Qual seria o maior desafio da Copa Libertadores? Alguém pode citar a qualidade técnica dos adversários, honrando as tradições do esporte no continente. Outra pessoa pode dizer que são os campos, muitas vezes pequenos e em más condições de uso. Ou lembrarem da pressão das torcidas rivais, que transformam qualquer cobrança de escanteio em um tormento.
Todos esses fatores se somam na hora de caracterizar o torneio, algo que acaba o tornando até mais charmoso. Mas há outra característica da principal competição da América do Sul que preocupa muito os times mais tradicionais em disputa, fazendo-os literalmente perder o ar: enfrentar adversários que jogam na altitude.
A questão é polêmica e não é de hoje. Tanto que a FIFA chegou a se pronunciar contra a realização de jogos em que a altitude superasse os 2.400 metros acima do nível mar. A ideia seria evitar o popular “Mal da Montanha”, uma condição patológica comum em pessoas expostas a altitudes elevadas. A medida provocou revolta dos clubes sediados em cidades andinas, que lutaram pelo direito de exercer o fator casa e conseguiram reverter a ordem.
Com isso, ainda hoje clubes poderosos de Brasil, Argentina e Uruguai, entre outros, cruzam os dedos em todos os sorteios da Libertadores, torcendo para não serem chaveados contra times que jogam nas alturas. Mas será que o medo do tal “Fantasma da altitude” se justifica?
Pelo menos para os brasileiros, a resposta é sim. O Alambrado fez um levantamento com os resultados de todos os confrontos registrados na Libertadores de times tupiniquins atuando em altitudes acima de 2.400 metros, e o desempenho é pouco animador. Ao todo, foram 109 partidas disputadas, com 50 vitórias dos mandantes, 26 empates e 33 vitórias dos visitantes. Um aproveitamento que beira os 38% dos pontos jogados.
A pesquisa indicou ainda quais clubes brasileiros costumam sentir mais os efeitos das alturas, quais foram os mais “agraciados” com partidas desse tipo, além das cidades mais temidas quando o assunto é altitude. Confira:
Asfixiados
Quanto menor a quantidade de jogos, maior o peso de uma derrota, certo? Isso pode explicar o desempenho zerado de alguns times brasileiros em jogos na altitude. Quatro equipes jogaram apenas uma vez esse tipo de duelo, sempre com derrota: Juventude, Coritiba, Bangu e Guarani. O Botafogo jogou duas vezes, perdendo ambas, contra Deportivo Quito e Independiente del Valle.
Algumas equipes mais acostumadas ao torneio também costumam sofrer bastante, com aproveitamentos considerados baixos. Entre eles, se destacam o Cruzeiro (25% em oito jogos), o Palmeiras (29%, em oito jogos), e o Santos (35,5%)
Fôlego Extra
Indo na contramão da situação anterior, alguns clubes do país jogaram na altitude poucas vezes e se deram bem. Paraná Clube e Sport jogaram nas alturas apenas uma vez cada, saindo com a vitória em ambos os casos. Outra surpresa é o Criciúma, que saiu invicto nos dois jogos disputados, com uma vitória e um empate. O Atlético-MG ganhou duas vezes e perdeu uma.
O Grêmio é outra equipe com bom desempenho, vencendo cinco partidas e saindo derrotado em quatro. Há ainda os casos em que o equilíbrio prevalece. O Flamengo jogou sete vezes, com três derrotas, um empate e três vitórias. Já os rivais paulistas Corinthians e São Paulo têm desempenho idêntico na altitude: ambos jogaram doze vezes, com quatro vitórias, quatro empates e quatro derrotas.
Destinos comuns
Entre as temidas cidades com altitudes, a mais frequentada pelas equipes brasileiras na Libertadores é Quito, situada a aproximadamente 2.800 metros acima do nível do mar. Foram 28 encontros contra os equatorianos nessas condições, com os brasileiros normalmente se dando mal. Foram apenas seis vitórias brazucas na cidade.
Outra cidade bastante frequentada é a temida La Paz, com sua altitude de 3.660 metros. Lá os brasileiros jogaram 24 vezes, vencendo em seis oportunidades. Sorte de times como o The Strongest e o Bolívar, que em seus domínios acabam se tornando muito mais perigosos.
A Cidade do México, que fica no limite da nossa amostragem com seus 2.400 metros de altitude, também já foi visitada pelos brasileiros várias vezes. Foram 17 confrontos, em que os visitantes levaram a melhor em apenas três.