Haiti na Copa América: Pela honra e a memória de Sanon

Haiti na Copa América: Pela honra e a memória de Sanon

Seleção do caribe tenta repetir na Copa América o feito protagonizado pelo ídolo em 1974

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O gol em Zoff na Copa de 1974 colocou o Haiti na história do futebol (Foto: Reprodução)
O gol em Zoff na Copa de 1974 colocou o Haiti na história do futebol (Foto: Reprodução)

A edição especial de centenário da Copa América começa nesta sexta-feira debaixo de alguns olhares desconfiados. Muitos questionam a o valor da competição, que, por diversos aspectos, mais parece movida aos interesses econômicos do que a qualquer homenagem à sua história, começando pela escolha da sede.

Mas nem tudo que envolve o torneio se resume à ausência de grandes estrelas e falta de interesse por parte do público. Pelo menos para uma seleção, a Copa América servirá como uma oportunidade de voltar a aparecer em grande escala.

Quando a bola rolar amanhã no estádio CenturyLink Field, em Seattle, para a partida de estreia contra o Peru, o Haiti terá a chance de acrescentar um capítulo histórico em sua trajetória futebolística, modesta, mas que conta com pelo menos um grande herói.

Falecido em 2008, Emmanuel “Manno” Sanon é o grande baluarte do futebol em um país onde ícones acabam sendo uma espécie de válvula de escape, com o cotidiano marcado pela fome, a pobreza, a violência e desastres naturais.

Sanon iniciou a carreira no Don Bosco, em sua terra natal. Depois de um título nacional e quatro temporadas sendo o destaque da equipe, transferiu-se para o K. Berschoot V.A.C , da Bélgica, onde passou seis temporadas. Encerrou a carreira aos 32 anos no San Diego Sockers, dos Estados Unidos, em 1983.

Mas o ápice da carreira do atleta e também do futebol do Haiti havia ocorrido bem antes disso. A equipe da América Central disputou sua primeira (e até hoje, única) Copa do Mundo em 1974, tendo Sanon como grande referencial técnico.

Sorteada em um grupo difícil, com Itália, Argentina e Polônia, a seleção haitiana não tinha grandes expectativas para o torneio. A mera participação em uma competição de alto nível já parecia suficiente, e as derrotas para os fortes adversário seriam naturais.

Mas logo na estreia, contra os italianos, uma espécie de milagre aconteceu. Na volta para o segundo tempo, um assombro: Sanon partiu em velocidade, superou a zaga na corrida, e driblou o goleiro Zoff, que não havia tomada nenhum gol nos 19 jogos anteriores. Bastou rolar para o gol vazio. O Haiti abria o placar.

O jogo terminaria 3×1 para a Itália, mas Manno já tinha garantido seu lugar na história. Ainda marcaria o outro gol haitiano no torneio, na derrota por 4×1 contra a Argentina na última rodada. Não importavam os placares, a gratidão do povo seria eterna.

Tanto que após sua morte, causada em decorrência de um câncer no pâncreas, o governo do Haiti aprovou o pagamento de uma pensão vitalícia para a família do ídolo.

Voltamos aos dias atuais. No elenco do Haiti, poucos são os candidatos a se tornarem uma espécie de “novo Sanon”. As referências do time são os atacantes Jeff Louis, do Caen-FRA, e Guerrier, do Wisla Krakow-POL, além do goleiro Johnny Placide, do Stade Reims-FRA.

Assim como em 1974, a esperança de consagração do Haiti está em pequenas glórias. Um gol contra o Brasil na segunda rodada, por exemplo, já seria motivo suficiente para festa. Talvez a melhor forma de honrar a memória de Sanon e dar alegria a um povo tão sofrido.

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Jornalista, 23 anos. Amante do futebol bonito e praticante do futebol feio