O brilho de Majed Abdullah, o “Pelé do deserto”

O brilho de Majed Abdullah, o “Pelé do deserto”

Conheça a história do maior craque do futebol árabe

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Abdullah deixou sua marca contra o Brasil nas Olimpíadas de Los Angeles (Foto: Reprodução)
Abdullah deixou sua marca contra o Brasil nas Olimpíadas de Los Angeles (Foto: Reprodução)

Dia 10 de setembro de 2014. Uma das redes sociais mais acessadas do mundo, o Twitter, percebe um fluxo muito acima do normal em seus servidores na Arábia Saudita. O motivo aparentemente, era o número de menções e curtidas relacionadas a um perfil recém-criado, cuja foto de capa apresentava um sorridente senhor de meia idade. Em um intervalo de menos de duas horas, mais de 200 mil seguidores, algo bem acima da média no país.

Não era pra menos. O dono da arroba era ninguém menos que Majed Abdullah, ídolo nacional e reconhecido como o maior jogador de futebol da história saudita. Uma descrição que parece superlativa, considerando-se que trata de um nome pouco comentado no mundo ocidental. Mas a idolatria por parte dos árabes é completamente justificável.

Abdullah nasceu em 1959 na cidade de Jeddah, a segunda maior do país. Foi iniciado no futebol logo cedo por conta de seu pai, Ahmed, treinador das categorias de base do Al-Nassr. Nesse ambiente boleiro, o jovem foi desenvolvendo seu talento em clubes menores, como o Al-Ittifaq, até ter uma chance no clube do pai.

Em 1975, com 16 anos, Majed assinava o contrato com o time de Ryad, presidido pelo príncipe Abdul Rahman. A falta de experiência e a baixa quantidade de jogos no campeonato local fizeram com que Abdullah demorasse para promover sua estreia pela equipe principal do Al-Nassr, algo que só aconteceria em 1977.

O início como jogador do time de cima foi vacilante. Disputando posição com o centroavante Al-Abdali, considerando na época o maior astro da equipe, Abdullah custou para engrenar no time. Mas uma lesão do concorrente fez com ele tivesse mais chances, e os resultados começaram a vir. Ao final daquele ano, ninguém sentia mais falta de Al-Abdali, e o jovem era a nova sensação.

Antes disso, Abdullah já tinha deixado uma boa impressão pela seleção sub-17 da Arábia Saudita, empilhando gols em campeonatos menores do mundo árabe. Mas agora o nível era diferente. A estrela começava a brilhar justamente em um dos times mais populares do país, onde a cobrança era enorme, mesmo com a falta de títulos. Mas esse detalhe estava prestes a mudar.

Na temporada 1977-78, sua primeira como titular absoluto, Abdullah marcou 12 gols em 12 partidas, chegando à vice-artilharia do Campeonato Saudita e levando o Al-Nassr ao segundo lugar. No ano seguinte, artilharia garantida, dessa vez com 13 gols, mas o título batia na trave de novo. Mas na temporada 1979-80 o troféu não escapou. O processo de conquista da exigente torcida do clube estava concluído.

Mas aquele era só o começo. A lenda da “Joia do Deserto”, como passou a ser chamado, passou a se espalhar não só pela Arábia, mas por todo o continente asiático. Abdullah marcava gols com uma facilidade absurda na liga local, e conseguia manter o nível de suas atuações pela seleção.

Forte e oportunista, como manda o manual do centroavante, o astro passava por cima de defensores de outros países asiáticos, onde o futebol ainda era pouco desenvolvido. Acabaria sendo o herói da classificação da Arábia Saudita para as Olimpíadas de 1984.

As chances do time asiático eram remotas no torneio olímpico, ainda mais caindo em um grupo difícil, com Alemanha Ocidental, Marrocos e Brasil. E foi justamente contra a seleção canarinho que os árabes marcaram seu único gol no torneio. Adivinhem de quem foi? Dele mesmo, o “Pelé do Deserto”.

O gol solitário já era motivo suficiente para elevar ainda mais o status de Abdullah com o povo do país, mas ele foi além. Levou a seleção ao título da Copa da Ásia em 1984, com direito a um gol na final contra a China, ganha por 2×0. Quatro anos depois, repetiu a dose, sendo novamente o craque da equipe na conquista do bicampeonato continental.

Abdullah tinha mudado o escalão da seleção de seu país, assim como havia feito com o Al-Nassr. Durante toda a década de 1980, foi bem-sucedido em praticamente todas as missões a que se propôs, mas quando vieram os anos 1990 ainda faltava uma coisa, justamente a maior competição de todas: A Copa do Mundo.

O sonho foi realizado em 1994. Já com 35 anos e sofrendo com lesões, Abdullah não conseguiu manter o nível de protagonismo de outrora. Foram apenas duas partidas disputadas no Mundial dos Estados Unidos, contra Holanda e Bélgica, sem muito brilho. Mas a mera participação no torneio, com direito a chegada da equipe nas oitavas de final, serviu como uma espécie de homenagem ao veterano.

Se poupando em grande parte dos jogos do Al-Nassr, o atacante ainda levaria sua carreira por mais quatro anos, até se aposentar em 1998. Com isso, ele fechava uma trajetória de números impressionantes. Pelo clube, quatro títulos nacionais e quatro Copas do Rei Saudita, com direto posto de artilheiro em seis oportunidades e um total de 260 gols em 240 jogos oficiais. Pela seleção, balançou a rede 71 vezes em 116 partidas.

Em 2008, dez anos depois do último jogo oficial da estrela, o Al-Nassr resolveu homenageá-lo com uma partida de “despedida”, realizada no estádio King Fahd contra ninguém menos que o Real Madrid. Um público de 70 mil pessoas, além dos cerca de 30 mil que não conseguiram entrar no palco, viram o time arábe bater os gigantes merengues por 4×1. Mas o placar não importava. Nas tribunas, Majed Abdullah via tudo com um brilho no olhar. O mesmo que ele havia proporcionado aos torcedores quando desfilava pelos campos.

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