Okudera, o primeiro samurai no futebol europeu

Okudera, o primeiro samurai no futebol europeu

Confira a história do meia que abriu caminho para os japoneses no Velho Continente

COMPARTILHAR
53886_toptease_article_desktop_com
Okudera se tornou o primeiro japonês a jogar na Europa em 1977 (Foto: Divulgação/Bundesliga)

Quem começou a acompanhar futebol a partir da década de 1990, principalmente da Copa do Mundo realizada na França em diante, se acostumou a ver a seleção do Japão batendo cartão em Copas do Mundo e seus atletas fazendo parte de grandes clubes do futebol europeu.

Se hoje em dia é normal ver jogadores como Kagawa e Honda dividindo espaço com estrelas do Velho Continente, o mérito pode ser creditado a um desbravador que abriu caminho para seus conterrâneos no mercado europeu ainda na década de 1970, quando ver um jogador japonês em grandes centros da bola era tão comum quanto, digamos, um brasileiro lutador de sumô.

Trata-se de Yasuhiko Okudera, jogador cuja história parece ter saído de um filme. Aos 18 anos, começou a trabalhar na empresa Furukawa Electric, que por acaso tinha um time de futebol disputando a Liga Japonesa, composta na época por clubes corporativos.

Okudera não era um grande entusiasta do esporte até então, mas batendo bola com os colegas de profissão descobriu que gostava do jogo e tinha um padrão acima da média dos seus pares. Não demorou para entrar no time e se tornar um dos destaques, atuando aberto no meio-de campo.

Em 1977, o Furukawa realizou uma excursão para a Alemanha, resultado da parceria da empresa com indústrias automotivas germânicas. Hennes Weissweiler, técnico do Colônia, assistia das arquibancadas um dos jogos amistosos do time japonês, e se impressionou com a vontade e velocidade de Okudera.

A aposta no japonês, embora sem altos custos, parecia bizarra. Afinal, a ideia de um time tradicional do país que ostentava o posto de atual campeão do mundo contar em seu elenco com um atleta amador vindo de uma nação que pouco se importava com o futebol não é lá muito fácil de digerir.

Mas os dirigentes do Colônia seguiram em frente mesmo assim, o que fez com que Okudera se tornasse o primeiro japonês a jogar profissionalmente na Europa.

Sua adaptação no continente não foi fácil. “A primeira temporada foi difícil. Nem tanto em termos de jogo, mas demorei para me acostumar com o estilo de vida”, disse em entrevista à FIFA em 2009.

De fato, as gritantes diferenças entre os hábitos orientais e ocidentais poderiam ser um grande problema na aventura de Okudera, mas dentro de campo ele surpreendeu. Logo em sua temporada da estreia, foi peça importante no título da Bundesliga, o terceiro da história da Colônia.

Na época, o time contava com estrelas como o goleiro Harald Schumacher e o atacante Dieter Muller, mas coube a Okudera o papel de talismã. Mesmo sem ser titular absoluto, marcou quatro gols nas duas rodadas finais. Os tentos garantiram a apertada conquista, já que o título foi decidido apenas no saldo de gols em disputa com o então campeão Borussia Monchengladbach.

Pelo fator “exótico” e pelo voluntarismo no gramado, o japonês caiu nas graças da torcida. Sua moral aumentou depois de marcar um gol na semifinal da Copa dos Campeões da Europa, no empate em 3×3 contra o Nottingham Forest, que se sagraria campeão. Era a primeira vez que um asiático marcava em uma partida do torneio.

Com a saída de Weissweiler do comando do Colônia, Okudera se transferiu para o Hertha Berlin, que tentava o acesso para a liga principal. Apesar do fracasso na tentativa de promoção do clube, o jogador fez um bom campeonato e chamou a atenção de Otto Renhagel, treinador do Werder Bremen.

Okudera nos tempos de Werder (Foto: Reprodução)
Okudera nos tempos de Werder (Foto: Reprodução)

Pelo Werder, Okudera precisou se adaptar a uma nova função, atuando recuado na lateral-direita. Era um dos preferidos do treinador, e sua forma física fez com que atuasse em quase todos os jogos. Durante suas cinco temporadas em Bremen, ele viu o clube atingir o segundo lugar três vezes.

Depois de nove temporadas na Alemanha e 34 gols marcados, Okudera resolveu retornar ao seu país de origem, em 1986, aos 34 anos, para atuar por mais duas temporadas no clube que o havia revelado. Era um dos poucos atletas profissionais no Japão, acompanhado pelos brasileiros que começavam a ser atraídos para o futebol de lá.

Seu retorno e esse fluxo de estrangeiros incentivaram os dirigentes a criarem a J-League em 1993. Um dos clubes fundadores seria justamente o Furukawa, que agora seria presidido por Okudera sob o nome de JEF United Ichihara.

Ainda como dirigente, criou o Yokohama F.C. em parceria com Pierre Littbarski, seu antigo companheiro de clube no Colônia. Seus contatos na Europa fizeram com que se tornasse também presidente de honra do Plymouth Argyle, da Inglaterra. Mas seu maior legado permanece presente em cada atleta asiático que alcança grandes feitos no futebol internacional.

 

Deixe seu comentário!

comentários