Cángele era apenas um adolescente quando subiu à equipe principal do Boca Juniors.

E que equipe! O time dirigido por Carlos Bianchi era bicampeão da Libertadores e , em 2003, conquistava a sua quinta taça da competição. Um elenco que contava com as estrelas Delgado e Schelotto, além do promissor Tevez.

Em meio à era de ouro, Cángele estreava pelos Xeneizes. Técnico, canhoto e habilidoso. Atributos para convencer qualquer um. A ótima Libertadores do Boca Juniors em 2003 teve em Cángele alguns lampejos. Apesar da pouca idade, talvez tenha sido a grande temporada do jovem no clube.

Franco Cángele no boca Juniors (Foto: Reprodução/elanacional.com.uy)
Franco Cángele no Boca Juniors (Foto: Reprodução/elanacional.com.uy)

Passagem boa, mas curta. Após perder cobrança nas penalidades máximas na final da Libertadores 2004 contra o Once Caldas, Cángele passou a ser olhado com mias desconfiança. Sua vida no Boca Juniors estava chegando ao fim e o jovem de 20 anos foi tentar se afirmar no Independiente.

Em Avellaneda, pouco jogou. Assim como no Colon. Apesar dos fracassos, a técnica do jogador já tinha ultrapassado fronteiras. Em 2006, desembarcou na Turquia. Primeiro, no pequeno Sakaryaspor. Depois, acertou com o Kaseryaspor. Por lá ficou quatro anos e demostrou um pouco da qualidade que prometia.

Foram ótimos anos e um título da Copa da Turquia. Em 92 jogos, 18 gols, além de várias assistências e muitos dribles. Tal currículo o trouxe de volta para o Boca Juniors. Em 2013 o bom filho à casa tornava. Mais experiente, Cángele apresentou um futebol razoável nos poucos jogos que fez. Mesmo assim saiu após seis meses.

Voltou para a Turquia, onde está até hoje, no Elazigspor. Lá é titular e camisa 10 mais uma vez. Aos 30 anos, Cángele não foi um “novo Maradona”. Mesmo assim, alcançou muitos títulos, como a Libertadores 2003 e a Copa Sul-americana 2004, e até encantou em alguns momentos. O peso parece ter sido muito grande pra ele.

Deixe seu comentário!

comentários