Que levante a mão o fã de futebol que nunca ouviu dizer que o Campeonato Inglês é o mais organizado e bem sucedido do planeta. Grandes jogadores, partidas de alto nível técnico decididas no último minuto, clubes com planejamento estratégico bem definido, estádios lotados. Tudo o que se pode pedir de uma liga, basicamente, certo?
Talvez. É muito difícil criticar o modelo adotado na Inglaterra, pois em vários pontos ele realmente é infalível. Mas em um fator a liga deixa a desejar: o público. Não pela quantidade, mas sim pelo fanatismo. A elitização nos estádios ingleses, resultado direto dos moldes da Premier League, acabou limitando a participação dos espectadores na atmosfera do jogo.
Obviamente, é louvável o esforço para priorizar a segurança e dar melhores condições de conforto a quem quer comparecer aos estádios, mas isso não deveria tornar o futebol em algo cada vez mais voltado ao espetáculo, e menos direcionado à paixão.
Esse é o padrão que se aplica em praticamente todos os palcos da primeira divisão local, mas em pelo menos um deles o espírito de uma torcida vibrante ainda resiste. O Selhurst Park, casa do Crystal Palace, tem sido uma exceção ao padrão local e pulsa em cada jogo do clube londrino, com uma atmosfera semelhante à de estádios latinos.
Longe de ter uma grande capacidade, ao menos em comparação com Wembley, Old Trafford e outros templos do futebol inglês, o estádio é acanhado mas confortável o suficiente para receber cerca de 25 mil apaixonados torcedores que pulam e se esgoelam seguindo o ritmo de tambores e atirando rolos de papel pelas arquibancadas. Um pedacinho de Taça Libertadores na Inglaterra.
Os fãs mais malucos tem um espaço praticamente reservado no Selhurst Park, no setor Holmesdale Road e próximo a uma das bandeiras de escanteio. É lá que se concentram os Fanatics, que assistem aos jogos todos vestidos de preto e pressionam qualquer adversário que passar por perto.
Os torcedores também têm o hábito de realizar protestos com frequência, principalmente com relação ao alto preço dos ingressos. Em dezembro do ano passado, eles marcharam em direção à sede da Premier League para discutir a redução dos valores cobrados para assistir aos jogos.
Em ato mais recente, a torcida estampou faixas em protesto com relação à distribuição das cotas de TV. “Dividam a riqueza, porcos”, dizia uma delas, colocando em discussão a diferença dos lucros dos gigantes ingleses com os pequenos e o quanto isso torna a disputa menos equilibrada.
Mesmo sendo considerado um time tradicional da capital, o Palace não tem grandes conquistas em sua história. Uma das maiores glórias do clube é o terceiro lugar obtido na temporada 1990-91.
O time atual não inspira muitas esperanças de que resultados como esse se repetirão em breve, sendo que a meta desde o acesso, em 2013, é tentar se manter na primeira divisão o maior tempo possível.
Os torcedores locais, no entanto, não parecem se importar com esse prognóstico pouco empolgante. Talvez esse desprendimento até os ajude a provar que o sentimento pelo clube é genuíno, independente de grandes títulos. E a cada grito, cada batida no tambor, mostrar que é possível torcer de maneira empolgante mesmo em um ambiente cheio de regras.