Os clubes representados na música brasileira

Os clubes representados na música brasileira

Alambrado reuniu músicas que versam sobre as principais equipes de futebol do Brasil em variadas regiões.

COMPARTILHAR

Se uma das atribuições da música é refletir a sociedade, de maneira estética ou comunicativa, assim como em qualquer outra arte, por que o futebol, fenômeno de importância ímpar em nosso país, é tão pouco representado na manifestação artística mais difundida no Brasil?

A questão talvez possa ser (parcialmente) respondida por alguma tese de doutorado em ciências humanas, e não por uma simples matéria de um portal esportivo. É fato, porém, que as canções que tratam o jogo em si são caricatas, de certa forma.

Outras são relegadas a segundo plano, a lados B de vinis. É preciso ir longe para encontrar um exemplo de sucesso – há 19 anos, o Skank lançava o hino “É Uma Partida de Futebol”, no disco “O Samba Poconé”.

O mesmo acontece com nossas equipes de futebol. É raro, para um artista, liberar a veia clubista em suas composições.

A paixão por um clube é, na maioria das vezes, externada apenas em ocasiões específicas – e, na maior parte das vezes, limitada a releituras de hinos oficiais ou de gritos da arquibancada. Poucos são aqueles que escrevem por conta própria e se atrevem a usar a faixa como música de trabalho.

Ao contrário do questionamento do primeiro parágrafo, as razões para isso são mais compreensíveis. Na cabeça de muitas pessoas, o fanatismo se sobressai a qualquer lógica.

Faz com que o cidadão vete a compra de produtos que estampam suas marcas na camisa do rival, deixe mensagens de ódio nos comentários de todas as notícias futebolísticas que vê na web, ou mude de canal ao ouvir o comentário do jornalista que assumidamente (ou não) torça por outro time que não o seu.

Que dirá para o artista que cante a paixão por seu clube durante um show. Terá em troca algumas vaias, a antipatia de tantos e o boicote de outros (talvez até da própria banda).

Alguns seguros de si, contudo, ignoram os riscos e homenageiam seus times de coração com algo a mais que versões especiais de hinos oficiais. Não foi fácil, mas o Alambrado reuniu algumas delas:

Corinthians

Ai, Corinthians,
Quando és o vencedor,
Pobre fica milionário
Rindo da própria dor.

O alvinegro paulista é um dos clubes mais representados na música brasileira. Toquinho, Adoniran Barbosa e Silvio Santos (sim) são alguns dos que já eternizaram o Corinthians em suas composições. Mas a canção escolhida para representar o time na matéria (a mais bonita, na opinião deste que vos escreve) é do falecido violonista Paulinho Nogueira.

Em “Meus 20 anos”, composta pelo músico após a dolorosa derrota na final do Paulistão de 1974 para o arquirrival Palmeiras, Nogueira retrata o sofrimento da torcida no maior jejum de títulos da história do clube – enfatizando, porém, que a própria falta de conquistas só reforçava a paixão dos torcedores. Chegou a brincar, certa vez, em um programa de TV: “Só vai fazer sucesso quando o Corinthians for campeão, então eu temo pelo sucesso desta música”.

Flamengo

Pode chover, pode o sol me queimar
Que eu vou pra ver
A charanga do Jaime tocar:
Flamengo! Flamengo!

Jorge Ben, Moraes Moreira, Bebeto e muitos outros são alguns dos que já homenagearam o clube mais popular do Brasil em suas canções. O primeiro é recorrente – são notórias as suas homenagens a ídolos rubro-negros, como Fio Maravilha (idem) e a Zico (Camisa 10 da Gávea).

Mas a música que melhor representa o Mengão foi composta por Wilson Batista e Jorge De Castro. E cantada por ninguém menos que João Nogueira. “Samba Rubro-Negro” retrata a forte relação entre o clube carioca, seus ídolos, o Maracanã e a sua numerosa torcida.

Palmeiras

Rapidinho ele se veste e embarca na leste-oeste
Pra descer na Marechal
De lá, a pé, é mais legal
Em direção ao Parque Antarctica

Não são muitas as canções sobre o Palmeiras na música brasileira. A mais famosa, “O Amor é Verde”, de Moacyr Franco, era antiga e tinha ares de hino. Mas tudo mudou em 2011, quando a cena sambista paulistana ganhou um nome de peso: Douglas Germano.

Ao estilo samba de breque modernoso, o músico quis homenagear um amigo palestrino na excelente canção “Seu Ferrera e o Parmera”, em seu primeiro álbum solo (Orí), lançado em 2011. Mas foi além: presenteou todos os alviverdes com uma faixa agradável que retrata com maestria os rituais e as características únicas da torcida do tradicional clube paulistano.

Santos

Atenção Brasil, atenção
Que a bola vem quase sem pretensão
Aos 27 o silêncio que antecede a explosão
Criolo-rei tem a sorte, vida e morte no clássico sim
Momento mágico pra mim, sofredor

Em 2010, uma ação da Nike para a Copa da África do Sul reuniu Jorge Ben, Mano Brown, Céu e outros cantores com os produtores Daniel Ganjaman e Zegon, os mais prestigiados no rap nacional. A missão era gravar uma releitura para o clássico “Ponta de Lança Africano”, do rei do samba rock.

E a missão foi cumprida. Mas o destaque ficou para o líder dos Racionais MC’s, santista fanático, que transformou a canção em uma homenagem a Serginho Chulapa e ao sofrido título paulista de 1984, sobre o Corinthians.

Brown, ao invés de chover no molhado e versar sobre os grandes craques da Vila, retrata a obscura época de depressão pós-Pelé vivida pelos santistas nos anos 80.

São Paulo

Tem nome de santo
E o nome dessa cidade
Três cores no manto, seis vezes no topo
Sua majestade faz com que eu te ame tanto

Tal qual o Palmeiras, o São Paulo é outro grande paulista que não conta com muitas referências musicais, apesar de ter diversos torcedores ilustres. Dentre os mais antigos, um exemplo é Juca Chaves e suas marchinhas. Dentre os mais recentes, a banda de reggae Planta e Raíz volta e meia homenageia o time do Morumbi.

Mas nada como um torcedor doente pelo clube com carreira solo para reverter o quadro. Nando Reis já dedicou várias composições ao tricolor paulista, vai ao estádio sempre que pode e até representa o time em programas de TV.

A canção abaixo, “Soberano”, foi escrita para o documentário de mesmo nome, que conta, pela visão de torcedores, a história dos seis títulos brasileiros vencidos pelo São Paulo.

Cruzeiro

Dizem que somos loucos da cabeça
Amamos o Cruzeiro, é o que interessa
O mundo inteiro teme la ‘Bestia Negra’
Seremos campeões e não se esqueça

Apesar de ser o time de coração do incomparável Milton Nascimento, do fanático Samuel Rosa, e do notório Lô Borges, o Cruzeiro tem escassas representações na música popular. O azar celeste talvez seja o fato de o vocalista do Skank nunca ter optado por carreira solo, como no caso de Nando Reis.

Uma das mais recentes homenagens fica por conta da banda mineira Scarcéus, que adaptou o hit das arquibancadas “Nós somos loucos” para uma versão rock, em comemoração ao título brasileiro de 2013.

Atlético-MG

O Galo doido que chegou
Botou terror
Vem no passinho
Comemorando o gol

Assim como o Cruzeiro, o Atlético também recebeu uma homenagem de um grupo de rock mineiro: o Tianastácia. A música, contudo, não traz boas lembranças à torcida. Foi composta para estimular o clube no Mundial de 2013…

Por outro lado, um funk de sucesso embalou a conquista da Libertadores do mesmo ano. MC Ton, com “Galo Doido”, canalizou a euforia dos torcedores em uma letra e uma batida simples. Ronaldinho Gaúcho aprovou.

Internacional

Nasci nesse berço campeão
Figueroa, Valdomiro e Falcão
Gamarra, Lucio e Fernandão,
Meu capitão

Porto-alegrense e legítimo colorado, Armandinho não quis saber da forte rivalidade entre Inter e Grêmio ao homenagear seu time de coração em uma canção composta por ele próprio.

Em “Vamo Vamo Inter”, o cantor adaptou um grito da torcida a uma versão reggae. Além disso, acrescentou seus versos homenageando ídolos do passado e as inúmeras glórias coloradas ao longo da história.

Grêmio

Os jogadores são bons de bola
E a tua garra é bem conhecida
Tu és a fonte de inspiração
E de emoção da tua torcida

Nada melhor para representar o Grêmio do que música gaúcha de raiz. Tradicionais, os grupos Os Monarcas e Os Serranos se juntaram para cantar seu amor pelo tricolor dos pampas.

A canção “América Tricolor”, cantada pela Geral às vezes na arquibancada, foi gravada pelas bandas em uma versão de música regionalista. A letra exalta o espírito raçudo e guerreiro – ou peleador – tão exigido pela torcida gremista para os jogadores em campo.

Botafogo

Minha preta foi embora
Eu estou tao desgostoso
Tá doendo a saudade
Quando a gente ia junto
Pra torcer pro Glorioso

O Botafogo sempre foi muito popular entre os sambistas cariocas – depois do Flamengo, é claro. Faltava, porém, uma coalizão entre esses ilustres torcedores botafoguenses para eternizar o Glorioso em versos.

Não falta mais. Marcelinho Moreira lançou há poucos anos a faixa “Nosso amor é preto e branco”, no qual fala sobre sua paixão pelo Botafogo, acompanhado de Beth Carvalho e Zeca Pagodinho. Também participaram do samba os globais Regina Casé e Hélio de la Peña.

Vasco

Que bonito é o início da constelação
De estrelas amarelas,
Na bandeira do Vascão

No aniversário de 114 anos do Vasco, em 2012, a diretoria promoveu uma série de comemorações. Dentre elas, um show, que virou DVD. Nela, músicos que torcem para o clube carioca cantaram versões do hino clube e músicas próprias de amor à cruz de malta.

Em meio a isso, a equipe recebeu uma homenagem pra lá de especial: Erasmo Carlos, cruz-maltino assumido, apresentou a canção “Nosso Vasco Campeão”, que exalta o passado vitorioso do alvinegro.

Bahia

O nosso time está numa nova arrancada
Este ano não tem zebra, não tem nada
Bahia é o clube do povo
Domingo estarei aqui de novo

A rica música baiana não deixaria de homenagear os principais clubes do estado. No caso do Bahia, nada menos que o grupo Novos Baianos, um dos mais inovadores da música brasileira, para homenagear o tricolor de Salvador.

Na voz de Baby Consuelo, a banda gravou “Campeão dos Campeões”, praticamente um novo hino para a equipe mais popularesca da cidade. Como se não bastasse, a música também foi adotada por um certo Gilberto Gil, com uma pegada mais reggae, que fica de faixa bônus.

Vitória

Sou rubro-negro
Leão da barra, guerreiro predador
É o primeiro
Time valente, campeão e vencedor

Após a declaração de amor dos Novos Baianos e de Gilberto Gil ao Bahia, o Vitória não poderia ficar atrás do arquirrival. Coube à torcedora mais ilustre do clube, Ivete Sangalo, comandar a homenagem oficial ao rubro-negro.

No mais baiano dos ritmos, “Guerreiro Predador” é um axé com a participação de outros músicos torcedores leoninos: Alinne Rosa, Durval Lellys, Léo Santana e Tatau.

Fluminense

O jogo da cor
Virei-lhe o listrado do peito
E nasceu desse jeito
Uma outra tricolor

Recentemente, o tricolor carioca havia sido lembrado pelo Roupa Nova na comemoração do título brasileiro de 2010 – todos os integrantes do grupo torcem pelo Fluminense. Os músicos versaram ao ritmo do tema do Esporte Espetacular, da TV Globo.

A referência mais notória ao clube, porém, não poderia ser de outra pessoa: Chico Buarque. Torcedor mais famoso do Flu, o carioca não costuma citar essa sua paixão em suas composições, mas o fez em uma situação curiosa.

“Ilmo Sr. Ciro Monteiro (ou receita para virar casaca de neném)”, é uma resposta a uma provocação de um amigo, que presenteou sua filha recém-nascida com uma camisa rubro-negra…

Deixe seu comentário!

comentários