Alguns jogadores demoram a se firmar como profissionais. Essa dificuldade aumenta dentro de um contexto desfavorável. Muitas promessas do futebol brasileiro encontram uma pressão descomunal quando sobem para a equipe principal de seus clubes.
Muitos fatores explicam tal cenário, entre eles a pressa característica do torcedor e a carência de grandes jogadores nos principais clubes. O São Paulo é um dos modelos de estrutura nas categorias de base. Elogiado pelo mundo afora, o CT de Cotia é um exemplo de centro de formação para jovens jogadores.
Apesar da grande qualidade estrutural, o clube paulista é criticado pela falha na transição e na incorporação de mais atletas ao elenco – principalmente ao time titular. Em meio à crise econômica do Tricolor e a chegada do técnico colombiano Juan Carlos Osorio, as expectativas em torno de Cotia mudaram e a torcida esperar ver mais pratas da casa no time.
O retorno de um maestro silencioso
Aos 22 anos, João Schmidt, um dos melhores volantes formados pelo São Paulo nos últimos anos, espera aproveitar o momento positivo e ser uma espécie de “novo Hernanes” do Tricolor.
Apesar de não ser tão jovem, João Schmidt teve poucas oportunidades no São Paulo. Uma das promessas das categorias de base desde o sub-15 – quando fez parte de uma ótima geração /93 do Tricolor -, João apareceu de vez na Copa SP 2011, quando formou boa dupla com Rodrigo Caio no meio-campo são-paulino.
No mesmo ano, ajudou o Tricolor a conquistar o Campeonato Paulista Sub-20. Sempre com muita sobriedade, frieza e tranquilidade, comandava o toque de bola com muita cadência da equipe de Sérgio Baresi.
Estreia pelo profissional
Em 2012, chegou a receber chances na equipe principal do Tricolor. Na décima rodada do Campeonato Brasileiro daquele ano, teve a oportunidade de estrear pela equipe profissional. Em jogo contra o Vasco, no Morumbi, foi titular do treinador Ney Franco.
Em uma equipe ainda sob ajustes, fez uma partida razoável e deu lugar ao zagueiro João Filipe no intervalo. Estive na partida na noite gélida do Morumbi e pude perceber a timidez de um jovem de apenas 19 anos. Apesar disso, ficou nítida a técnica e qualidade no passe, além de visão de jogo privilegiada.
Fez mais quatro aparições no Campeonato Brasileiro 2012, além de fazer parte do elenco campeão da Copa Sul-americano do mesmo ano. Era um crescimento notório do jovem ainda em formação.
A classe vista com outro olhar
No mesmo ano, esteve muito bem pelo time sub-20 do Tricolor. Outra oportunidade de ver o desempenho do jogador ao vivo ocorreu na final do Campeonato Paulista sub-20 2012. No Pacaembu, João Schmidt foi o melhor jogador do São Paulo na derrota de 1 a 0 para o Santos.
A perda do título não simbolizou uma derrota para a ótima geração são-paulina. Derrotadas para a excelente equipe santista, o que se viu foi um confronto de ótimo nível. Mais uma vez, João me chamava a atenção pela técnica e tranquilidade. Um maestro silencioso. Uma espécie de centro-campista europeu.
Concomitantemente, João Schmidt integrou algumas seleções de base. Pertencente a uma geração que não convenceu muito com a amarelinha, o volante chegou a conquistar três títulos com o Brasil.
Em 2012, participou do Quadrangular Internacional, na Argentina, além do Torneio Oito Nações, na África do Sul, este como capitão. No ano seguinte, fez parte do elenco que conquistou o importante Torneio de Toulon, na França.
Títulos que o credenciavam como promessa também da seleção brasileira. O maestro dava as cartas silenciosamente, sempre girando a pelota e dando qualidade à saída de bola de qualquer time.
Período ruim e empréstimo
Em 2013. mais experiente, esperava-se mais oportunidades para o volante. Porém, o que se viu foi um péssimo aproveitamento do jovem. Apenas duas vezes esteve em campo e, na maioria das vezes, participações pela equipe sub-20.
A constante desvalorização fez com que em 2014 ele fosse emprestado. Os portugueses do Vitória de Setúbal se interessaram pelo volante. Aos 21 anos, era a grande chance de mostrar o potencial.
Em Portugal, uma temporada de sucesso. Apesar de integrar uma equipe fraca tecnicamente, João se destacou no meio-campo do técnico Bruno Ribeiro. Importante taticamente, além de polivalente, foi um bom destaque do clube luso.
Foram 34 partidas, com seis gols e três assistências. Jogando como primeiro volante, mais aberto pela direita como segundo homem e, às vezes, quase como um armador, Schmidt ganhou tempo de jogo e, o mais importante, confiança.
Neste ano, de volta ao São Paulo, a esperança é que o volante siga em um crescimento satisfatório. A trajetória de Hernanes e Jean inspira. Quem sabe o antigo “colosso” de Juvenal Juvêncio não seja o pilar de uma equipe ainda em formação. Talento existe em larga escala.