Zebras que Bateram na Trave – O Panathinaikos da raça em campo...

Zebras que Bateram na Trave – O Panathinaikos da raça em campo e do gênio no banco

Confira a primeira parte do especial, sobre o surpreendente Panathinaikos vice-campeão europeu em 1971

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Um dos fatores mais apaixonantes do futebol é a capacidade que o esporte tem de apresentar grandes zebras. Quem não gosta de ver um azarão surpreendendo os gigantes e derrubando os prognósticos? A menos que seja contra o seu próprio time, é claro.

Desde que o jogo foi criado, existem vários exemplos de equipes que se superaram e acabaram deixando times muito mais fortes (tecnica e historicamente) pelo caminho, levantando a taça no final de uma brilhante trajetória e ganhando seu lugar no Olimpo do esporte bretão.

A essas equipes, damos os merecidos parabéns. Mas este especial tratará sobre outros, que nem sempre são lembrados, já que não conseguiram dar o último passo em direção à glória. Mas isso não é motivo para não prestar as devidas honras às Zebras que Bateram na Trave.

Já que estamos tratando de história, vamos começar pela Grécia, tão prolífica nas narrativas épicas ao longo dos tempos. E no esporte não é diferente. Quando se fala de futebol grego e zebra, a primeira lembrança provavelmente é da conquista heroica da Euro 2004. Mas os gregos já haviam surpreendido o mundo da bola antes.

Em 1970, o futebol no país não era muito levado a sério, ao menos internacionalmente. Dentro dele, no entanto, pelo menos um time dava razões para ser temido: O Panathinaikos, que havia conquistado 6 dos últimos 10 campeonatos nacionais, era o adversário a ser batido.

Tentando ser reconhecido a nível continental, a diretoria do Panathinaikos investiu em um reforço de peso. Mas não para o elenco, e sim para o comando. Ninguém menos que o húngaro Ferenc Puskás, um dos maiores jogadores da história, que tentava a sorte como técnico após breves passagens pela liga norte-americana e o Alavés, da Espanha.

Ao assumir o time, Puskás já podia ter ao menos uma certeza: Nenhum de seus comandados tinha futebol próximo ao que ele mostrava em seus tempos de atleta. Apesar da dominância na liga grega, o Panathinaikos não era nenhum esquadrão marcado pela técnica.

No entanto, disciplina e vontade não faltavam. Ninguém iria passar por cima daquele time facilmente. E com um gênio no banco de reservas dando algumas dicas as coisas ficariam mais fáceis. Dentro das quatro linhas, o time contava com dois destaques, o volante Mimis Domazos e o atacante Antonis Antoniadis.

Sem muitas armas mas com a bravura dos lendários guerreiros gregos, o Panathinaikos iniciou a disputa da Copa dos Campeões da Europa de 1970/71 com certa dose de sofrimento.

Vitória apertada por 2×1 contra o modesto Jeunesse Esch, de Luxemburgo, fora de casa. Na volta, em Atenas, 5×0 e vaga para as oitavas garantida, com direito a quatro gols de Antoniadis.

O artilheiro Antoniadis marcou 10 gols na campanha (Foto: Reprodução)
O artilheiro Antoniadis marcou 10 gols na campanha (Foto: Reprodução)

Na fase seguinte, ficaria clara a força do time do Trevo em sua casa, o estádio Apostolos Nikolaidis. 3×0 contra o bom time do Slovan Bratislava. O resultado trouxe a tranquilidade necessária ao time, que se deu o luxo de perder a partida de volta por 2×1 e mesmo assim ficar com a vaga.

O baixinho Domazos era o líder da equipe (Foto:Reprodução)
O baixinho Domazos era o líder da equipe (Foto:Reprodução)

Nas quartas de final, o Panathinaikos já havia chegado mais longe do que se esperava. Puskás havia encontrado um bom padrão de jogo para a equipe, que atuava em um 4-3-3 bastante dinâmico, com Domazos livre para se movimentar no meio de campo.

O adversário, no entanto, merecia respeito. Era o Everton, atual campeão inglês, que vinha com Alan Ball e Joe Royle em grande fase. E o primeiro duelo, no Goodison Park de Liverpool, foi típico de um jogo decisivo.

Muitas faltas, tumultos, jogo aéreo e divididas firmes. Foi assim até os 36 do segundo tempo, quando a bola finalmente balançou as redes. Mas a torcida local não tinha nada a comemorar. Antoniadis, o artilheiro grego, abriu o placar para o Panathinaikos.

Se a tensão já era grande, só aumentou. A torcida do Everton, chocada e indignada pelo tento adversário, mostrava-se impaciente e implorava pelo gol de empate. E ele veio, mérito de David Johnson, já nos acréscimos.

Mesmo deixando a vitória escapar, o resultado ainda era histórico para o Panathinaikos, que só precisava de um empate sem gols para chegar às semifinais. E os gregos não deixariam essa oportunidade escapar. Com apoio da torcida, seguraram o Everton e garantiram o 0x0 necessário.

Agora entre os quatro melhores do continente, obviamente a situação não ficaria mais fácil. O adversário seria o temido Estrela Vermelha, com um trio ofensivo extremamente perigoso formado por Filipovic, Jankovic e Ostojic.

Eram muitos craques para prestar atenção, e na partida de ida, em Belgrado, o Panathinaikos não deu conta. 4×1 para os iugoslavos, com 3 gols de Ostojic. No entanto, o gol solitário de Kamaras dava esperança de uma possível reviravolta.

Foi com esse sentimento que 30 mil torcedores lotaram o estádio Apostolos Nikolaidis. E esses 30 mil viram a chance da virada aumentar quando o artilheiro Antoniadis abriu o placar logo no primeiro lance do jogo. O restante do primeiro tempo correu com os gregos martelando, mas sem conseguir se aproximar do gol.

No segundo tempo, os iugoslavos não resistiram. Aos nove, mais uma vez Antoniadis apareceu na frente e não perdoou. Aos 20, Kamara marcou o terceiro gol, da salvação. Ainda faltavam 25 minutos, mas a torcida já sabia que ninguém tiraria aquela vaga do “Trevo”. A partida ainda foi paralisada por conta de invasões ao campo.

O mais próximo que os gregos haviam chegado de uma final da Copa das Campeões era nos treinos diários com Puskas, que já havia conquistado o troféu três vezes. E sua experiência seria fundamental para enfrentar o adversário da final, que também tinha um gênio em ascensão.

O Ajax iniciava naquela temporada um período histórico, revolucionando o futebol mundial sob a batuta de Rinus Michels com o fantástico Johann Cruyff faminto por mostrar todo seu futebol.

A dualidade do confronto em Wembley estava bem clara. A raça do Panathinaikos contra a magia do Ajax. E logo no começo do jogo ficou claro quem levaria a melhor. Os holandeses dominaram completamente as ações do jogo, e abriram o placar logo aos cinco minutos, com Dick Van Dijk.

Antoniadis, o refúgio ofensivo das fases anteriores, mal conseguia tocar na bola, anulado pelo sistema rotativo do Ajax. Os gregos claramente não estavam preparados para o estilo moderno implantando por Michels. Aos 42 do segundo tempo, a punhalada final: Arie Haan selou a vitória dos holandeses por 2×0.

Chegava ao fim o sonho do Panathinaikos, com muito drama como qualquer tragédia grega. Mas os jogadores ainda seriam recebidos com festa no desembarque em Atenas. A torcida do clube alviverde sabia que seus guerreiros haviam lutado tudo o que podiam.

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