O peso nas costas do Leicester, o Atlas do futebol atual

O peso nas costas do Leicester, o Atlas do futebol atual

Sensação do futebol atual, Leicester está perto do título, mas tem que lidar com a "obrigação" de vencê-lo

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leicester convive com a euforia e a responsabilidade de ser campeão (Foto: Divulgação/Leicester)
Leicester convive com a euforia e a responsabilidade de ser campeão (Foto: Divulgação/Leicester)

Reza a lenda que Atlas, filho de Jápeto com a oceânide Ásia, era um Titã condenado por Zeus, o pai dos deuses, a carregar os céus em suas costas por toda a eternidade. Desde então, Atlas passou a representar qualquer figura que lida com enormes responsabilidades, indo além das tarefas mundanas.

Mas que raios uma figura mitológica da Grécia antiga está fazendo em um texto colocado num portal de futebol? A referência pode ser descabida, mas ao que parece, o futebol atual conta com uma sensação que, ao mesmo tempo que surpreende e ganha cada vez mais torcida entre os amantes do esporte, passa a carregar um fardo do tamanho do mundo em suas costas.

O Atlas da bola não poderia ser outro: O Leicester City, time do momento que, indo muito além de qualquer expectativa, lidera o Campeonato Inglês com sete pontos de vantagem a apenas cinco rodadas do fim. A cada jogo que passa, a agradável zebra parece se aproximar mais da conquista inédita, com uma história que já faz qualquer roteirista de cinema lamber os beiços. Com tantos fatores positivos, qual seria o tal fardo?

Pois bem, o “problema” do Leicester é justamente ter mostrado que é possível. Para um time que começou o campeonato como um dos candidatos ao rebaixamento, em uma liga cheia de milionários, com um técnico desacreditado e um elenco que misturava desconhecidos e refugos de outras equipes, chegar onde o Leicester chegou já é um feito e tanto, sem sombra de dúvida.

Mas o futebol, refletindo aspectos da sociedade, tem a característica de valorizar apenas quem vence. E é por isso que, mesmo com tudo que tenha acontecido na épica jornada das Raposas na Premier League até agora, haverá uma ponta de decepção se o título inglês não chegar para o Leicester.

Injusto? Sim. Independente do que a tabela mostrar ao final das 38 rodadas, a história é de um grupo vencedor. Mas já se sabe há muito tempo que a base do futebol não está fundamentada na justiça. Gente que mal conhecia o clube antes da ascensão nas tabelas encheria a boca para chamá-lo de pipoqueiro em caso de qualquer resultado que não fosse o título.

Ainda há outra grande responsabilidade sob os ombros do simpático time azul. O Leicester acabou se tornando um representante da luta dos times menores oprimidos contra os gigantes endinheirados. Nos últimos anos, foram pouquíssimos casos em que uma liga badalada foi vencida por um time com investimentos mais baixos.

“Mas o Leicester recebe milhões com as cotas de TV e patrocínios”. Sim, é preciso destacar que na Inglaterra o modelo de distribuição de cotas é menos desigual do que em outros países, como a Espanha e até mesmo o Brasil. Mas o time é apenas o 17º em valor de elenco no campeonato (segundo o site Transfermarkt.com), e a montagem do elenco inteiro custou menos do que uma simples contratação de um dos ricos de Manchester, por exemplo.

Com isso, o Leicester se tornou um espelho para todos os times que sonham em bater de frente contra os maiorais. Em pleno futebol moderno, é um resquício da época em que as ligas eram mais equilibradas e o espírito e a organização faziam mais diferença. Um título das Raposas pode elevar a moral desses clubes a ponto de seguirem o modelo. Em caso de derrota, será um banho de água fria.

De qualquer forma, tudo caminha para que a história seja feita. Tanto o título quanto uma eventual derrocada nas rodadas finais seriam lembrados por muitos anos. O Leicester carrega uma grande responsabilidade, mas parece estar confortável com isso. E o mundo que ele leva nas costas parece estar cheio de gente querendo apoiá-lo.

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Jornalista, 23 anos. Amante do futebol bonito e praticante do futebol feio