A Bundesliga na década de 90 apresentava uma briga desigual. O Bayern de Munique dominava o campeonato local e brigava por títulos europeus todos os anos, não muito diferente do que acontece hoje.
Mesmo assim, alguns clubes brigavam e teimavam por um lugar no céu na liga local. O Kaiserslautern surpreendeu por duas vezes e levou o título. Porém, a grande surpresa da década foi o Freiburg.
Em um futebol com mudanças constantes, mas sempre com a Alemanha sempre brigando por títulos, a impressão é de que a modesta equipe do sul alemão trazia novidades ainda não experimentadas.
Treinador por Volker Finke, uma instituição da Bundesliga, desde 1991, o clube viveu momentos de êxtase nos anos 90. E contagiou a Alemanha, ainda sem tanta alegria no futebol durante a época.
Os Brasileiros da Brisgóvia
A alegria vista nos estádios nos campeonatos disputados empolgava. Uma cidade inteira voltada para uma instituição. Emoção compartilhada no Dreisamstadion, sempre lotado de jovens, adultos e idosos.
O futebol diferente que era praticado pelo Freiburg rendeu até um apelido. Os “Brasileiros da Brisgóvia”, região em que está inserida a cidade, surpreendiam e inspiravam. Apesar de não contar com um brasileiro no elenco, o estilo de jogo remetia ao Brasil.
A maestria de Finke
Ex-professor de matemática, Volker Finke desembarcou em Freiburg com o clube na segunda divisão. Ousado, foi arquitetando um grande projeto. Era necessário fazer algo diferente.
Em campo, a proposta de jogo era diferente da tradicional escola alemã. Priorizando a posse de bola e a pressão na saída de jogo, Finke subia as linhas da equipe, algo não muito comum à poca.
Em um futebol de transpiração e forte marcação, abrir espaços potencializa um time sem muitas estrelas. Na tática, conseguia ganhar de times mais poderosos e com destaques individuais. Talento na forma de jogar.
Fora das quatro linhas, houve um crescimento constante de público. Logo na sua segunda temporada, Finke foi campeão da 2. Bundesliga, com 27 vitórias, 11 empates e oito derrotas. Retrospecto muito bom.
Liderados por Maximilian Heidenreich, meio-campista faz tudo, e Andreas Zeyer, outro bom jogador da posição, o Freiburg chegava à primeira divisão com muita ambição.
Talvez ambições silenciosas. Para a temporada 1993-94, chegaram Rodolfo Cardoso, do Hamburgo, Martin Spanring, do Schalke 04, Uwe Wassmer, além de alguns outros.
A primeira temporada na Bundesliga depois de tanto tempo foi para se firmar. A 15ª colocação mostrava a necessidade de evoluir. Porém, já era possível notar uma diferença na maneira de atuar do time.
Foram 54 gols marcados em 34 jogos, média considerada alta para os padrões do futebol alemão. Número muito acima em relação aos clubes que ficaram na parte de baixo na tabela.
A torcida se empolgava cada vez mais. Era uma espécie de passeio marcado para o sábado no Dreisamstadion. Diversão quase garantida.
Temporada mágica dos “brasileiros alemães”
A temporada 1994/95 pode ser considerada a melhor da história do Freiburg. Entrosamento, torcida, técnico, time azeitado e Renato Cardoso. Parece que foram vários os ingredientes que levaram a equipe até a terceira colocação.
Jörge Heinrich, então com 26 anos, foi a cereja no forte meio-campo da equipe. A troca de posições frequente confundia marcações e marcadores.
Até mesmo o Bayern de Munique. A poderosa equipe experimentou a força dos “brasileiros da Brisgóvia”. Na segunda rodada, em visita ao sul da Alemanha, Lothar Mathaus e Jean-Pierre Papin saíram com um sonora goleada.
Os 5 a 1 davam um recado para o futebol alemão. Volker Finke mostrava que o estilo Freiburg estava instalado de forma quase completa. O argentino Renato Cardoso brilhou mais uma vez e marcou dois gols.
Foram outras goleadas e grandes jogos até o fim da competição. Ao fim do campeonato, o terceiro lugar parecia inacreditável. Apenas dois pontos atrás do Werden Bremen e três atrás do Borussia Dortmund, dois grandes times.
Foram 66 gols marcados e 44 tentos sofridos. Grande ataque e uma defesa equilibrada. Uma ave que fez sucesso no verão alemão.
Na temporada seguinte, alguns jogadores se transferiram e o desmanche posterior foi inevitável. Mesmo assim, Volker Finke ficou firme no cargo até 2007.
Foram mais de 16 anos de muito empenho e empatia com o Freiburg. O maior treinador da história do clube, que treinou o melhor time. Revolucionou e melhorou o clube. além de ter ajudado a evoluir o futebol alemão. um dos nomes marcados na história da Bundesliga e no coração dos amantes do futebol bem praticado.