Em suas quatro participações em Copas do Mundo (1994, 1998, 2002 e 2006), a Arábia Saudita teve um fator interessante em comum. Em todas essas edições, a seleção contou com um elenco formado exclusivamente por atletas do futebol local, sem a experiência no exterior que normalmente um torneio do porte do Mundial exige.
Voltando a uma Copa depois de 12 anos de ausência, os sauditas parecem ter percebido que se fechar para o resto do mundo não é uma medida muito eficiente no meio esportivo. Por conta disso, foi anunciado no último domingo um acordo entre a Federação de Futebol da Arábia Saudita e a La Liga Santander, responsável pela administração do campeonato espanhol.
A parceria levará aos gramados espanhóis nove jogadores sauditas por empréstimo, espalhados entre três times da primeira divisão (Villarreal, Leganés e Levante) e quatro da segunda (Rayo Vallecano, Numancia, Valladolid e Gijón).
Entre os destaques estão os meias Fahad Al-Muwallad, negociado com o Levante, e Yahia Al-Shehri, que atuará pelo Leganés. Ambos são nomes carimbados na seleção da Arábia que vai para a Copa na Rússia, assim como o volante Salem Al Dawsari, emprestado ao Villarreal.
Obviamente, a liga espanhola não aceitou a parceria sem ter seus motivos. Espera-se uma internacionalização da marca da La Liga nos países árabes, começando pela Arábia Saudita, e um contrato milionário negociando os direitos de transmissão do Campeonato Espanhol no país deve ser assinado.
Além disso, os salários dos atletas emprestados serão bancados integralmente pela federação saudita, que ainda incluiu na proposta eventuais patrocínios para os jogadores escolhidos. Em outras palavras, os sauditas pagarão uma espécie de intercâmbio para aumentar a bagagem de seus selecionáveis.
No entanto, nada indica que os escolhidos terão chances para desenvolver seu futebol nos gramados espanhois, e nenhuma cláusula de “produtividade” consta na parceria, o que isenta os treinadores da obrigação de escalar os recém-chegados. Isso pode acarretar em um tiro saindo pela culatra para os sauditas, que assim veriam jogadores importantes de sua seleção chegando na Copa do Mundo sem ritmo de jogo.
Isso não parece preocupar o príncipe Mohamed Bin Salman, fã de futebol e um dos maiores entusiastas da parceria. A liberação de atletas para o exterior contou com o apoio do membro da realeza, que tem mudado algumas regras estabelecidas há anos no país. Algumas delas são relacionadas ao futebol, como a liberação de mulheres em estádios da Arábia Saudita. Uma ação pequena em um dos países que mais desrespeitam os direitos humanos no mundo, mas uma pequena prova de que às vezes o futebol é uma ferramenta importante de integração.