Fecham-se as cortinas. Encerra-se o primeiro ato. O público está embevecido. Os atores entregam o trabalho de suas vidas. E para o deleite de todos, os roteiristas firmaram o intervalo justamente na apoteose da tensão. A final das Américas, quiçá de todos os tempos, reserva um choque ainda mais monumental no próximo dia 24, quando Boca Juniors e River Plate voltam a se enfrentar, em Núñez, pela glória definitiva e libertadora.
Como se já não bastasse o espetáculo opor dois eternos rivais em uma final improvável – e talvez até mesmo irrepetível -, o Superclássico argentino servirá como um tira-teima histórico entre xeneizes e millonarios. Ao longo da história, ambos decidiram dois títulos (Campeonato Nacional de 1976, vencido pelo Boca, e Supercopa Argentina de 2017, vencida pelo River) e já celebraram uma volta olímpica cada em pleno estádio do rival.
De fato, não há apenas um troféu em jogo. A vitória no maior torneio do continente significa o êxito supremo, um argumento inapelável em discussões clubistas, o sonho que nem os poetas românticos idealizaram. Nada irá superá-la. Por outro lado, a derrota terá a mesma grandeza, mas de ordem inversa. Será uma cicatriz imensa no meio do rosto que atravessará as décadas, uma dor incurável que talvez não permita revanches.
No meio de todo esse contexto, em que pese a infeliz medida de torcida única nas canchas hermanas, temos o futebol propriamente dito: 11 jogadores em cada hemisfério do campo prontos para finalizar uma peça maravilhosa à qual poderemos assistir sem nos comprometer. A julgar pelo ato inicial, o Superclássico terá outro jogo verdadeiramente digno de uma decisão de Libertadores, a última sem final única em campo neutro.
Como nenhum boquense foi suspenso na ida, a única dúvida para o duelo no Monumental de Núñez é o atacante Cristian Pavón, que corre contra o tempo para se reabilitar de uma lesão sofrida no músculo posterior da coxa esquerda. Quanto aos anfitriões, já é certa a ausência do técnico Marcelo Gallardo, ainda punido, e do atacante Rafael Borré, que levou o terceiro amarelo na Bombonera. Desse modo, os times terão quase força máxima.
Portanto, tanto Boca Juniors quanto River Plate estão vivíssimos e equilibrados – há uma máxima que diz não haver favoritos em clássicos -, prometendo levar essa disputa para além das fronteiras nacionais e canalizar olhares do mundo inteiro. Se em outros centros a tensão é palpável, em Buenos Aires ela excede a força da gravidade. Depois do apito final, nada será como antes. Nem o Superclássico, nem a própria Libertadores.