Harry Redknapp é uma das figuras mais controversas do futebol britânico. Recentemente, esteve envolvido no nebuloso escândalo que derrubou o técnico da Inglaterra, Sam Allardyce. Redknapp foi filmado contando que seus atletas apostavam em suas próprias partidas.
Há alguns anos, em seus tempos de Tottenham, era altamente cotado para a seleção inglesa. Seu estilo debochado e falastrão talvez tenha impedido isso, mas ao menos lhe rendeu uma autobiografia memorável.
São inúmeras histórias fantásticas, e o Alambrado lista três delas abaixo. Há quem diga que é tudo invenção, há quem acredite e há quem diga que existe um pouco dos dois. Confira:
Cachorros ajudando em uma transferência
Quando estava no Portsmouth, em 2003, Redknapp fez um teste de uma semana com o zagueiro senegalês Amdy Faye, do Auxerre, em pré-temporada na Escócia. Gostou do jogador, e ouviu do empresário do atleta, Willie McKay, que ele estava disponível para transferência, mas que havia várias outras equipes interessadas.
Alguns dias depois, Redknapp soube que o zagueiro estava voltando para a França. O técnico pegou o carro e correu para o aeroporto. Encontrou o senegalês, que disse estar indo para casa. “Não, Amdy, você não pode ir para casa. Você precisa assinar com o Portsmouth antes. Venha comigo, venha comigo”, forçou o técnico.
Sem entender muito, já que não falava muito inglês, Faye acabou indo parar na casa de Redknapp. Quando chegou à porta, ouviu cachorros latindo. “Cachorros! Eu não gostar cachorros!”, tentou dizer o zagueiro.
“Eles não são cachorros. São bulldogs. São muito mais perversos que cachorros. Metade touro (do inglês, bull), metade cachorro (dog). Se você tentar escapar, eles vão arrancar sua bunda fora”, disparou Redknapp, que disse deixar os cachorros soltos na porta de casa naquela noite. Faye assinou pelo Portsmouth.
A decisão mais errada de sua carreira
Quando estava no Bournemouth, no final dos anos 80, Redknapp foi pessoalmente buscar seu mais novo reforço: o atacante Carl Richards, então no Crystal Palace. Pagou 10 mil libras e esperava o atleta se despedir do seu antigo treinador. Ao seu lado, estava um outro atacante, companheiro de Carl, que aparentava ser muito jovem.
“Pra que você está contratando ele?”, perguntou o rapaz a Redknapp. “Eu sou dez vezes melhor que ele. Fiz 26 gols nesta temporada, ele fez 12. Estou em outro nível. Por que você não me contrata?”, completou, atrevido.
“Não posso contratar você, já estou contratando ele”, explicou o técnico. “Mas vou ficar de olho em você”, prometeu ao jovem – algo que nunca cumpriu.
Redknapp levou poucas semanas para se desencantar com Carl, o atacante que havia contratado. Em suas próprias palavras, o atacante “era horrível”, “inútil” e “a única coisa que sabia fazer, era correr”.
Algum tempo depois, Carl chegou para Redknapp e disse: “Tenho um amigo que estava perguntando se não poderia fazer um teste aqui. Ele é atacante, como eu”. “E ele é bom como você, Carl?”, devolveu o treinador. “Não, não é tão bom como eu. Mas é decente”, respondeu o jogador.
“Então diga para essa p**** parar de me incomodar, c****”, explodiu Redknapp. Curiosamente, no sábado seguinte, o adversário do Bournemouth era o Crystal Palace.”Lembra do meu colega que queria um teste? Ele vai jogar hoje”, disse Carl, no vestiário. “Graças a Deus”, pensou o técnico.
O atacante recusado fez três gols naquele dia. Seu nome era Ian Wright, lendário atacante do Arsenal e do próprio Palace. “Carl não é um bom olheiro”, reconheceu Redknapp mais tarde.
O dia em que um torcedor entrou no jogo
A história mais inacreditável de Redknapp aconteceu na pré-temporada de 1994-95, logo após a Copa do Mundo nos Estados Unidos. Em um amistoso, o West Ham visitou o Oxford City, pequeno time regional da Inglaterra.
A equipe jogava bem e vencia, mas logo atrás do banco de reservas, um torcedor pegava no pé do atacante Lee Chapman a cada toque na bola. Exigia raça do atleta, enquanto ele, pressionado, perdia a bola uma dúzia de vezes e não lutava para recuperar.
No segundo tempo, as provocações continuaram, até mesmo quando Chapman sofreu uma entrada dura de um adversário e foi obrigado a deixar a partida. “Vai tarde”, gritou o jovem. Foi quando Redknapp, que tinha um elenco cheio de lesionados, chegou para ele e perguntou: “Você sabe jogar tão bem quanto sabe falar?”
“O que você quer dizer?”, perguntou o rapaz, incrédulo. “Quer vir jogar? Você acha que joga melhor que Chapman? Então venha aqui”, intimou o técnico. O torcedor, chamado Steve Davies, achou que era piada, mas Redknapp o pegou pelo braço, o trouxe para o gramado e o enviou ao vestiário para trocar de roupa. Davies substituiu Chapman.
As equipes de rádio presentes no estádio não viram o diálogo anterior e não souberam identificar o jogador que estava entrando. Até que um repórter perguntou, e Redknapp emendou: “Você não assistiu à Copa do Mundo? É aquele búlgaro, o Tittyshev”. Tittyshev não existia, mas o técnico aproveitava o sucesso da seleção búlgara para zombar com a imprensa.
Anos mais tarde, Davies – ou Tittyshev – admitiu que, em questão de minutos, já havia igualado o número de bolas perdidas de Chapman no primeiro tempo. “Havia fumado uns 30 cigarros no dia anterior e tomado alguns copos de cerveja antes e durante o jogo”, contou.
O mais inacreditável aconteceu algum tempo depois. Uma bola lançada na esquerda em profundidade alcançou Davies dentro da área, e o “atacante” estava sozinho de frente para o gol. “Foi o melhor chute que eu dei na vida”, lembrou o torcedor, que acabou balançando as redes e correndo para a torcida em êxtase. O West Ham venceu por 5 a 2.
No vestiário, ao término do jogo, Davies foi parabenizado pelos jogadores e pela comissão técnica, e perguntou para Redknapp se iria ganhar um contrato. O técnico apenas riu.