Dez curiosidades sobre a Copa de 1986

Dez curiosidades sobre a Copa de 1986

Veja alguns fatos marcantes na disputa do torneio que consagrou o bicampeonato mundial da Argentina

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Diego Maradona, nos braços do povo, entra para o Olimpo do futebol (Foto: Divulgação/FIFA)
Diego Maradona, nos braços do povo, entrava para o Olimpo do futebol (Foto: Divulgação/FIFA)

A Copa do Mundo de 1986 foi a 13ª edição do torneio realizado pela FIFA e contou com a participação de 24 seleções, divididas igualmente em seis grupos. Foi disputada no México, entre os dias 31 de maio e 29 de junho, e consagrou a Argentina como grande vencedora. Relembre fatos marcantes no aniversário de 30 anos deste Mundial.

TROCA DE SEDES

A Copa do Mundo de 1986 deveria ter sido realizada na Colômbia. No entanto, as dificuldades econômicas sofridas pelo país à época, somada às exigências das marcas comerciais e às da FIFA, que solicitava, além de grandes estádios, inúmeras regalias para os dirigentes da entidade, levaram o país sul-americano a renunciar à escolha da sede.

Assim, houve uma disputa entre México, Estados Unidos e Canadá para definir o novo anfitrião do Mundial. Como o torneio havia sido realizado 16 anos antes no país latino, que marcou o tricampeonato do Brasil, os mexicanos venceram de maneira unânime o pleito realizado em 1983, tornando-se os primeiros a abrigar duas Copas diferentes. De quebra, viram Pelé e Maradona levantarem a taça no mesmo local, o Estádio Azteca.

FERGUSON NA COPA

Na última rodada das eliminatórias, a Escócia, então treinada pelo histórico Jock Stein vivia uma situação relativamente dramática e precisava de um empate para garantir vaga nos playoffs contra a Austrália. O adversário seria o País de Gales, que havia vencido os escoceses por 1 a 0 na fase de grupos, em Glasgow.

Embora comandasse a seleção nacional desde 1978 e tentasse classificá-la pela quarta vez seguida ao torneio da FIFA, Stein, multicampeão pelo Celtic, estava sob significativa pressão para obter resultados positivos, já que havia sido eliminado da fase de qualificação para a Eurocopa em duas oportunidades (1980 e 1984).

No dia 10 de setembro de 1985, no Estádio Ninian Park, em Cardiff, o atacante Mark Hughes abriu o placar para os anfitriões aos 13 minutos. No segundo tempo, Stein tirou Strachan Gordon para dar lugar a Cooper David, que foi o responsável por anotar o gol de empate, em cobrança de pênalti, a 10 minutos do apito final.

Durante a comemoração, o treinador sofreu uma parada cardíaca e morreu no hospital, aos 62 anos. Seu assistente, Alex Ferguson, assumiu o cargo e viajou ao México para a Copa do Mundo. Lá, foi eliminado como lanterna, tendo perdido para Dinamarca (1-0) e Alemanha Ocidental (2-1), além de ter empatado com o Uruguai (0-0).

CAMISA IMPROVISADA

O jogo entre Argentina e Inglaterra pelas quartas de final, em 22 de junho, no Estádio Azteca, na Cidade do México, é histórico. Além de ter sido disputado sob um clima de tensão e hostilidade devido ao conflito bélico entre os dois países na Guerra das Malvinas, anos antes, a atuação de Diego Maradona foi uma das mais espetaculares em Copas.

No segundo tempo, o camisa 10 encobriu o goleiro Peter Shilton com a “mão de Deus” e logo depois driblou meio time rival até mandar a bola para o fundo da rede, na “jogada de todos os tempos”, segundo o narrador Victor Hugo Morales. Mas há uma curiosidade relacionada ao fardamento da equipe sul-americana que também merece destaque.

Camisa em gola V e sem os louros no escudo foi comprada às pressas (Foto: Reprodução/Taringa)
Camisa em gola V e sem os louros no escudo foi comprada às pressas (Foto: Reprodução/Taringa)

A camisa azul escura da Argentina era diferente do modelo original fornecido pela Le Coq Sportif, que havia usado a tecnologia Air-Tech só para o uniforme principal.

Contra o Uruguai, nas oitavas de final, o time havia sentido as dificuldades de jogar com o fardamento reserva, que era feito de algodão, no escaldante calor mexicano.

Sabendo que a Inglaterra atuaria de branco, o técnico Carlos Bilardo, então, pediu à marca que confeccionasse camisas mais leves para a partida contra os ingleses, o que não foi possível por falta de tempo. A três dias do jogo, Bilardo mandou Rubén Moschella, empregado da AFA, sair às ruas para resolver o problema agora de questão nacional.

Por sorte, Moschella comprou um novo conjunto de camisas após visitar várias lojas na capital mexicana. Os escudos foram bordados pelas costureiras do América, sem a coroa de louros da AFA (talvez por pressa), e os números pratas foram estampados a ferro.

INDISCIPLINA

O Mundial de 1986 não bateu o recorde de advertências, mas presenciou duas façanhas históricas, ainda que negativamente. Nele, o zagueiro uruguaio José Alberto Batista González recebeu o cartão vermelho mais rápido de todas as Copas. Ele foi expulso aos 56 segundos pelo árbitro francês Joel Quiniou após cometer grave falta em Gordon Strachan, na última rodada da fase de grupos

No empate por 2 a 2 entre Paraguai e Bélgica, também pela última rodada da fase de grupos, o paraguaio Cayetano Ré tornou-se o primeiro técnico expulso de campo na história das Copas. Por excesso de reclamação, ele foi advertido pelo árbitro búlgaro Bogdan Dotchev, que foi assistente na famosa partida entre Argentina e Inglaterra.

HINOS TROCADOS

No dia 1º de julho, Brasil e Espanha se perfilaram no gramado do Estádio Jalisco, em Guadalajara, para a execução dos hinos nacionais na estreia de ambos os países naquela edição do torneio. Os europeus não tiveram problemas, mas houve uma situação constrangedora ao ser reproduzida a melodia sul-americana.

O que saiu errado? A organização se equivocou na seleção das músicas e tocou o Hino à Bandeira. É claro que os atletas ficaram insatisfeitos com o ocorrido. Alguns inclusive acenaram negativamente com a cabeça, caso de Sócrates. O estádio vaiou a gafe, e os jogadores “boicotaram” a cerimônia e foram posar para a foto.

HORÁRIOS INGRATOS

Para atender a demandas televisivas e permitir que o horário das partidas coincidisse com o anoitecer europeu, e assim benefícios para os canais de comunicação, a FIFA alterou a programação e estabeleceu o início dos jogos nas tardes do escaldante verão mexicano. A escolha, obviamente, gerou muitas reclamações por parte dos jogadores.

Na época, diversos confrontos foram disputados sob o sol do meio-dia para beneficiar a audiência das TVs europeias. No Mundial do Brasil, também houve críticas de atletas por conta do clima no norte e no nordeste do país. Recentemente, a entidade que regula o futebol mundial decidiu mudar para o fim do ano a Copa de 2022, no Catar, devido às altas temperaturas na região.

O AZAR DE SABELLA

Alejandro Sabella não é um homem de sorte. Ao menos quando se trata de Copas do Mundo. Surgido nas categorias de base do River Plate e com passagem pelo futebol inglês, o ex-jogador voltou ao seu país natal ainda jovem para defender o Estudiantes de La Plata, que era treinado por Carlos Bilardo. Quando Bilardo assumiu a seleção, Sabella ganhou oportunidades e foi convocado para disputar a Copa América de 1983.

Sem se destacar no torneio continental, o jogador teria de enfrentar a concorrência de Ricardo Bochini, Carlos Tapia, Diego Maradona e Jorge Burruchaga para estar na lista de atletas relacionados para o Mundial de 1986. Como não atingiu as expectativas de Bilardo, ficou fora do elenco que se consagraria bicampeão mundial. Ele teve ainda a chance de se redimir em 2014, como técnico, mas Mario Götze lhe tirou esse sonho.

TREINADORES BRASILEIROS

Além de Telê Santana, havia mais dois técnicos brasileiros participando do Mundial no México em 1986. Um deles era José Faria, que saiu das categorias de base do Fluminense para o Oriente Médio e depois chegou ao Marrocos, em 1983.

Lá, treinou o FAR Rabat e a seleção. Sua maior façanha foi comandar os Leões do Atlas até as oitavas de final, liderando um grupo com Inglaterra (0-0), Polônia (0-0) e Portugal (3-1), o que tornou o Marrocos a primeira seleção africana a avançar de fase na Copa.

O outro brasileiro era Evaristo de Macedo, que substituiu o compatriota Jorge Vieira no Iraque meses antes do início da Copa. Curiosamente, Evaristo era o treinador do Brasil durante as eliminatórias, mas foi trocado por Telê Santana em 1985.

Fazendo a estreia do país asiático no torneio, o ex-jogador, que acumulou passagens por Flamengo, Barcelona e Real Madrid, foi eliminado na lanterna do grupo com derrotas para México (1-0), Paraguai (1-0) e Bélgica (2-1).

POPULARIZAÇÃO DA OLA

México 1986
Mundial no México espalhou a ola para o mundo (Foto: Divulgação)

Não se sabe ao certo quando nasceu a famosa coreografia nos estádios conhecida como “ola”.

Há versões conflituosas que atribuem seu surgimento aos torcedores mexicanos nos anos 1970, enquanto outras fontes reivindicam para si a criação do movimento no início da década de 1980, caso de canadenses e estadunidenses.

Mas é fato que a brincadeira ganhou popularidade na Copa do Mundo de 1986, inclusive sendo chamada em algumas regiões de “ola mexicana”, como no Reino Unido.

VIAGEM CAUTELOSA

No México, episódios de mal estar gastrointestinal são conhecidos como “Mal de Montezuma” e costumam afetar os turistas que visitam o país. A expressão baseia-se em uma crença associada a uma vingança silenciosa sobre os invasores espanhóis. Temendo as doenças diarreicas, a delegação belga levou em sua bagagem 20 mil litros de água mineral, para cozinhar e se higienizar, e centenas de quilos de queijo holandês.

Já a Itália, por outro lado, não se preocupou com a doença, mas fez questão de exigir à empresa aérea Alitalia a mesma tripulação que havia viajado à Espanha quatro anos antes, quando a Azzurra sagrou-se campeã mundial. A estratégia supersticiosa, como se sabe, falhou. Vice-líder de seu grupo, a Itália caiu para a França ainda nas oitavas de final.

CURIOSIDADES ENVOLVENDO O BRASIL

  • Em 1986, o Brasil voltou para casa sem ter perdido um jogo sequer pela segunda vez na história. Em 1978, na Argentina, o escrete canarinho obteve o polêmico terceiro lugar após 4 vitórias e 3 empates. Já no México, foi eliminado nas quartas de final para a França, nos pênaltis, com 4 vitórias e 1 empate.
  • Pela segunda vez consecutiva, a seleção nacional foi premiada com o Troféu Fair Play, oferecido pela FIFA à equipe mais disciplinada do torneio. O prêmio começou a ser distribuído na Copa de 1970, e o Brasil é o recordista com 4 distinções (1994 e 2006, dividido com a Espanha).
  • O paulista Romualdo Arppi Filho foi o segundo brasileiro a apitar uma final de Copa (Argentina 3-2 Alemanha), antecedido pelo carioca Arnaldo Cézar Coelho, que arbitrou a vitória da Itália sobre a Alemanha (3-1), em 1982.
  • Antes de 1998 e 2006, o Brasil já havia enfrentado um Zidane: Djamel, que não tem parentesco com Zinedine. O jogo ocorreu no Estádio Jalisco, pela segunda rodada da fase de grupos, em 6 de junho. Djamel Zidane substituiu Lakhdar Belloumi no segundo tempo, após Careca marcar o único gol do encontro.
  • O Brasil encarou a França no dia 21 de junho, data que marca a conquista do tricampeonato mundial pela seleção canarinho e o aniversário de Michel Platini, que completava 31 anos. Ele perdeu sua cobrança na disputa por pênaltis, mas ainda assim comemorou a classificação para a semifinal.

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