A trajetória do Santa Cruz nas divisões inferiores do futebol brasileiro mostra uma década inteira de histórias repletas de drama e superação, tanto por parte das equipes formadas durante este período difícil quanto dos apaixonados torcedores que sofreram com as turbulências do clube pernambucano.
O duro trespasse teve início no Campeonato Brasileiro de 2006, quando o Gigante do Arruda contabilizou somente 24,5% de aproveitamento e foi rebaixado para a Série B na condição de lanterna. O tormento prosseguiu ainda na temporada seguinte em decorrência da queda para a terceira divisão, com apenas 36,8% dos pontos ganhos.
Enganou-se, porém, quem acreditava que a situação não poderia ficar pior. Um novo e trágico descenso, somado a duas eliminações precoces na última divisão do ludopédio nacional, produziram talvez o mais caóticos dos cenários desde a fundação do Santinha, em 1914. A espessa neblina no horizonte coral só começaria a se dissipar a partir de 2011.
Na Série D do ano em questão, o grupo comandado pelo técnico Zé Teodoro conseguiu chegar à final contra o Tupi-MG, que ganhou o primeiro jogo por 1 a 0, em Juiz de Fora, e surpreendeu ao vencer por 2 a 0 em Recife, diante de 54.815 pagantes. Para consolo dos tricolores, o acesso à Série C estava garantido mesmo com o vice-campeonato.
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Já em 2012, o retorno à segunda divisão não foi consolidado por pouco. A equipe acabou no sexto lugar, mas os dois títulos seguidos no Estadual davam sinais de que a escalada não havia terminado. Em 2013, empurrado por sua fanática torcida, o Santa Cruz obteve o tricampeonato pernambucano e a taça da Série C, sobre o Sampaio Corrêa.
O embalo não foi suficiente para voltar à elite brasileira no ano posterior e resultou na 10ª colocação da Série B. O tão esperado retorno foi enfim consolidado nesta temporada sob o comando do técnico Marcelo Martelotte, que havia sido campeão regional em 2013 pelo próprio Santinha antes de se transferir para os rivais Sport e Náutico.
Em 2015, a campanha coral teve 20 triunfos, 9 empates, 11 derrotas, o melhor ataque (63 gols) e o segundo melhor saldo (20). O grande momento foi a reta final. Após perder em casa para o Náutico e sair da zona de classificação, o time empatou uma e ganhou as seis últimas partidas, alcançando o segundo lugar na última rodada.
Vale lembrar os nomes importantes que contribuíram para a reformulação do clube, como o próprio Martolle, que assumiu o cargo em um momento delicado, o atacante Grafite, que voltou para o time que o projetou nacionalmente, e o competente meia João Paulo, além do goleiro Tiago Cardoso e o meia Renatinho, ambos no elenco desde 2011.
Mais importante do que os ídolos e dirigentes responsáveis por conduzir o Santa Cruz de volta ao topo do esporte bretão, sem dúvida, foi a grande torcida que entendeu as dificuldades do time e o abraçou. A prova disso é a sua respeitável média de público.
Em 2011, o clube pernambucano teve a maior média de todas as divisões do futebol brasileiro (36.916 fãs por jogo), superando o Corinthians (29.424), campeão da Série A. Em 2012, o alvinegro paulista empurrou o Santinha para a vice-liderança (24.347).
Os números diminuíram nos anos seguintes, mas sempre estiveram entre os 20 maiores do país. Em 2013, o clube figurou na quinta colocação (18.057). Em 2014 e 2015, ocupou o 14º e o 13º lugares, com médias de 13.373 e 14.170, respectivamente.
Enfim, o Santa Cruz retornou ao lugar que condiz com sua grandeza e a paixão da sua torcida. E quem agradece é o futebol.