28 minutos, briga e invasões: O primeiro “Superclássico” argentino da era profissional

28 minutos, briga e invasões: O primeiro “Superclássico” argentino da era profissional

Rivalidade provocou confusão enorme em duelo de 1931

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Tensão tomou conta no primeiro Boca x River da era profissional (Foto: Reprodução)
Tensão tomou conta no primeiro Boca x River da era profissional (Foto: Reprodução)

A história de alguns clássicos do futebol mundial é tão rica que às vezes é difícil destacar só um capítulo delas. No caso da rivalidade entre Boca Juniors e River Plate, reconhecida devidamente como uma das maiores do mundo, não faltam jogos memoráveis que precisam ser lembrados por muitas décadas. E com certeza o primeiro “Superclássico” disputado pelos gigantes de Buenos Aires na era profissional se encaixa nesse perfil.

O ano era 1931. Em maio, os jogadores argentinos haviam entrado em acordo com os clubes para o início do profissionalismo no futebol local. E quem se aproveitou melhor das novas regras nesse primeiro momento foi o River, que investiu pesado em um dos grandes craques da época, o atacante Carlos Peucelle. O artilheiro foi contratado junto ao Sportivo Buenos Aires por 10 mil pesos – quantia espantosa para a época.

Com isso, o River fez valer o apelido de “Millonarios”, que o acompanha até hoje, e se credenciou como maior favorito ao título do primeiro Campeonato Argentino profissional da história. O único adversário que parecia fazer frente era justamente o grande rival Boca, que contava com o histórico artilheiro Francisco Varallo em suas fileiras.

O embate entre os dois estava marcado para setembro, no Estádio de Brandsen y Del Crucero, antiga casa dos xeneizes antes de ser demolido para a construção da Bombonera. A expectativa para o duelo era tão alta que cinco horas antes do pontapé inicial uma fila com mais de 30 mil pessoas já se formava do lado de fora do estádio.

Os ingredientes para uma partida histórica já estavam preparados: Dois grandes times, que já cultivavam uma rivalidade por três décadas e que entravam em uma nova era querendo impor sua superioridade, cada um à sua forma. E realmente a história foi feita naquele 20 de setembro, mas de uma forma inesperada.

O jogo começou com pressão do lado visitante. O River adotou uma tática de abafa para surpreender os adversários, e criou boas chances desde o apito inicial. A insistência deu resultado aos 16 minutos, vindo justamente de quem mais se poderia esperar. O astro Peucelle invadiu a área, deslocou o goleiro e abriu o placar para os Millonarios.

A partir daí o jogo esquentou. As duas torcidas se faziam soar alto no Brandsen y Del Crucero, e o Boca não viu outra alternativa a não ser se lançar ao ataque para evitar o vexame de uma derrota para o maior rival. A resposta veio aos 25 minutos, e foi aí que começou a confusão.

Varallo invadiu a área do River e foi derrubado pelo zagueiro Belvidares. O árbitro Enrique Escola, com um certo atraso, marcou pênalti. Indignados com a marcação, os jogadores do River cercaram o juiz, e em certo momento a bola até sumiu. Depois de muita reclamação, a ordem foi brevemente reestabelecida e Varallo pôde fazer a cobrança.

No entanto, o artilheiro acabou chutando nas mãos do goleiro Iribarren, que por sua vez não conseguiu segurar a pelota. Os dois dividiram o rebote, e no meio da confusão ela acabou entrando no gol. O árbitro confirmou o tento para os donos da casa, provocando a ira completa dos visitantes, que pediram falta de ataque.

Mais uma vez Escola foi cercado, e dessa vez os protestos foram tantos que ele acabou expulsando três jogadores do River: O goleiro Iribarren e os defensores Belvidares e Lugo. Enquanto isso, parte da torcida invadia o campo, o que obrigou a polícia a entrar em ação. Pequenos tumultos também eram vistos nas arquibancadas.

Em meio ao caos, o árbitro foi visto correndo de volta para o vestiário, falando que havia sido agredido pelos jogadores do River. Como os atletas expulsos se recusaram a se retirar de campo, Escola solicitou aos policiais presentes que os levassem detidos.

Por conta disso, o capitão Iribarren pediu para seu time inteiro se retirar de campo, definindo o fim da partida. Mas a confusão na parava por aí: Revoltados com o que havia acontecido, torcedores do River começaram a atear fogo aos assentos de madeira no estádio rival. Os bombeiros precisaram ser chamados para controlar as chamas e evitar um desastre.

Com isso, um jogo que durou apenas 28 minutos acabou se tornando um dos maiores exemplos da tensão histórica entre Boca e River. A Associação de Futebol Argentino deu a vitória ao Boca por 1×0, e o time azul e dourado acabaria se sagrando campeão naquela temporada.

 

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