Era Steven Gerrard quem cobraria a falta para o Liverpool. Os Reds massacravam o São Paulo em busca do empate na decisão do Mundial de Clubes em 2005, no Japão. Rogério fazia o possível e o impossível para trazer o tricampeonato para o Brasil. E fez. A defesa plástica na cobrança do ídolo inglês foi o símbolo desta conquista. A imagem não sai da minha cabeça. A bola entraria no ângulo, onde a coruja dorme, e Air Ceni foi lá buscar. Um verdadeiro M1T0.
Nesta sexta, o maior jogador da história do São Paulo se despede dos gramados em um amistoso entre os campeões mundiais de 1992/1993 contra os campeões mundiais de 2005. Foram 1237 jogos oficiais e 131 gols marcados com a camisa do Tricolor Paulista. Além de incontáveis títulos e prêmios individuais.
Rogério é inesquecível, é histórico. O goleiro artilheiro. Fazia gol de pênalti, de falta. Até com a bola rolando ele fez – tudo bem que foi num rebote de uma cobrança de falta – mas também conta. Um jogador completo. Debaixo das traves, defesas memoráveis, pênaltis defendidos de extrema importância. Gravou seu nome no mundo da bola.
Existiram frangos? Sim. Goleadas acachapantes? Sim. Mas lembremos de que mesmo sendo uma lenda, Rogério é humano, não é perfeito, e estava sujeito a estes acontecimentos. Como não lembrar os 5 a 0 do Corinthians em 2011? Ou do gol de placa de Alex sobre Rogério em 2002? Pois é, ele é somente um ser humano…
Ele veio de Sinop-MT para conquistar o coração são paulino, o mundo e a antipatia de rivais. Marcou seu primeiro gol em 1997, no Campeonato Paulista, na vitória por 2 a 0 sobre o União São João de Araras. O último, até então, no dia 26 de agosto deste ano, na vitória por 3 a 0 sobre o Ceará pela Copa do Brasil.
Quis o destino que o centésimo e histórico gol fosse sobre o clube o qual sempre gostou de vencer, o Corinthians. A Arena Barueri foi o palco, o goleiro Julio Cesar a vítima, e 2011 o ano. Que festa bonita. Um golaço, indefensável para o arqueiro alvinegro.
Rogério nunca foi dos mais simpáticos. Para muitos, é arrogante. O que é inegável e inspirador são o amor e dedicação que ele nutre pelo futebol, pelo São Paulo. Hoje em dia é difícil de encontrar um atleta assim. Podia ter se aposentado antes? Claro que sim! Ele foi teimoso, mas ele teve personalidade, colhão para assumir o risco de críticas que poderiam vir, e que vieram.
Mas não importa. Pois hoje gostaríamos que ele não se aposentasse. O futebol perde um ídolo. O corintiano, o palmeirense, o santista, um grande adversário. O são-paulino, o maior jogador que passou pelo clube. Não é fácil. Infelizmente, nada é para sempre. Ou é?
Rogério Ceni pode estar se aposentando, mas não nos esqueçamos de seus feitos, pois eles são eternos, entraram para a história. Goleiro artilheiro. Goleiro vencedor. Um monstro debaixo das traves. Assim que ele será lembrado. Os rivais podem caçoar, negar sua importância, o que for, mas não podem negar que um goleiro como Rogério Ceni dificilmente aparecerá.
Não só pelo fato de bater faltas. Mas pela qualidade debaixo do gol, pela disciplina, liderança, amor à camisa. A aposentadoria de Rogério Ceni é um fim de uma era no São Paulo e o começo de outra, que ainda não dá para se fazer projeções.
Rogério, estas são palavras de um corintiano. Obrigado por ter sido rival do meu clube, pelos confrontos, pela história. Obrigado por ser este grande atleta e ídolo do São Paulo Futebol Clube, se você não existisse, não sei se a rivalidade seria a mesma coisa. Você fará falta daqui para frente, mas o que fica é seu legado. Você é uma lenda e as lendas nunca morrem.