O fim de La Bombonera?

O fim de La Bombonera?

Boca Juniors compra terreno em La Boca e pode construir novo estádio; Grupo de torcedores critica projeto

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Fundado em 1940, Estádio Alberto J. Armando tem cerca de 49 mil lugares. (Foto: Javier Garcia Martino/Photogamma)
Fundado em 25 de maio de 1940, Estádio Alberto J. Armando tem aproximadamente 49 mil lugares. (Foto: Javier Garcia Martino/Photogamma)

A atual capacidade da mística La Bombonera foi tema recorrente nas últimas eleições presidenciais do Boca Juniors, realizadas em dezembro do ano passado. Candidato reeleito em votação recorde, o macrista Daniel Angelici anunciou à época que sua intenção era construir uma nova casa para a agremiação xeneize, mediante plebiscito destinado aos sócios. O controverso projeto deu seus passos iniciais no fim do mês seguinte, com a compra de 3,2 hectares de um terreno no bairro de La Boca.

Curiosamente, o Boca Juniors foi o único oferente da licitação pública que custará 180 milhões de pesos aos cofres do clube – excetuando-se, óbvio, o valor para erguer a obra, estimado entre 300 e 400 milhões de dólares. Até o momento, somente é certo que a polêmica repercute bastante entre os torcedores bosteros e a população local.

A organização Boca Es Pueblo, idealizada em 2012 por um numeroso grupo de fãs responsável por defender os pilares que forjaram a identidade do clube, protagoniza talvez o mais significativo movimento contrário ao “estádio-shopping”, como eles se referem ao projeto reservado ao terreno entre as ruas Arzobispo Espinosa, Juan Manuel Blanes, Palos e Almirante Brown, a metros da famosa Casa Amarilla.

No entendimento do coletivo, dois dos quatro elementos que constituem o Boca Juniors, juntamente às cores azul e amarelo e à torcida bostera, são o bairro de La Boca e La Bombonera. A principal crítica do grupo está vinculada ao processo de modernização que representa a edificação do novo estádio, o que resultaria em mais exclusão e elitismo, algo já praticado pela atual diretoria, que há anos não vende ingressos nas bilheterias e também fechou a inscrição para novos sócios.

Lutando para recuperar as origens populares do clube, o Boca es Pueblo enumera motivos para se posicionar contra o plano e defender La Bombonera com base em questões ambientais, urbanísticas e sociais. Primeiro, as necessidades habitacionais urgentes do bairro. A obra, além de gerar grande endividamento, também impossibilitaria a construção de aproximadamente cinco mil moradias populares.

Durante sua campanha, Angelici falou de um estádio “cinco estrelas” (ou uma arena, para usar um termo bastante frequente no Brasil), mas tem dado respostas imprecisas sobre o assunto. À Rádio Red, disse que os terrenos seriam destinados a instalações para esportes amadores, mas não excluiu a possibilidade de edificar um estádio.

Na atualidade, o local é utilizado por habitantes para distintas atividades e, por decreto do governo da cidade, está destinado a obras de habitação, saúde e educação. Com o levantamento do, entretanto, perderia-se um terreno onde são necessários espaços verdes, recreação e atividades culturais, afetando dessa maneira uma zona com problemas de inundações e a qualidade de vida dos cidadãos.

Além desses fatores, o espaço público que até 2010 estava sob controle do Instituto de la Vivenda de la Ciudad foi transferido, por decreto, para a Corporação Buenos Aires Sur. Esta então financiaria a compra das terras pelo Boca Juniors, uma instituição privada que teria sua marca explorada durante décadas por investidores devido à construção do novo estádio, implicando no consequente abandono de La Bombonera.

Por essas razões, Boca es Pueblo milita fortemente nas ruas para defender a identidade do clube e as necessidades do bairro, sempre focado nos valores que movem o torcedor bostero e resgatam ideais de pertencimento. Essa luta, ao que tudo indica, só tende a crescer. E precisará da voz das arquibancadas para ganhar amplitude.

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Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, é apreciador do futebol latino, do teor político-social do esporte bretão e também de seu lado histórico.