Para participar de uma Copa do Mundo, basta ter uma seleção nacional, certo? Não. Contar com uma federação de futebol profissional e montar um time que a represente nem sempre é garantia de jogar as Eliminatórias, mesmo nos dias de hoje.
A Fifa, entidade que regulamenta o torneio, costuma distribuir sanções com certa frequência, por motivos diversos. A punição máxima é a impossibilidade de disputar o principal campeonato esportivo do mundo. E é o tema desta matéria, dividida em duas partes e separada por edições da Copa. Confira:
1938
O poder da entidade para sancionar federações, curiosamente, só começou a partir de 38. Isso porque, nas primeiras edições, o torneio não contava com o prestígio dos dias atuais. Em certas federações, bastava se inscrever para participar.
Sendo assim, o maior desafio para a entidade era reunir equipes. Não fazia sentido sancioná-las, por qualquer que fosse o motivo. Apesar disso, a própria Fifa, em documentos que abordam a história do torneio em seu site, alega ter rejeitado a inscrição da Espanha para o Mundial de 1938, em decorrência da Guerra Civil Espanhola. A versão mais conhecida, contudo, é de que a própria federação desistiu de participar do torneio.
1950
Já em 1950, a sanção realmente partiu da entidade. Seguindo recomendação da recém criada Organização das Nações Unidas, a Fifa decidiu suspender Japão e Alemanha, derrotados na Segunda Guerra Mundial, de torneios oficiais.
A punição começou em 1945, e só se encerrou meses antes do Mundial de 1950. Não houve, por isso, tempo hábil para que as equipes participassem das Eliminatórias e buscassem vaga na competição. Acabaram fora.
1954
Na Copa seguinte, já aceitando a participação de Alemanha e Japão, o torneio tinha tudo para ter um número maior de participantes. O que não aconteceu.
Seis seleções simplesmente foram rejeitadas pela entidade, número recorde até então. Islândia, Bolívia, Costa Rica, Cuba, Vietnã e Índia simplesmente demoraram a cumprir o prazo de inscrição, e foram ausências nas eliminatórias.
1958
O veto da Fifa foi mais brando em relação à edição anterior. Desta vez, apenas duas equipes foram impedidas de participar das Eliminatórias: Etiópia e Coreia do Sul.
As razões são nebulosas. A própria entidade admite a recusa, mas não alega os motivos. Acredita-se que as duas equipes teriam sido as últimas a solicitar inscrição, e acabaram descartadas em decorrência do formato da disputa.
Naquela época, a Confederação Africana havia acabado de ser fundada, e as eliminatórias de Ásia e África ainda eram unificadas. Sendo assim, pelas longas distâncias percorridas por cada seleção, a entidade foi forçada a restringir o número de participantes.
Curiosamente, a entidade se arrependeria da decisão. Nas eliminatórias, algumas equipes se recusaram a enfrentar a seleção de Israel. Por motivos religiosos e culturais, Turquia, Indonésia e Sudão abdicaram das Eliminatórias por terem caído no mesmo grupo do time de origem judaica.
Isso aconteceu porque a Fifa exigiu que todas elas enfrentassem Israel ao menos uma vez para que pudessem se credenciar para o Mundial. Não houve acordo. Como Israel se classificaria sem disputar uma partida sequer, a entidade decidiu criar às pressas uma repescagem com algum país da Europa que já estava eliminado.
Time de melhor campanha entre os classificados, a Bélgica também se recusou a enfrentar Israel. Sobrou para o País de Gales, que topou o desafio, venceu a ida e a volta e acabou avançando para o Mundial.
1966
Depois de uma Copa sem restrições em 62, 1966 marcou o início da maior suspensão da história do torneio. A África do Sul só passou a participar de Eliminatórias a partir da década de 90, e os motivos são complexos.
No país, imensamente segregado, existiam à época nada menos que quatro federações nacionais. A mais antiga, a FASA, só aceitava atletas brancos; A SAIFA se limitava a jogadores sul-africanos de origem indiana; A SABFA apenas os bantu – pessoas de uma região do país que contava com um dialeto próprio; Por fim, a SACFA, restrita a negros.
Tanto a Fifa quanto as demais federações esportivas internacionais se recusavam a aceitar mais de uma federação por país. Quando a FASA tentou se inscrever para o Mundial de 66, a ser disputado na Inglaterra, teve o pedido prontamente negado. O banimento se estendeu a praticamente todos os esportes.
A entidade ainda anunciou a suspensão de seleções da África do Sul por tempo indeterminado. O país sequer podia participar da Copa Africana de Nações. O exílio sul-africano acabou durando quase duas décadas, terminando com o fim do apartheid.
Em 1992, a seleção unificada fez seu primeiro jogo, ao bater Camarões por 1 a 0 em casa. Participaram então das Eliminatórias para o Mundial de 1994, mas não conseguiram a classificação, que só viria em 98.
Em 1966, além dos sul-africanos, outras três seleções acabaram rejeitadas pela Fifa: Guatemala, Congo e Filipinas.
O caso mais folclórico é o de Congo. A equipe manifestou o desejo de disputar as Eliminatórias, mas não cumpriu a determinação da Fifa em enviar a solicitação por inscrito. Por outro lado, os congoleses garantiam ter cumprido todas as normas da entidade. O caso geral mal estar entre as federações africanas, e não teve jeito.
Já a Guatemala não se inscreveu à tempo, tal quais as seis seleções ausentes no Mundial de 54. Filipinas, por sua vez, foi mais original: fez a inscrição, cumpriu os prazos, mas não pagou a taxa necessária. Não houve perdão por parte dos cartolas.