Tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe. Eles ficaram a poucos minutos da consagração e por conta de um lance acabaram não entrando para a galeria de eternos ídolos por clubes e seleções.
Essa é a situação vivida pelos jogadores que quase entraram para a história, contada pelo Alambrado neste especial. Na primeira parte, vimos os casos de Mario Basler, Dominic Adiyiah e Richard Morales, que por questões distintas, tiveram a glória tirada de suas mãos.
Nesta segunda parte, veremos mais três jogadores que ficaram próximos de fazer história mas não puderam desfrutar do carinho especial que torcedores tem por seus heróis no futebol. Confira:
Friaça
Ponta-direita habilidoso e goleador, Friaça merece respeito pelo importante papel que desempenhou em seus tempos gloriosos do Expresso da Vitória vascaíno nos anos 1940, além das boas atuações pelo São Paulo, onde jogou junto com Leônidas da Silva.
Mas em um papo sobre futebol em que é mencionado o nome do ex-jogador, morto em 2009, a conversa acaba tomando um rumo traumático. Afinal, Friaça tem uma forte ligação com uma das maiores tristezas do futebol brasileiro.
Convocado para Seleção Brasileira que disputaria a Copa de 1950 em casa, Friaça vivia seu auge técnico. Após iniciar o torneio atuando pela ponta-esquerda, foi trocado para o lado oposto e, com isso, o desempenho da equipe melhorou.
O Brasil passou para a segunda fase e massacrou Suécia (7×1) e Espanha (6×1). O time parecia cada vez mais desenvolto, e faria o jogo decisivo contra o Uruguai no Maracanã lotado, precisando apenas de um empate para garantir seu primeiro título mundial.
O cenário parecia perfeito. Mais de 200 mil compareceram ao estádio para ver o título que parecia ganho. Depois de um primeiro tempo sem muito brilho, Friaça teve sua chance de roubar a cena, e aproveitou.
Logo aos dois minutos da segunda etapa, partiu pelo lado direito do ataque e bateu cruzado para superar o goleiro Roque Máspoli. O Maracanã explodiu em alegria, e o que era favoritismo acabou se transformando em descuido.
O Brasil recuou para segurar o resultado, o que se mostrou um grave erro. Schiaffino empatou a partida aos 21, e aos 34, Ghiggia chutou por baixo de Barbosa para virar o jogo. O silêncio tomava conta de um dos maiores templos do esporte: estava selado o “Maracanazo”.
O gol de Friaça, que curiosamente só marcou pela Seleção Brasileira naquela ocasião, acabaria sendo esquecido pela frieza da matemática da bola. Seu posto de primeiro herói de um título do Brasil em Copas foi retirado antes mesmo de existir. E seus motivos para a decepção com aquele 16 de julho de 1950 acabariam sendo ainda maiores que os de milhões de brasileiros que choraram por conta daquela tarde no Maracanã.
Jorg Bohme
Uma das histórias mais dramáticas do futebol mundial não poderia deixar de contar com um candidato a entrar nesta lista. No caso, o “felizardo” é Jorg Bohme, meia alemão que atuava no Schalke 04 durante a temporada 2000-01 da Bundesliga.
Naquele tempo a equipe de Gelsenkirchen já amargava um jejum de 43 anos sem um título do Campeonato Alemão, sendo que a última conquista ocorrera em 1958. Os azuis-reais tinham montado uma equipe forte e competitiva, em que Bohme era figura essencial pela solidez no meio e precisão na bola parada.
Além dele, se destacavam os artilheiros Ebbe Sand e Emile Mpenza, além do meia Gerald Asamoah. O entrosamento fez com que o Schalke conquistasse vitórias importantes no campeonato até mesmo fora de casa, como a goleada por 4×0 contra o rival Borussia Dortmund e os 3×1 contra o adversário direto na briga pelo título, o Bayern de Munique.
Na rodada final, o Schalke chegava vivo na disputa pela Salva de Prata, com 59 pontos. Mas a missão era difícil, já que o líder Bayern, com 62, jogaria contra o Hamburgo por um empate. Os “Mineiros” precisariam, portanto, de uma vitória contra o Unterhaching e de uma derrota do time da Baviera.
O Schalke começou mal a tarefa, sendo surpreendido pelo adversário já rebaixado com dois gols em menos de 30 minutos. Foi aí que Bohme começou a aparecer. Começou a jogada que culminou no gol de Van Kerchkoven, e cobrou o escanteio que resultou no gol de empate, marcado por Asamoah.
O Unterhaching voltou à frente do placar novamente com um gol de Seifert, mas Bohme estava lá para decidir de novo, dessa vez indo diretamente para as redes. Primeiro, em uma cobrança de falta, depois com um toque sutil no canto do goleiro para virar o jogo. Ebbe Sand ainda marcaria o quinto, fechando o placar em 5×3.
Ao término da partida, os torcedores do Schalke no Parkstadion puderam ouvir as notícias de um gol do Hamburgo marcado por Barbarez, que tirava o título do Bayern. Como o jogo já estava nos acréscimos, a torcida azul real já havia começado a comemorar o tão esperado título.
No entanto, os instantes finais trouxeram uma amarga e irônica surpresa. Matias Schober, goleiro do Hamburgo que havia sido emprestado pelo próprio Schalke, pegou com as mãos uma bola recuada por Ujfalusi. O juiz marcou tiro livre indireto dentro da área.
Patrik Andersson, zagueiro sueco que nunca havia batido uma falta sequer pelo Bayern, foi para a cobrança, e marcou. Com o placar de 1×1, o time de Munique se sagrou campeão mais uma vez, o Schalke continuou na fila (que dura até hoje) e a atuação histórica de Bohme acabou não recebendo o valor que poderia.
Ailton
Para alguns atletas, a melhor chance de alcançar um grande feito na carreira acontece tardiamente. Foi o caso de Ailton, atacante que jogou no São Caetano entre os anos de 2000 e 2002, período que marcou a ascensão do então novato clube do ABC paulista ao patamar dos candidatos a disputa de títulos importantes.
Prova disso é o desempenho do Azulão nos Brasileiros de 2000 e 2001, quando chegou na final, e da campanha na Libertadores de 2002, em que também bateu na trave.
Presente no elenco do Cruzeiro campeão da Libertadores em 1997, Ailton tinha dessa vez a oportunidade de se sagrar campeão como titular. Depois de marcar um gol na semifinal contra o América-MEX, ele chegava como um dos destaques da equipe na final contra o Olimpia-PAR.
Na primeira partida, realizada no estádio Defensores del Chaco, o São Caetano conseguu controlar os donos da casa com surpreendente tranquilidade. Em uma subida ao ataque, Ailton aproveitou cruzamento para cabecear no canto direito do goleiro Tavarelli. Os primeiros 90 minutos da decisão terminavam com vantagem para o lado azul.
Na volta, o Pacaembu lotado por torcedores de diversos simpatizantes do Azulão aguardava a confirmação do título. Um troféu marcante, considerando que o clube havia sido fundado apenas 13 anos antes e já chegava tão perto de colocar a América a seus pés.
E no primeiro tempo o São Caetano fez jus às expectativas do público, e mais uma vez Ailton brilhou. Depois de boa tabela com Somália, tocou na saída do goleiro para abrir o placar. A vantagem do time do ABC aumentava, assim como as chances de Ailton virar heroi.
Mas do outro lado não estava um adversário qualquer. O Olimpia, então tricampeão continental, não iria se render sem brigar até o final. No segundo tempo, os paraguaios foram para cima e conseguiram uma virada improvável, com gols de Córdoba e Báez.
Como não existe a regra do gol qualificado na final da Libertadores, a disputa foi para os pênaltis. Mais cascudo, o Olimpia levou a melhor e venceu por 4×1, conquistando o tetra. Fim do sonho do São Caetano, e glória roubada de Ailton.