Tuca Ferretti, uma vida dedicada ao México

Tuca Ferretti, uma vida dedicada ao México

Finalista da última Libertadores com o Tigres, treinador está há 38 anos no futebol asteca

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Ferreti durante sua apresentação na seleção do México (Foto: FEMEX)
Ferretti durante sua apresentação na seleção do México (Foto: FEMEX)

Poucos devem se lembrar da passagem de Ricardo Ferretti de Oliveira pelos gramados brasileiros, embora o carioca tenha jogado por seis anos no país, defendendo Botafogo (1971 a 1975), Vasco da Gama (1975 a 1976) e Bonsucesso (1976 a 1977).

Durante este período, o então atacante chegou a fazer parte do elenco vice-campeão brasileiro de 1972, mas nunca comemorou um título.

Além disso, “El Tuca” não foi o membro mais famoso da família em General Severiano, pois seus irmãos Bruno e Fernando, ambos centroavantes, também vestiram o uniforme preto e branco do Glorioso.

Fernando, o mais velho, ganhou bastante destaque por ter sido artilheiro da campanha que culminou no título da Taça Brasil de 1968. No total, foram sete gols marcados – três deles nas finais contra o Fortaleza.

Já Ricardo, com 23 anos e sem muito brilho no futebol carioca, ganha uma oportunidade transformadora. Das mãos do conterrâneo Nicola Gravina, ex-agente de jogadores, ele se muda para o México e acerta com o Atlas, de Guadalajara, na metade da temporada 1977-78.

Na ocasião, os “rojinegros” lutavam contra o rebaixamento, e nem os nove tentos de Ferretti foram capazes de ajudar o clube a escapar da zona da degola.

Recém-chegado ao país asteca e com um descenso no currículo, o atacante ainda por cima ficaria sem contrato ao término do campeonato nacional, o que o levou a procurar outras equipes. Ofereceu seus serviços a dois times locais, o Leones Negros e o Tecos, ambos do estado de Jalisco. No entanto, foi no Pumas que recebeu uma nova chance.

Então comandado pelo técnico sérvio Bora Milutinovic, o Pumas protagonizou uma temporada interessante e conseguiu chegar à decisão do torneio local, o que representou uma mudança drástica na carreira de Ferretti. O cobiçado troféu, porém, ficou nas mãos dos jogadores do Cruz Azul, potência do futebol mexicano na década de 70, quando o clube ganhou seis títulos nacionais.

Na temporada 1980-81, por outro lado, a Máquina Celeste não conseguiu repetir o tricampeonato de 1971-72, 1972-73 e 1973-74. O algoz do Cruz Azul, brincou o destino, foi justamente o Pumas de Milutinovic e Ferretti, este o autor do segundo gol na vitória por 4 a 1, no Estádio Olímpico Universitário, na Cidade do México. A façanha garantiu o segundo título nacional da história dos “auriazules”.

Ainda neste vitorioso ciclo, o Pumas também ganharia a Copa dos Campeões da Concacaf, atualmente conhecida como Liga dos Campeões da Concacaf, e a Copa Interamericana, definida em três jogos contra o Nacional de Montevidéu.

Nesta final, Ferretti contribuiu balançando as redes no derradeiro triunfo por 2 a 1, no campo neutro do Los Angeles Memorial Coliseum, nos Estados Unidos.

Em 1985, já com dois títulos da Copa dos Campeões (o segundo é referente ao ano de 1982) em sua galeria, “Tuca” traça novos rumos e muda de clube. Defende o Deportivo Neza e o Monterrey antes de retornar ao Pumas, em 1987-88. Logo sai para representar o Toluca, pelo qual ganha a Copa México de 1989, e volta para encerrar a carreira no Pumas, em 1991, com novo título da liga nacional.

NA ÁREA TÉCNICA

É curioso saber que Tuca havia retornado ao Pumas como auxiliar técnico de Miguel Mejía Barón. Todavia, este acreditava que a experiência do brasileiro, então com 37 anos, poderia ajudar a equipe na briga pelo título. A aposta deu certo, e o camisa 7 fez, de falta, o único gol do jogo de volta da final contra o América. O disparo foi tão forte que recebeu o carinhoso apelido de “Tucazo”.

Depois disso, Ferretti pendurou as chuteiras e passou a se dedicar ao ofício de treinador, cargo que ocupou no Pumas até 1996. Protagonizou sua última passagem pelo clube do qual é um dos maiores ídolos entre 2006 e 2010, vencendo o Clausura de 2009.

Também dirigiu Chivas (1996 a 2000), Toluca (2003 a 2004), Monarcas Morelia (2005) e o Tigres (2000 a 2003, 2006 e 2010 até o presente momento).

Embora não tenha alcançado a glória no início desta nova função, adquiriu experiência ao longo dos anos e sagrou-se campeão em 1997, com o Chivas. Voltou a saborear a volta olímpica em 2003, com o Toluca, na Supercopa do México.

No Tigres, venceu o campeonato da primeira divisão e a Copa do México, além de ter conduzido os felinos até a final da Copa Libertadores da América de 2015, perdida diante do River Plate-ARG.

Aos 61 anos, Tuca Ferretti conserva um bigode espesso, uma postura igualmente rígida e personalidade forte. Em 2015, já discutiu com um árbitro e recusou-se a sair de campo ao ser expulso, escondendo-se depois atrás do banco de reservas. Também colecionou atritos com a própria torcida e raramente tem diálogos dóceis com a imprensa, além de ser visto comandando treinos aos gritos.

Vinculado ao Tigres até 2017, Tuca diz ter recusado três convites para assumir a seleção asteca. Em 1994, participou da Copa do Mundo como auxiliar de Mejía Baron, então comandante do escrete nacional, e aprendeu a lidar com jogadores vaidosos. Desde então, adotou uma postura crítica e defende amistosos com seleções mais fortes.

Naturalizado mexicano desde 2006, assumiu de maneira interina o selecionado local após a saída de Miguel Herrera. Como forma de retribuir o país que lhe deu tanto na vida, aceitou dirigir a equipe gratuitamente por quatro jogos e descartou permanecer por mais tempo, já que tem contrato com o clube de Monterrey.

Estará à beira do campo contra Trinidad e Tobago e Argentina, em 4 e 8 de setembro, respectivamente. Mas o objetivo é vencer a os Estados Unidos, em 10 de outubro, para garantir vaga na Copa das Confederações de 2017, na Rússia. Depois, finalizará sua colaboração em amistoso diante do Panamá, em 13 de outubro.

É curioso notar que, mesmo com uma vida dedicada ao futebol mexicano, Tuca Ferretti não se projeta no comando da seleção nacional. Mas é louvável que ele tenha se oferecido para comandá-la em um momento tão frágil. Quem sabe ele possa mudar de ideia caso seu objetivo seja cumprido.

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