Uma história cheia de nuances, momentos obscuros, polêmicas fora de campo e dinheiro, muito dinheiro. Fundado em 1936, o Shakhtar Donetsk ascendeu nas últimas décadas ao posto de figura carimbada nas competições europeias, muito por conta de um batalhão verde e amarelo que invadiu a Ucrânia para defender o clube.
Mas para entender melhor a forte ligação entre o Shakhtar e o Brasil, é importante relembrar alguns momentos cruciais desta história.
O início
Em 1995, Akhat Bragin, homem forte da máfia de Donetsk e então proprietário do clube, foi assassinado em um atentado a bomba no antigo Shakthar Stadium.
Seu lugar como presidente foi ocupado por Rinat Akhmetov, que passou a investir massivamente em contratações para colocar o time no topo do futebol da Ucrânia, país que havia conquistado sua independência poucos anos antes, em 1991.
A grande distância que havia para o rival Dínamo de Kiev foi diminuindo com o tempo, até que o Shakthar sagrou-se campeão nacional na temporada 2001-02. O próximo passo seria ocupar um lugar de destaque no resto do continente, e foi aí que o sotaque brasileiro passou a ser mais frequente na Ucrânia.
O primeiro brasileiro a desbravar Donetsk foi Brandão, centroavante que havia se destacado pelo São Caetano no primeiro semestre de 2002 e chamado a atenção de clubes estrangeiros.
A aposta foi certeira: o atacante marcou 91 gols em seis temporadas, tornando-se na ocasião o quarto maior artilheiro da história do Shakhtar (hoje é o quinto). Seu sucesso foi importante para abrir as portas para outros brasileiros fazerem fama no país.
Os ídolos
Brandão não foi o único. Vários brasucas conquistaram os torcedores do time ucraniano e marcaram época por lá. É o caso de Luiz Adriano, que na última temporada virou o maior artilheiro do clube em todos os tempos.
Um dos gols mais importantes do atacante foi na final da Copa da UEFA de 2009, conquistada sobre o Werder Bremen-ALE. O segundo gol da vitória por 2 a 1 foi marcado por Jádson, outro ídolo da equipe.
Além deles, é possível destacar Fernandinho, Willian, Ilsinho e, mais recentemente, Alex Teixeira, Fred e Douglas Costa como apostas corretas que o Shakhtar fez em brasileiros. Mas entre os 25 jogadores do país sul-americano que já vestiram a camisa do time ucraniano, também existem alguns tiros n’água.
Decepções
Contratado pelo Shakhtar em 2011, Alan Patrick praticamente não teve oportunidades para fazer o que se esperava dele, sendo emprestado desde então. Hoje, atua pelo Flamengo.
Dentinho foi outra aposta furada do time da Ucrânia. Também contratado em 2011, não foi bem quando esteve em campo, marcando apenas quatro gols em quatro temporadas.
Há também o caso de Bernard, negociado por cerca de 25 milhões de euros junto ao Atlético-MG. Além de não render o esperado, o jogador ainda se envolveu em uma queda de braço com o técnico romeno Mircea Lucescu, recusando-se a voltar à Ucrânia depois das férias no Brasil.
O episódio provocou a ira do treinador, que não poupou críticas ao comportamento de alguns atletas brasileiros. “Eu gosto muito deles e aprecio demais o futebol brasileiro. Mas o seu profissionalismo deixa a desejar.”
Cifras
A recente transferência de Douglas Costa para o Bayern foi mais um exemplo dos valores exorbitantes que costumam entrar nas equações do Shakhtar com jogadores do Brasil.
Segundo o site Transfermarkt, o clube comandado por Akhmetov gastou cerca de 180 milhões de euros em seu processo de “brasilização”.
Mas o valor arrecadado com as vendas de brasileiros não fica tão abaixo, mostrando que os ucranianos não entregam seu “produto” de graça. Foram quase 150 milhões de euros arrecadados com as transferências.
Seleção
Nos últimos anos, a amarelinha tem sido vestida com frequência por jogadores da equipe ucraniana. O primeiro a ser convocado enquanto defendia o clube foi Elano, em 2005.
Ele foi apenas um dos nove atletas do Shakhtar chamados por comandantes da seleção canarinho desde então. Uma quantidade considerável, ainda mais levando em conta um fator importante: o baixo grau de competitividade do campeonato local, com poucas equipes em condições de brigar pelo título.
Não é possível cravar que tais convocações são injustas, mas um ponto deve ser abordado. É difícil imaginar que técnicos do Brasil acompanhem torneios da Ucrânia com frequência, limitando as chances de ver os brasileiros do Shakhtar em ação apenas pela Liga dos Campeões. Será que é suficiente? As últimas atuações do time de Dunga indicam que não.
Fim de uma era?
Com as saídas de Luiz Adriano, Douglas Costa e Fernando, as fortes declarações de Mircea Lucescu contra alguns brasileiros e a pressão deles para ir embora (casos de Dentinho e Bernard), o Shakhtar pode estar vivendo uma fase de transição cujos planos não incluem tanta presença de atletas do país como antes.
No entanto, o fato é que ainda existem nove jogadores do Brasil no elenco, e parece que ainda vai demorar um pouco até que o uniforme laranja e preto deixe de ter seus toques de verde e amarelo.