Faltavam poucos minutos para as 8 horas da manhã do dia 26 de dezembro de 2004 quando a terra começou a tremer no sudeste asiático. Em poucos segundos, a vida dos habitantes locais mudaria completamente. Uma onda gigante, provocada por um terremoto no oceano, deixava um rastro de mais de 220 mil vítimas em 14 países da costa.
Uma das cidades afetadas pela mortal tsunami foi Banda Aceh, na ilha de Sumatra, Indonésia. Foi lá que Martunis, um menino de apenas sete anos, acordou com a vida virada de cabeça para baixo naquele 26 de dezembro. A onda havia vitimado sua mãe e mais dois irmãos, e o impacto fez com que se separasse do pai. O menino conseguiu sobreviver segurando-se em um sofá.
Uma criança perdida em um local devastado, física e moralmente. Não havia restado muito para Martunis além do próprio instinto de sobrevivência e de um dos únicos pertences que tinha conseguido manter: uma camisa pirata da seleção de Portugal, com o número 10 e o nome de Rui Costa, um dos grandes nomes lusitanos na época.
Durante três semanas, Martunis foi forçado a viver de restos de comida encontrados nos escombros e bebendo água poluída. As condições obviamente não eram nada favoráveis, mas uma luz no fim do túnel estava prestes a surgir. Vagando pelas praias em busca de alimentos, foi encontrado por uma equipe de jornalistas estrangeiros que havia sido enviada ao local para fazer a cobertura da tragédia.
Em estado de saúde preocupante, o garoto foi tratado pela equipe de resgate, que se impressionou com a sua resistência em meio à situação caótica na qual se encontrava. Depois que os devidos cuidados foram prestados, as fotos do menino com a camisa de Portugal rodaram o mundo. E não passaram despercebidas pelos olhos da federação de futebol do país, que doou 40 mil euros para ajudar Martunis a encontrar o pai e reconstruir sua casa.
A história de superação do menino também chamou a atenção de um grande astro. Comovido pela situação, Cristiano Ronaldo visitou Banda Aceh em 2005, quando encontrou Martunies pessoalmente e se ofereceu para pagar os estudos do jovem sobrevivente.
A dor da perda dos familiares e da destruição provocada pela grande onda ainda permanecia, mas o garoto sabia que apenas se lamentar pelo ocorrido não iria melhorar a situação. Continuou os estudos, assim como seguiu com sua maior paixão: o futebol. E as brincadeiras com os seus amigos na Indonésia se tornariam algo mais sério dez anos depois.
Em julho do ano passado, Martunis foi convidado pelo Sporting Lisboa para fazer parte das categorias de base do time. Com isso, poderia trilhar os mesmos passos de seu “padrinho” Cristiano Ronaldo. Embora não tenha mostrado a mesma capacidade técnica do protetor famoso, apresentou um estilo similar ao astro do Real Madrid, jogando em velocidade e tentando entrar na área para fazer gols.
Após um ano de testes, o contrato do jovem não foi renovado. Caberá a Martunis seguir tentando deixar a adversidade para trás em busca de um futuro melhor. Se não no mundo da bola, quem sabe em outra área. A onda que poderia ter destruído completamente sua vida acabou representando uma nova chance, e o garoto já mostrou que vai correr atrás de seus sonhos com força. Uma força maior que qualquer tsunami.
