Simonsen, a primeira engrenagem da Dinamáquina

Simonsen, a primeira engrenagem da Dinamáquina

Craque dinamarquês foi o precursor do futebol no país

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Allan Simonsen preparou o terreno para a grande geração da Dinamarca na década de 1980 (Foto: Reprodução)
Allan Simonsen preparou o terreno para a grande geração da Dinamarca na década de 1980 (Foto: Reprodução)

Alguns países têm sua tradição no futebol marcadas por um período específico. Algo que acaba mudando a história e a reputação desta nação no esporte, e alterando o seu patamar para quem o acompanha. No caso do Dinamarca, há um consenso geral de que o divisor de águas foi a Copa do Mundo de 1986, no México, quando a seleção comandada por Michael Laudrup e Elkjaer-Larsen despontou para o mundo.

A afirmação é justa. Afinal, antes disso pouco se falava da Dinamarca no meio futebolístico, e o futebol vibrante e inovador daquela equipe acabou fazendo valer o apelido de Dinamáquina, fortalecido com a conquista da Euro em 1992. Mas não é possível cravar que o interesse do povo dinamarquês pelo esporte bretão seria o mesmo se não fosse a ascensão de um craque da geração anterior, o atacante Allan Simonsen.

Simonsen nasceu na cidade de Velje em 1952, época em que o futebol caminhava com passos de bebê na Dinamarca, assim como o próprio reino, que havia sido fundado em 1948. Quando criança, jogava bola com os amigos nos grandes campos abertos locais, com a paisagem de moinhos ao fundo.

Aos 19 anos, fez sua estreia como profissional no time de sua cidade natal, o Vejle BK. Ali já era possível ver que o talento de Simonsen era maior que as fronteiras da Dinamarca. Foi campeão nacional nos dois anos em que atuou pelo seu clube amador, além de um título da Copa da Dinamarca.

Em 1972, foi convocado como uma das principais armas da seleção olímpica dinamarquesa que disputaria os Jogos de Munique. Logo na estreia, contra o Brasil de Dirceu, Falcão e Roberto Dinamite, o atacante mostrou seu cartão de visitas com 2 gols que ajudaram os nórdicos a vencerem o confronto por 3×2.

A Dinamarca acabaria sendo eliminada na segunda fase, mas o desempenho de Simonsen chamou atenção de vários clubes europeus que estavam de olho nos talentos de países menores. Um deles era o Borussia Monchengladbach que vivia grande fase como detentor dos títulos nacionais na Alemanha em 1970 e 1971.

Baixinho, jovem, chegando de outro país e disputando posição com jogadores campeões, Simonsen não teve um início fácil na Alemanha. Jogava pouco, e quando entrava não conseguia repetir o mesmo desempenho que havia demonstrado em sua terra natal e nos Jogos Olímpicos. Foi assim até a temporada 1974-75, quando finalmente conseguiu engrenar.

O dinamarquês atingiu o estrelato com a camisa do Monchengladbach (Foto: Reprodução)
O dinamarquês atingiu o estrelato com a camisa do Monchengladbach (Foto: Reprodução)

Naquele campeonato o dinamarquês formou uma dupla de ataque letal com Jupp Heynckes. Marcou 18 gols, enquanto o alemão anotou mais 27. Esses números alavacaram o Monchengladbach à conquista de mais um título nacional, e tornaram Simonsen titular incontestável da equipe.

O estilo de jogo do nórdico era peculiar. Fugia dos contatos na área, ao contrário da maioria dos centroavantes, preferindo pegar a bola na intermediária e cair pelas pontas. Dominava em velocidade com o pé direito e enfileirava quem ousasse se colocar em seu caminho na direção do gol.

Mas Simonsen também tinha um senso coletivo apurado, e por isso a parceria com Heynckes deu tão certo. Na temporada seguinte, mais um título alemão, com a dupla seguindo afiada e anotando 28 gols no total.

Mas o ano de 1977 seria o da consagração definitiva do dinamarquês. Além da consolidação do tricampeonato alemão, veio o reconhecimento dos especialistas em futebol de todo o continente europeu, com o prêmio de Melhor Jogador do Ano dado pela revista francesa France Football, superando Kevin Keegan e Michel Platini. A Dinamarca finalmente estava inserida no mapa da bola, e Simonsen era o desbravador.

O prêmio não subiu à cabeça do habilidoso atacante, que manteve o alto nível na conquista da Copa da UEFA em 1979, onde marcou oito gols em oito jogos, inclusive o tento decisivo na final contra o Estrela Vermelha. Aquele seria o último grande momento do craque com a camisa do Borussia: Ao final da temporada, ele recusou a renovação de contrato e se transferiu para o Barcelona.

No clube catalão, Simonsen foi importante em uma fase de transição, preparando o terreno para medalhões que chegariam alguns anos depois. Marcou pelo menos 10 gols em cada uma de suas três participações no Campeonato Espanhol, e ajudou os blaugraunas com a conquista da Recopa Européia . Do alto de seus 1,65m de altura, marcou de cabeça o gol do título na final contra o Standard Liége.

Chegou o ano de 1982, e o futuro parecia ainda mais brilhante para Simonsen no Barça. Maradona tinha assinado com o clube, que dessa vez parecia chegar firme na disputa pelo título nacional. Mas as regras de restrição contra estrangeiros obrigaram a direção catalã a escolher entre ele, Maradona e Schuster por duas vagas no time titular. O dinamarquês não gostou de ser considerado para dispensa, e pediu a rescisão do contrato.

Apesar da proposta do Real Madrid, decidiu ir para o Charlton Athletic, onde disputaria a segunda divisão inglesa. Segundo o próprio jogador, era uma maneira de fugir do assédio da imprensa e jogar por diversão, com pressão menor. Apesar do bom desempenho pelo time londrino, as condições financeiras acabaram fazendo com que ele voltasse para seu clube formador em 1983.

Com 31 anos e praticamente renunciando dos grandes palcos europeus, parecia que a carreira de Simonsen encaminhava para o fim. Mas o atacante continuou com boas atuações, trocando seu estilo de velocidade por algo mais cadenciado. E sua presença na seleção dinamarquesa continuava garantida, agora dividindo o campo com uma nova geração que ele mesmo havia ajudado a formar, graças a seu status de ídolo.

Em 1984, era um dos titulares do time que começou a Eurocopa, mas acabou quebrando a perna logo na partida de estreia, contra os anfitriões franceses. A Dinamarca alcançaria as semifinais mesmo sem seu grande “mentor”, mas ainda ficava a preocupação pela grave lesão, que contava com recuperação incerta na época.

Mas Simonsen ainda voltaria a jogar, e bem, pelo Vejle BK. E acabaria tendo mais uma chance de representar seu país em um torneio importante em 1986. Desta vez, a Copa do Mundo, a primeira da Dinamarca. Aquela, lá do começo do texto, que fez o país ser reconhecido pelos amantes do esporte.

Já veterano, Simonsen acabaria jogando apenas 20 minutos do duelo contra a Alemanha Ocidental, quando a classificação para a segunda fase já estava decidida. Bastava. Os torcedores dinamarqueses finalmente ficavam satisfeitos por ver seu ídolo, solitário por muitos anos, finalmente receber a companhia de craques à sua altura.

Quem vê o copo meio vazio pode pensar que Simonsen foi um azarado por ter nascido alguns anos antes e não estar em seu auge quando finalmente recebeu os parceiros adequados. No entanto, vendo por um panorama um pouco mais otimista, o atacante acabou sendo o cara certo na hora certa para mudar o futebol de um país.

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