Para quem conhece o Dínamo de Berlim nos dias de hoje, é difícil imaginar as inúmeras histórias de sucesso e controvérsia por trás do recordista de títulos na antiga Alemanha Oriental (RDA). Se agora o clube milita nas ligas regionais do ludopédio germânico, antes da queda do Muro de Berlim (1989), por outro lado, o cenário era bem diferente.
Como já foi discutido no Alambrado, os regimes autoritários em geral costumam usar o esporte como ferramenta de propaganda política. No lado oriental de Berlim isso não foi diferente. E é aqui que o futebol se depara com a figura do ministro de Segurança da RDA, Erich Mielke, que também controlava os serviços da polícia secreta, a famosa Stasi.
Organização poliesportiva das agências de segurança locais, o SV Dínamo foi fundado em 1953 sob a presidência de Mielke, baseado nas estruturas desenvolvidas na União Soviética e adotada nos demais regimes do Leste Europeu. Seu objetivo desde o início era político, tanto que muitos dos êxitos oriundos dele eram retratados como triunfos da RDA.
Embora o SV Dínamo tenha sido incorporado em 1957 à Federação Alemã de Ginástica e Esportes (DTSB, na sigla original), ele funcionava de maneira independente, controlado pelo Ministério de Segurança. Entre as várias modalidades que se destacavam na referida associação, um de seus maiores expoentes era o Dínamo Berlim, que brevemente chegou à elite (DDR-Oberliga) e ergueu uma copa nacional (FDGB Pokal), em 1959.
Durante seu auge, o SV Dínamo possuía cerca de 280 mil membros ativos, entre os quais mais de 200 medalhistas olímpicos, além de outros atletas com relativo prestígio nacional e internacional. No entanto, ele também é tido como a origem do laboratório do doping, já que ali existiu um esquema de uso sistemático de substâncias ilícitas organizado pelo menos desde 1970 com respaldo do governo, conforme revelado há poucos anos.
Alia-se a isso toda a força de Erich Mielke, que atuou diretamente em favor do Dínamo Berlim, como ao forçar a saída dos jogadores do popular Dínamo Dresden para fazê-los assinar com o Berlim na década de 1950, o que ocasionou o enfraquecimento do Dresden, que vencera um título recentemente, e o seu rebaixamento pouco depois. Sob outra perspectiva, isso ajudou o Berlim a gozar de relativo sucesso até meados dos anos 1960.
Apesar dessa ajuda, Dínamo Berlim não se firmou, atravessando momentos de altos e baixos, incluindo um descenso, até ser refundado em 1966 como BFC Dínamo, voltando em breve à elite da RDA. Só que os ventos naquele momento, ironias da vida, sopravam para o lado do Dresden e do Magdeburg, que foram hegemônicos no cenário do país até o fim dos anos 1970, quando o Berlim deu início ao seu longo (e polêmico) reinado.
Entre 1978 e 1988, o novo Dínamo ganhou 10 campeonatos de modo seguido, recorde absoluto no futebol da Alemanha Oriental, mas que fora marcado por fortes denúncias, como arbitragem polêmica, estranhas lesões de rivais suspensão deles antes dos confrontos diretos, compra dos principais jogadores dos concorrentes ao títulos e até ameaças a eles, sem mencionar o problema do já citado caso de doping sistemático.
Apesar do sucesso nacional em termos esportivos, já que o clube ganhou enorme rejeição entre os torcedores em geral, os berlinenses nunca fizeram sucesso além de suas fronteiras. A prova disso é que seu máximo êxito continental foi alcançar a semifinal da Recopa Europeia (Taça das Taças) em 1971/72, quando caiu nos pênaltis para o Dínamo de Moscou, que logo na sequência perderia o título para o Rangers, da Escócia.
Depois da Queda do Muro de Berlim e, por consequência, da relevante influência de Mielke nos serviços de inteligência da polícia secreta, o Dínamo de Berlim acumulou fracassos, mais fracassos e despencou. Chegou a passar cinco temporadas na quinta divisão, entre 2009/10 e 2013/14, e hoje está no quarto estágio do futebol nacional. Com dificuldades de se reerguer, o clube parece ser vítima de sua próprio carma.