Uma equipe que teve em suas fileiras a dupla de irmãos mais famosa do mundo do futebol merece respeito só por este fato em si. O que falar então de um time tradicional do interior paulista, sediado em uma das grandes cidades do estado e dono de marcas expressivas no futebol interiorano brasileiro?
O Botafogo Futebol Clube, autodenominado de clube orgulho do interior, famoso não só por revelar os craques Sócrates e Raí, tem muito o que contar nos seus quase 97 anos de história. Sediado em uma das cidades mais ricas de São Paulo, Ribeirão Preto, o Botinha busca repetir feitos do passado em 2015 e retornar aos tempos de glória que teve nos 70 e na virada do século XX.
A equipe que já teve sete jogadores revelados pelas categorias de base convocados para Copas do Mundo, busca se reafirmar no cenário nacional e voltar a ter pecha de melhor clube do interior paulista. Dono do imponente estádio Santa Cruz, com capacidade para cerca de 30 mil torcedores, o Pantera quer reascender a paixão do lado tricolor de Ribeirão.
Em melhor situação que o Comercial – rival histórico – o Botafogo vem desde 2012, sob a gestão de Gustavo Assed e Rogério Barizza, evoluindo e se firmando no Campeonato Paulista da Série A-1. Após gestões desastrosas, rebaixamento à Série A-3 em 2006 e até renúncia de presidente (Silvio Martins em 2012), o advogado Assed deu novo fôlego ao clube e Rogério Barizza estabilizou o ótimo projeto ribeirão-pretano.
Em 2013, o primeiro bom resultado obtido foi o 7° lugar no Paulistão. A equipe treinada por Marcelo Veiga apresentou um futebol eficiente que alcançou as quartas-de-final do torneio e garantiu vaga para a série D do campeonato brasileiro. A volta do Bota à quarta divisão após três anos reanimou e deu mais confiança aos torcedores que nos anos 90 viram a equipe ser vice-campeã da série B, em 1996, e vice da C, em 1998. O Botafogo ainda disputou seis edições da série A, sendo uma 13° colocação em 1976 e 1978.
No mesmo ano, o Botafogo conseguiu um resultado expressivo nas categorias de base. Tradicional cantera do interior paulista, o clube foi vice-campeão em 2013, perdendo a final para o Mogi Mirim, jogo que a nossa equipe acompanhou.
A partir daí, a evolução não parou e o Alambrado vai apresentar seis fatos que mostram como o Botafogo pretende readquirir o status que tinha antigamente.
Vice-campeonato paulista sub-20 em 2013
Conquistar o estadual sub-20 não é missão das mais fáceis. Haja visto o longo jejum quebrado pelo Corinthians na edição passada – o clube de Parque são Jorge ficou 17 anos sem levar o troféu. O torneio é dividido em duas divisões: a 1° conta com 42 times e a 2° com 25. Em 2013, o Botafogo conseguiu recuperar parte de seu prestígio na categoria. Terceiro maior vencedor da competição (quatro títulos) e segundo maior finalista (sete finais), o Botinha conseguiu reativar uma das categorias de base mais famosas de São Paulo.
Como em todo clube, a utilização de atletas da base no elenco principal e revelação de jovens jogadores é fundamental para uma boa saúde financeira e, claro, ajuda o clube tecnicamente com atletas já ambientados ao clube. A idolatria por um prata da casa bem sucedido também sempre costuma a ser maior que de um jogador contratado por seis meses e sem identificação alguma com a instituição.
Após 19 anos, finalmente o Botafogo conseguia chegar a uma final de Paulista sub-20. O caminho foi tortuoso: Audax, Red Bull Brasil, Santos e Rio Claro. Na final contra o Mogi Mirim, derrota por 4 a 2 na casa do adversário e empate por 3 a 3 no Santa Cruz, em um jogo emocionante.
A confiança estava reestabelecida e como diz parte do hino “grandioso Botafogo, celeiro de campeões”, a força das categorias de base estava de volta. Muitos jogadores se destacaram na competição e fizeram parte do elenco principal: os meio-campistas Vitinho, Baratella, Guilherme Sávio; os zagueiros Carlos Henrique e Matheus Mancini; e o atacante Isaac Prado, este grande destaque do Botinha na copa São Paulo 2015.
Vitinho foi o grande craque do Botafogo. Meia-clássico, o jogador de 20 anos demonstrou não só visão de jogo e qualidade nos passes curtos e assistências, mas também uma ótima finalização. Certeiro nos chutes de fora da área, ele marcou 8 gols na competição e logo depois foi incorporado aos profissionais. Atuou como camisa 10 na Copa Paulista.
Semifinalista do Paulista Sub-17 de 2013
Campeão apenas uma vez em 2003, o Botinha voltou a fazer uma grande competição em 2013. Assim como a equipe júnior, os juvenis mostraram grande poder de fogo na competição. Com vários obstáculos na campanha -Corinthians, Audax e Palmeiras- o clube ribeirão-pretano chegou às semifinais e só foi eliminado pela grande geração /96 corintiana, que mais tarde se sagraria campeã paulista da categoria e boa parte dos jogadores sendo campeões da copinha 2015.
Aliás, muito dos atletas que duelaram nas semifinais do paulista voltaram a se encontrar na final da Copa São Paulo. Pelo Botafogo, destaque para os ótimos Alex Apolinário (meia hoje no Cruzeiro), o ponta-direita Wesley, os volantes João Vitor e Túlio, o lateral esquerdo Mayc e o ótimo goleiro Talles.
O grande craque tricolor da competição foi Alex Apolinário, com 15 gols marcados. Geração das mais badaladas da história recente do Fogão. Mérito também da diretoria por segurar os jovens até o sub-20.
Conquista de um CT e selo de clube formador
Em 2013, o Bota conseguiu duas importantes coisas: O CT Manoel Leão, centro de treinamento de alto nível que ajudou o Botafogo a ter uma estrutura ainda melhor para treinos. Além disso, o gramado do Santa Cruz fica mais preservado para as partidas. Em junho do mesmo ano, o time de Ribeirão Preto adquiriu uma série de benefícios com o sele de clube formador. As principais delas são algumas garantias sobre os atletas criados nas categorias de base do clube.
Os jovens que completam 14 anos, por exemplo, precisam assinar um contrato. A partir daí, o clube formador, no caso o Botinha, tem vantagens como a prioridade em assinar o primeiro contrato com o atleta, aos 16.
Se o jogador deixar o clube, o Botafogo tem direito a receber todo o valor investido, multiplicado por 200. Uma garantia que deu ainda mais força ao clube.
Unindo as duas aquisições, as categorias de base do clube ficaram mais forte. Consequentemente, a instituição se fortaleceu. De sobra, o Botafogo foi a casa da França na Copa do Mundo 2014. O que deu certo prestígio à equipe de Ribeirão.
Paulista 2014
A ótima fase nas categorias de base parece ter contagiado o time de cima. No Paulistão 2014, o Bota fez uma ótima primeira fase (liderando o grupo que tinha Corinthians e o campeão Ituano). Nas quartas-de-final, apesar do favoritismo e apoio de quase 10 mil torcedores, o Bota sucumbiu diante da forte defesa do Galo de Itu. 0 a 0 no tempo normal e 4 a 1 nos pênaltis.
Apesar da eliminação, o clube conquistava ainda mais a confiança do torcedor e montava uma base sólida para o restante do ano. O grande destaque do time, Hudson, acertou com o São Paulo logo após o fim da competição.
Copa Paulista 2014
Com muitos jogadores formados nas categorias de base, como Vitinho e Caique, o Fogão chegou à final da competição e quase garantiu vaga na Copa do Brasil deste ano. Após atropelar o Independente de Limeira nas semifinais, o time perdeu para o Santo André na decisão, muito em função do péssimo estado do gramado Santa Cruz. No dia da final, um dilúvio caiu em Ribeirão Preto e o gramado encontrava-se totalmente encharcado.
Destaque também para Carlão. O jovem ex-Paulista de Jundiaí, assim como Mike, destaque no Paulistão, formou ótima dupla com Caíque. Muita movimentação e poder de fogo do time de Ribeirão Preto.
Copa São Paulo 2015
32 anos após ser vice-campeão, quando perdeu para o forte Atlético Mineiro, o Botafogo novamente chegou à final da competição mais importante da base brasileira. Naquele ano, nomes do quilate de Raí, Paulo Egídio e Boiadeiro se destacaram. Nesta edição, quem apareceu foram os jovens Alex Apolinário, Wesley, Willian, Mayc, Caio Ruan e o artilheiro da competição, o atacante Isaac Prado.
O artilheiro até já faz parte do elenco principal e o clube deposita suas fichas que ele possa ser a próxima grande revelação do Fogão. Alex, outro bom jogador, já rumou para o Cruzeiro. A geração treinada por Rodrigo Fonseca, que teve início em 2013, com as semifinais do paulista sub-17, promete dar muito trabalho também nos profissionais do Botafogo.
Enumerados esses fatos, agora restar esperar os resultados para a comprovação da boa fase e do renascimento de um dos grandes do interior. O Paulistão 2014 é a porta de entrada para a afirmação também no futebol profissional. O primeiro passo, nas categorias de base e na estrutura do clube, já foi dado, resta agora a colheita dos bons frutos na terra da cana.