1941: O ano em que os austríacos do Rapid conquistaram a Alemanha

1941: O ano em que os austríacos do Rapid conquistaram a Alemanha

Virada histórica contra o Schalke deu ao Rapid o título alemão em 1941

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o elenco do Rapid campeão da temporada 1940/1941 (Foto: Reprodução)
o elenco do Rapid campeão da temporada 1940/1941 (Foto: Reprodução)

O dia era 22 de junho. O sol mal aparecia por completo no céu de Berlim quando as rádios locais começavam a trazer um importante informe: As tropas alemãs haviam invadido a União Soviética, quebrando assim o pacto de Ribbentrop-Molotov e dando início à Operação Barbarossa. A iniciativa acabaria sendo um passo decisivo para a derrota germânica na Segunda Guerra.

Já envoltos no conflito desde 1939, os alemães não deram tanta atenção à notícia, apesar de sua importância. A pauta do dia em Berlim era outra, muito menos trágica para um povo que buscava alternativas para se distrair dos horrores da guerra. Aconteceria naquele domingo a final do Campeonato Alemão.

De um lado, o Schalke 04, clube que dominava o futebol no país desde a década de 30 e havia conquistado cinco títulos nas sete edições anteriores do torneio. Com craques como Ernst Kuzorra e Fritz Szepan em suas fileiras, o time de Gelserkichen parecia o exemplo perfeito de supremacia.

Schalke celebra um de seus títulos na década de 1930 (Foto: Reprodução)
Schalke celebra um de seus títulos na década de 1930 (Foto: Reprodução)

Adolf Hitler, que nunca havia demonstrado muito entusiasmo pelo futebol, aproveitava a popularidade do Schalke para utilizar as principais estrelas da equipe como porta-vozes do regime nazista, com direito a condecorações e até regalias para quando servissem ao exército.

O currículo dos azuis-reais assustava, mas do outro lado estava um adversário à altura. O Rapid Viena, que disputava o Campeonato Alemão desde 1938 devido à anexação da Áustria por parte da Alemanha, também tinha credenciais de peso.

Logo no primeiro ano da junção, o Rapid superou as dificuldades e sagrou-se campeão da Copa da Alemanha, com uma vitória por 3×1 sobre o FSV Frankfurt. O time contava com vários atletas que haviam composto a forte seleção austríaca na Copa de 1938.

Para chegar àquela final de 1941, o Rapid passou por duros testes. Na fase inicial, enfrentou nove equipes austríacas em busca de uma vaga para a etapa seguinte do torneio, e cumpriu a missão com impressionante segurança: doze vitórias e apenas duas derrotas.

Depois de passar mais uma vez com tranquilidade pela segunda fase (já contra adversários alemães), o time de Viena enfrentou o forte Dresdner nas semifinais. Vitória por 2×1 e vaga garantida para a decisão.

O jogo

95 mil espectadores encheram o Olympiastadion para ver o embate entre as duas equipes, que já tomava ares de rivalidade desde o início, por razões culturais e religiosas. Os austríacos, católicos, não tinham as melhores relações com os “prussianos”, protestantes.

Além disso, existia um sentimento de revanche dos torcedores da Áustria em função da morte suspeita de Mathias Sindelar, ídolo do país que faleceu pouco depois de se recusar a defender a Alemanha.

Dois anos antes, outro time de Viena, o Admira, também havia “ousado” chegar à final do Campeonato Alemão, contra o mesmo Schalke 04. O resultado foi um implacável 9×0 para o time azul.

Por conta disso, a esmagadora maioria dos alemães acreditava em mais um triunfo do Schalke, que tinha tudo para manter sua hegemonia. A expectativa só aumentou quando, logo aos cinco minutos, Heinz Hinz abriu o placar para a equipe de Gelsenkirchen.

O Rapid mal teve tempo para reagir ao baque do primeiro gol. Três minutos mais tarde, Hermann Eppenhoff aumentou a vantagem do Schalke. O jogo não tinha nem dez minutos e o time alemão já tinha uma mão na taça. Havia como aumentar o favoritismo?

A resposta é sim. No início do segundo tempo, Heinz Hinz marcou mais uma vez, deixando o placar em 3×0 e a torcida dos “mineiros” em êxtase. A reação do Rapid era algo muito improvável, até mesmo quando Georg Schors diminuiu o placar para 3×1, apenas quatro minutos depois.

Enquanto o alto escalão do regime se preparava nas tribunas para entregar a taça ao capitão do Schalke, um gigante resolveu acordar, mudando a história da partida.

A virada

Binder, heroi do Rapid (Foto; Reprodução)
Binder, heroi do Rapid (Foto; Reprodução)

No alto de seus 1,90m, o centroavante Franz Binder já tinha o status de ídolo no Rapid antes mesmo daquela final de 1941, por conta de sua altíssima média de gols (ele teria marcado mais de mil gols na carreira). Mas a decisão faria com que alcançasse o patamar de uma lenda.

Aos 18 minutos, ganhou da defesa do Schalke no jogo aéreo para diminuir ainda mais a desvantagem. Apenas dois minutos depois, pênalti para o Rapid. Sem fugir da responsabilidade, Binder cobrou e marcou o gol de empate.

Àquela altura, a reação do time de Viena já parecia um feito e tanto. Mas o principal ainda estava por vir: Aos 30 minutos, com um chutaço de fora da área, Binder marcava seu terceiro gol e virava o jogo para os austríacos.

 

Estava definida uma reviravolta épica, para surpresa do público no estádio, que reconheceu a grandeza do time de Viena e a qualidade do espetáculo que haviam visto naquele 4×3. Era a vitória do Rapidgeist, ou “Espírito Rapid”, uma marca que o time carrega até hoje nas vitórias conquistadas na base da superação. Aquele seria o único título de um clube austríaco no Campeonato Alemão.

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