O que falta para a Internazionale?

O que falta para a Internazionale?

Elenco, vestiário, comissão técnica: por que um dos mais ricos clubes da Itália não consegue disputar títulos?

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47 do segundo tempo, 2 a 2. O time da casa vai para o ataque, tocando a bola. Aproveita a superioridade númerica, já que o adversário teve seu goleiro expulso. Até que Ben Sahar, mais livre que alemão no Mineirão, recebeu na área para fazer o gol da vitória do Hapoel Beer Sheva, de Israel. A derrotada, e consequentemente eliminada? Uma certa Internazionale.

A melancólica eliminação desta quinta (24) é só mais um capítulo do pesadelo sem fim da outrora gigante italiana. Simplesmente não parece que a mesma equipe que conseguiu um inacreditável pentacampeonato nacional na década passada, coroado com uma Liga dos Campeões, tenha se tornado uma espécie de Udinese.

Ao contrário de alguns anos atrás, dinheiro não falta. O clube já havia recebido investimentos de um magnata indonésio, e recentemente foi adquirido por um bilionário grupo chinês. Elenco tampouco é problema.

Icardi durante a derrota para o Hapoel Be'er (Foto: Divulgação/Inter)
Icardi durante a derrota para o Hapoel Be’er (Foto: Divulgação/Inter)

 

A zaga conta com Miranda e Murillo, dois atletas de seleção. O goleiro, Handanovic, é um dos melhores do mundo em sua posição. O meio-campo é um eldorado de jovens de muito potencial, como Kondogbia, João Mario, Brozovic, Gnoukouri e Zonta, além dos experientes Banega, Medel e Felipe Melo.

Ataque? Simplesmente Icardi, a referência técnica do time. Atleta que, não fosse seu temperamento, certamente já teria se transferido para o primeiro escalão de times da Europa. Fora Perisic, contratado em seu auge na Alemanha, o coringa Candreva, os úteis Jovetic, Éder, Biabiany e Palacio, e o promissor Gabriel.

No papel, é certamente um dos melhores times da Itália, talvez atrás somente da Juventus. A culpa é do comando técnico, então? Natural pensar desta forma, mas não é algo tão simples.

Somente nos últimos três anos, quatro técnicos diferentes já passaram pela equipe. Um número muito alto para os padrões da Europa. Mazzari, Mancini e agora De Boer, sem contar o auxiliar Vecchi, não conseguiram formar um time no lado azul de Milão.

A tentativa com Stefano Pioli, novo técnico, é interessante. O professor colheu bons resultados em um time limitado como o da Lazio, especialmente em 2014/15, quando terminou em terceiro lugar no Italiano. Mas será que o problema realmente está na comissão técnica?

Vestiário

O elenco, neste sentido, não favorece. Há diversos atletas de personalidade forte, como Icardi, Candreva, Felipe Melo, Medel e até o novato Gabriel, por exemplo. Atletas que nem sempre estão suscetíveis a grandes mudanças, como a chegada de um técnico de estilo completamente diferente.

Jogadores desse tipo costumam lidar melhor com treinadores que tentam não apenas implantar seus métodos de jogo e treino, mas também conquistar a confiança e o respeito do elenco. O popular técnico-boleiro, ou “paizão”.

De Boer é ex-jogador, mas havia um claro distanciamento entre ele e seus atletas. Aqueles que ficavam no banco de reservas e tinham poucas oportunidades não recebiam muitas explicações. Neste caso, quando os resultados não aparecem, abre-se uma enorme margem para insatisfações.

Gabigol na academia, seu ambiente de trabalho (Foto: Divulgação/Inter)
Gabigol na academia, seu ambiente de trabalho (Foto: Divulgação/Inter)

Padrão tático

É fato que a Inter utiliza atualmente o esquema nem-nem: nem defesa, nem ataque. A troca de treinadores e a saída de jogadores dificultou, mas desde os tempos de Mancini, que teve mais tempo e colheu melhores resultados, a equipe nunca impressionou em campo.

Ao menos, diga-se, a defesa era estruturada. Foram 38 gols sofridos na liga em 15-16, 3º melhor no quesito. Mas o ataque era ineficiente. 50 gols marcados, 33 a menos que a Roma, 2 a menos que o Torino, 12º colocado.

Ofensivamente, não há muito mais jogadas que as tabelas entre Icardi e Candreva na faixa direita do campo, ou Perisic pela esquerda, ou os levantamentos na área buscando o fato de gol do argentino. O envolvimento do meio de campo é praticamente nulo.

Isso torna o ataque da Inter extremamente previsível. Para as equipes que jogam na retranca, o time italiano é um alvo fácil. Não à toa, os melhores jogos do time na temporada foram em clássicos: vitória de 2 a 1 sobre a Juve em casa, empate em 2 a 2 com o Milan fora. Nos dois jogos, pesou a raça e a vontade deixada no gramado, muito mais que acertos táticos..

Elenco

A falta de soluções no ataque evidencia uma clara carência no elenco da Inter, a despeito do bom time no papel: faltam meio-campistas de qualidade ofensiva.

Atualmente, não há nem a figura do meia, aquele que atua mais adiantado, e nem o altamente popular “box-to-box” – há inúmeros jovens com essa característica no plantel, mas eles simplesmente ainda não atingiram o nível de qualidade necessária para assumir funções criativas, coisa que não é das mais simples.

Isso remete à principal contratação da temporada, o argentino Banega. Apontado como a alma do Sevilla tricampeão da Liga Europa, o meia é daqueles que contam com qualidade técnica, mas tem como maior característica a disposição, a força e o fôlego.

 

Banega, principal contratação da Inter para a temporada (Foto: Divulgação/Inter)
Banega, principal contratação da Inter para a temporada (Foto: Divulgação/Inter)



Era o diferencial do jogador no futebol espanhol, mas é algo mais comum no futebol italiano, muito mais exigente fisicamente. Talvez por isso Banega não tenha deslanchado e existe a possibilidade de que ele nunca assuma o protagonismo esperado na Serie A. Ainda assim, não deixa de ser útil para o nerazzurri.

Curiosamente, o próprio Sevilla melhorou com a saída de seu principal jogador, e a substituição do argentino pelo francês Nasri, desprestigiado no futebol inglês. Méritos para o técnico Jorge Sampaoli, é claro, mas fica o questionamento: valeu a pena o investimento gasto por Banega?

Fora o meio e o ataque, a equipe também precisa investir em banco de reservas. A zaga é difícil de ser substituída à altura, os laterais são apenas medianos.

O que esperar?

O bom trabalho de Pioli na Lazio traz esperança ao torcedor. Era um time equilibrado, com ataque e defesa eficientes, mesmo com as limitações do plantel.

Mas é preciso tempo. Não classificar-se para as competições europeias da próxima temporada é uma realidade presente, ainda que a precoce demissão de De Boer indique que a diretoria não está disposta a aceitar que isso aconteça.

Mesmo com o cenário difícil, Pioli terá de fazer o perfil milagreiro para tentar manter-se na próxima temporada, e, quem sabe, ganhar confiança para remodelar o plantel a seu gosto, contando com os milhões liberados pelos chineses.

O caminho mais curto para isso é a Coppa Italia. Vencer um título após cinco anos de jejum esconderia até uma campanha mediana no Campeonato Italiano. Em mata-mata, nada é impossível.

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