Depois de mostrar grandes equipes que não conseguiram chegar à fase final das cinco primeiras edições da Eurocopa, (de 1960 a 1976), agora é a vez de contar a história de times fortes que, por inúmeras razões, ficaram fora da festa entre 1980 e 1996.
Antes desse período, a competição era disputada por apenas quatro seleções. Com o aumento para oito participantes, aprovado já para a edição de 1980, a possibilidade de excluir bons times era menor, mas ainda assim existia. Isso fez com que vários grandes jogadores fossem privados de disputar o maior torneio de seleções da Europa. Confira:
1980 – França
Uma espinha dorsal com Platini, Rocheteau, Bossis, Trésor e Battiston seria suficiente pra impor respeito em qualquer competição. Contando com uma base dessas, nada mais natural do que considerar a França como favorita à classificação para a Euro de 1980. A fase qualificatória seria meramente protocolar.
Mas havia pelo menos um obstáculo no grupo, e dos grandes. Ninguém menos do que a então atual campeã europeia, a Tchecoslováquia, liderada por Panenka. Suécia e Luxemburgo completavam a chave, mais como fiéis da balança do que qualquer outra coisa. Parecia claro que a briga seria polarizada entre tchecoslovacos e franceses.
Mas um deslize em casa logo na primeira rodada, com o empate em 2×2 contra a Suécia, fez a França largar atrás na disputa. A recuperação veio com duas vitórias tranquilas diante de Luxemburgo, e o jogo seguinte seria o confronto direto contra a Tchecoslováquia. Jogando em Bratislava, os tchecoslovacos fizeram valer o fator casa e venceram por 2×0, praticamente eliminando a França.
Desfalcados de alguns craques, como Platini, que havia se lesionado, os franceses ainda fariam sua parte vencendo os dois jogos restantes, fora de casa contra a Suécia e na revanche contra a Tchecoslováquia. Mas estes não deixaram a peteca cair, e garantiram a vaga com cinco vitórias no grupo. A grande geração francesa teria de esperar mais quatro anos, na Euro que seria disputada em seus domínios.
Time-base: Dropsy; Battiston, Bossis, Tresor, López; Specht, Larios, Platini; Rocheteau, Lacombe, Amisse.
1984 – Inglaterra
Talvez a maior decepção das Eliminatórias para a Euro de 1984 tenha sido a Itália. Campeã do mundo à época, o time de Graziani, Cabrini, Ancelotti e Paolo Rossi deu um verdadeiro vexame ao vencer apenas um jogo em uma chave com Tchecoslováquia, Suécia, Romênia e Chipre. Um verdadeiro fiasco, que merece menção por se tratar de um escrete que dois anos antes havia vencido simplesmente uma das melhores seleções da história do Brasil.
Mas em 1984 a Itália já vinha passando por uma certa entressafra. O time do momento na Europa, pelo menos no papel, parecia ser outro. No caso, a Inglaterra, país que venceu sete das oito edições da Copa dos Campeões organizadas entre os anos de 1976 e 1984.
A base do English Team contava com algumas lendas do futebol inglês, como Peter Shilton e Bryan Robson, auxiliados por jovens em ascensão como os meias Glenn Hoddle e Sammy Lee, além de outros bons nomes, como Paul Mariner, Ray Wilkins e John Barnes.
Mas a sina de decepções dos criadores do esporte vem de longe. A Inglaterra acabou sucumbindo por 1×0 em casa no confronto direto contra o grande time da Dinamarca, que futuramente ganharia o apelido de Dinamáquina. Como se já não bastasse, um empate contra a modesta seleção grega minou as chances dos ingleses.
Time-base: Shilton; Neal, Butcher, Martin, Samson; Lee, Hoddle, Barnes, Robson; Francis, Mariner.
1988 – França
Olha os franceses aí de novo. Ok, o time que disputou as Eliminatórias para a Euro de 1988 já não era tão forte como o que havia conquistado o título em casa na edição anterior, nem mesmo como a equipe que havia sido eliminada na qualificação para 1980. Mas ainda assim havia uma reputação a zelar, e grandes jogadores que poderiam ter rendido mais.
Mesmo já veterano, Platini ainda tinha qualidade de sobra para ser a referência técnica do time. Outro atleta experiente, Jean Tigana era o ponto de equilíbrio no meio de campo. Joel Bats era um goleiro seguro, e Battiston parecia se entrosar na defesa com Manuel Amoros. No ataque, a experiência residia nos jovens Cantona e Papin, atletas que ainda dariam muito o que falar no futuro.
Mas nada disso foi suficiente contra a força do Leste Europeu. A Guerra Fria se aproximava do final, mas no Grupo 3 das Eliminatórias as seleções “comunistas” mostraram força. A União Soviética de Dassaev e a Alemanha Oriental de Ulf Kirsten eram as grandes adversárias da chave, completada por Noruega e Islândia.
A mistura de gerações da França não deu certo. O time só conseguiu vencer sua primeira partida na quarta rodada, contra a Islândia. E aquele seria o único triunfo francês na disputa. Derrotas vexatórias em Paris contra os dois times do Leste destruíram qualquer chance de classificação. Era o início de tempos sombrios para a seleção francesa, que só voltaria a participar de uma grande competição na Euro de 1996.
Time-base: Bats; Amoros, Boli, Battiston, Ayache; Tigana, Fernandez, Platini; Cantona, Papin e Stopyra.
1992 – Iugoslávia
A história da Euro 1992 mereceria um capítulo à parte, mas por enquanto vamos nos ater ao tema. No caso, quem vale a menção é a Iugoslávia, uma das poucas seleções desta lista que não ficou de fora da fase final da Euro por motivos técnicos. A geração era ótima, e desempenhou um bom papel na qualificação. Só que a política entrou no caminho.
Comecemos contextualizando a parte boa. Em 1987, a Iugoslávia conquistou o Mundial Sub-20, revelando uma fornada de excelentes nomes, com Boban, Suker, Prosinecki, Mijatovic e Jarni, entre outros. Quatro anos depois, o Estrela Vermelha, principal equipe do país na época, conquistou o título europeu com praticamente a mesma base, somando ainda os talentos do cerebral Savicevic e do matador Pancev.
Com tantas credenciais, a Iugoslávia entrou no grupo 4 das Eliminatórias da Euro como favorita na briga por um vaga, enfrentando Dinamarca, Irlanda do Norte, Ilhas Faroe e Áustria. Sem maiores problemas, o esquadrão iugoslavo garantiu sua vaga, perdendo apenas um jogo na campanha e tendo Pancev como artilheiro do torneio (10 gols em 8 jogos).
Mas pouco antes do início da Euro eclodiu a guerra civil iugoslava. O confronto fez com que o país sofresse sanções das Nações Unidas e, pouco depois, da FIFA, que impediu a seleção de participar de confrontos oficiais. A 15 dias do pontapé inicial do torneio, a Iugoslávia perdeu a vaga conquistada no campo, dando lugar à Dinamarca, que acabaria com o título. Coisas da bola.
Time-base: Ivkovic, Jarni, Vulic, Hadzibegic, Spasic; Jozic, Mihajlovic, Boban, Prosinecki; Suker e Pancev.
1996 – Bélgica
Para a Euro de 1996, que seria disputada na Inglaterra, a UEFA aumentou o número de classificados para a fase final para 16 times. E ainda assim houve gente boa ficando fora do torneio. No caso, uma das que mais fez falta foi a Bélgica, que contava com uma geração capaz de fazer bonito.
Apenas dois anos antes, a Bélgica havia sido eliminada na Copa do Mundo dos EUA em um jogos disputado e cheio de controvérsia contra a Alemanha. Agora, liderados por Luc Nilis e Enzo Scifo e com duas vagas por grupo nas eliminatórias, os belgas tinham grandes chances de classificação, enfrentando Espanha, Dinamarca, Macedônia, Chipre e Armênia. Mas o time tropeçou demais.
Empates em jogos fáceis, contra Macedônia e Chipre, já deram uma mostra de que a equipe não estava rendendo tudo o que podia. O baque maior veio na goleada sofrida em casa para a Espanha: 4×1 de virada, fora o baile. Com três derrotas e três empates, os belgas deixavam escapar o sonho de jogar mais uma Euro.
Time-base: De Wilde, Genaux, Grun, Crasson, De Boeck; Smidts, Karagiannis, De Bilde e Scifo; Nilis e Degryse.