Mariscal Santa Cruz, o campeão extinto

Mariscal Santa Cruz, o campeão extinto

Único clube boliviano a ganhar um título continental foi dissolvido em 1976

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Embora possuam a altitude do território boliviano a seu favor, os times deste país não conseguem utilizar o mencionado trunfo como vantagem para chegar às fases decisivas dos torneios continentais. O caso de sucesso mais recente envolveu o Bolívar, semifinalista da Libertadores de 2014 das mãos do técnico espanhol Xabier Azkargota.

Na ocasião, a busca pela vaga na final inédita foi disputada contra o San Lorenzo, e o segundo embate ocorreu no temido Estádio Hernando Siles, em La Paz, a mais de 3.600 metros do nível do mar. A goleada por 5 a 0 no jogo de ida, em Buenos Aires, porém, minou as chances de a equipe azul-celeste levantar o troféu mais cobiçado das Américas.

Assim, a vitória graças ao gol solitário do atacante Gerardo Yecerotte no duelo posterior foi insuficiente para colocar um representante boliviano pela primeira vez no estágio final da Libertadores. Isso não significa, obviamente, que o país nunca tenha tido uma glória continental sequer. Tal façanha coube ao hoje extinto Mariscal Santa Cruz.

Mariscal Santa Cruz
Eliseo Baez (à esq.) e Juan Díaz com o uniforme do Mariscal (Reprodução/historiadelfutbolboliviano.com)

Único a ostentar um logro internacional em sua nação, o “Cardenal” foi fundado em 1923 sob a alcunha de Northern Football Club e rebatizado em 1965, quando problemas econômicos resultaram em sua venda às Forças Armadas.

Depois desse evento, acabou sendo rebatizado como forma de tributo ao Marechal (mariscal, em espanhol) Andrés de Santa Cruz, antigo presidente de Peru (1827) e Bolívia (1829-1839).

Em 1970, dez anos após o nascimento da Libertadores, a Conmebol decidiu criar a Recopa Sul-Americana, que posteriormente seria chamada de Copa Ganhadores de Copa para não haver confusão com o torneio homônimo disputado na atualidade. Por inconvenientes, a Recopa seria realizada no ano seguinte com caráter amistoso e logo extinta.

De modo geral, a ideia era reunir os melhores times de cada certame que não haviam garantido vaga na Libertadores. Entretanto, alguns países adotaram outros critérios e organizaram torneios classificatórios, como Argentina e Uruguai. Por sua vez, Brasil e Colômbia recusaram-se a jogar, o que determinou somente oito participantes.

Terceiro colocado na Bolívia, o Mariscal representou seu país no grupo Sul ao lado de Atlanta (Argentina), Unión Española (Chile), Deportivo Municipal (Peru) e Rampla Juniors (Uruguai), que se enfrentaram em La Paz e Cochabamba. No grupo Norte, El Nacional (Equador), Libertad (Paraguai) e Unión Canarias (Venezuela) jogaram em Quito.

Mariscal Santa Cruz v El Nacional
Lance da final disputada em La Paz em 1970 (Foto: Reprodução/historiadelfutbolboliviano.com)

De um lado, o El Nacional avançou em razão do empate sem gols com o Unión Canarias e a goleada sobre o Libertad, por 4 a 1.

Do outro, o Mariscal Santa Cruz conseguiu superar Atlanta (1-0), Rampla Juniors (4-1) e Unión Española (2-1), além de ter empatado com o Deportivo Municipal (1-1).

Curiosamente, diga-se de passagem, os dois finalistas eram propriedades das Forças Armadas de seus respectivos países.

No primeiro jogo, em 19 de abril de 1970, no Estádio Olímpico Atahualpa, em Quito, houve um acirrado empate a zero. Na partida decisiva, em 26 de abril, a equipe do técnico boliviano Féliz Deheza venceu a do paraguaio José María, em La Paz, com dois gols do meio-atacante guarani Eliseo Báez, diante de 30 mil espectadores.

Outra curiosidade é que a maior glória de um clube boliviano teve poucos jogadores locais. Além do treinador, somente o lateral Barrientos e os meias Hurtado e González haviam nascido naquele solo. Formaram o time titular mais quatro paraguaios e quatro argentinos. Nada, obviamente, que diminua os méritos do Mariscal Santa Cruz.

Seis anos mais tarde, sem maiores explicações, o clube foi dissolvido pelo ditador da época, General Hugo Banzer. Apesar de extinto, o Cardenal teve sua glória oficializada pela Conmebol em 2005, tornando-se até hoje o único boliviano campeão continental.

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